Novo em Folha https://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br Programa de Treinamento Tue, 07 Dec 2021 12:48:26 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Ex-trainee da Folha, roteirista de ‘Verdades Secretas’ diz que jornalismo ajuda a criar ficção https://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/2015/09/25/ex-trainee-da-folha-roteirista-de-verdades-secretas-diz-que-jornalismo-ajuda-a-criar-ficcao/ https://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/2015/09/25/ex-trainee-da-folha-roteirista-de-verdades-secretas-diz-que-jornalismo-ajuda-a-criar-ficcao/#respond Fri, 25 Sep 2015 17:29:59 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/?p=4068 Por Gabriella Beira

 

A novela da Rede Globo “Verdades Secretas”, que termina nesta sexta-feira (25), tem, entre seus roteiristas, um ex-trainee da Folha. Bruno Lima Penido, 37, participou da 33ª turma do Programa de Treinamento, em 2001, sob supervisão de Ana Estela de Sousa Pinto, hoje editora de “Mercado”.

“Entrei no treinamento ainda sob o impacto do 11 de setembro. Era um momento pulsante do jornalismo e cheguei animado, cheio de energia. Eu me inscrevi em uma madrugada, sem pensar muito, e fui passando em todas as etapas até ser escolhido. Isso realmente mudou o rumo da minha vida. Talvez eu tivesse me tornado juiz de direito, se não fosse por esse treinamento”, diz Penido.

Formado em direito, Penido fez três anos de faculdade de jornalismo em Belo Horizonte, onde nasceu. Não terminou porque mudou-se para São Paulo e começou a trabalhar. “Sempre quis ser escritor e jornalista. As duas paixões me acompanham desde pequeno. Costumo dizer que escrevo desde que me entendo por gente e que só me entendo por gente porque escrevo.”

O rooteirista Bruno Lima Penido (Reprodução/ LinkedIn)
O roteirista Bruno Lima Penido (Reprodução/ LinkedIn)

Ainda moleque, decidiu entrevistar Jô Soares. Assistiu a um espetáculo dele e, no final, conseguiu burlar a segurança do teatro. “De repente, me vi num elevador, sozinho com Jô, com um gravador em punho. Foi tão inesperado que dei uma titubeada. Foi o suficiente para Jô elogiar o meu feito e me encher de perguntas fofas, que idade eu tinha, como era o jornal que eu ajudava a fazer, que legal eu ser corajoso de ir atrás dele”, conta.

O apresentador estava com pressa e a única conversa que tiveram foi no elevador. “A fita gravada é absolutamente humilhante. É o tempo todo ele perguntando e eu respondendo”, diz.

Depois do treinamento, Penido trabalhou por quase sete anos na Folha. Foi correspondente em Buenos Aires, repórter de economia, editor-assistente de cadernos especiais, repórter de cidades. “Rodei bastante no jornal, porque sempre gostei de experimentar um pouco de tudo. Fiz manchetes, assuntos sérios, mas também me aventurei escrevendo textos mais leves para ‘Folhinha’, ‘Folhateen’, ‘Ilustrada’ e ‘Esporte’.”

Penido deixou a Folha para ir para a GloboNews, onde “aprendeu a pensar em tempo de reportagem, em vez de espaço”. Migrou para a área de entretenimento, no Projac, onde participou do início do “Estúdio i”, programa de Maria Beltrão.

Já tinha feito cursos de roteiro e, por isso, ficou feliz ao ser transferido para essa área. “O que sempre havia sido apenas um hobby se tornou o meu trabalho de verdade, e o jornalismo ficou de lado”, diz.

Virou roteirista do “Vídeo Show”, acompanhou algumas novelas e, agora, com “Verdades Secretas”, aparece pela primeira vez com o crédito de autor.

Ele diz que sua formação em jornalismo o ajuda no trabalho de roteirista. “Tenho duas sinopses que apresentei à Globo para análise e ambas partiram de um fato real. Novela é ficção, mas a realidade pode ser um bom ponto de partida. O olhar atento para o noticiário funciona como uma fonte de histórias e possibilidades de trama.”

 

Grazi Massafera grava cenas em que sua personagem em "Verdades Secretas", Larissa, se mistura aos usuários de drogas em uma cracolândia cenográfica (Créditos: Marcello Sá Barretto/AgNews)
Grazi Massafera grava cenas em que sua personagem em “Verdades Secretas”, Larissa, se mistura aos usuários de drogas em uma cracolândia cenográfica (Créditos: Marcello Sá Barretto/AgNews)
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Massinha de modelar https://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/2013/12/20/massinha-de-modelar/ https://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/2013/12/20/massinha-de-modelar/#respond Fri, 20 Dec 2013 19:17:06 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/?p=2158 Por Adriana Farias, redatora do caderno “Cotidiano”

 

Pautada para fazer os infográficos do caderno especial “Escolha a Escolha”, a designer Carolina Daffara, 28, estudou os temas que seriam tratados e pensou em um jeito diferente de abordá-los, tanto no impresso quanto no on-line.

 

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Ela escolheu massinha! A mesma que a gente usava na escola para modelar aquela cobrinha desengonçada, mas que todos os pais achavam lindas.

“Como é um caderno especial, tivemos mais tempo para criar do que se fosse uma pauta para o fechamento do dia, e foi isso que possibilitou investir num material como a massa de modelar, que precisa de mais tempo para ser trabalhado do que uma ilustração feita no computador, por exemplo”, conta ela, que é formada em artes visuais pela Unesp.

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Na conversa abaixo, Carolina explica um pouco mais sobre esta criação que teve o objetivo de ajudar o leitor com mais uma fonte de informação.

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Como foi a criação dessas ilustrações com massinha?

Tive algumas ideias de usar materiais relativos à educação infantil e elas resultaram nas massinhas. A partir desta escolha, tive um tempo de adaptação ao material, de testes, de errar um pouco no processo pra chegar até a produção final. Fiz os bonequinhos sozinha, mas tive a ajuda da equipe de fotografia da “Folha” e do “Agora” para passá-los para o papel e alguns colegas também ajudaram com sugestões.

Como foi passar para o papel? Você usou algum software?

Como é uma massinha quase bidimensional, eu scaneei. Depois, fotografei em casa. Mas ficou uma droga, rs. Daí pedi ajuda pro pessoal da foto aqui na Redação. Eles fotografaram com fundo branco, me mandaram as imagens e eu dei uma tratada no Photoshop, mexi mais no contraste, porque para ser impresso o fundo tem que estar branco mesmo, chapado. Se tiver com o fundo meio acinzentado, isso sai na impressão.

Como esse tipo de arte pode enriquecer a reportagem?

Acredito que agrega em diversas esferas do nosso trabalho, pois cria-se mais uma camada de informação. As ilustrações em geral são utilizadas para ambientar o caderno, acrescentar outros dados que não estão no texto, representar as ideias contidas. Se tivesse escolhido outro jeito de ilustrar, isso tudo já seria transmitido, mas, nesse caso, o próprio material usado conversa com a pauta. É uma maneira de enriquecer a informação que está sendo transmitida.

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Veja outras artes em massinha da Carolina, como uma calculadora interativa  para os pais estimarem os gastos com a educação dos filhos e a estrutura de uma escola.

O caderno “Escolha a Escola” foi coordenado e editado pela jornalista Daniela Mercier, com reportagens de Rayanne Azevedo, Úrsula Passos, Sabine Righetti e minhas. O projeto visual é de Clayton Bueno. Veja aqui .

 

 

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A opinião do jornal https://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/2013/11/18/a-opiniao-do-jornal/ https://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/2013/11/18/a-opiniao-do-jornal/#respond Mon, 18 Nov 2013 20:44:12 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/?p=2146 Por Gabriela Terenzi, trainee da turma 56
 
Antes de começar o programa de treinamento da Folha, uma das seções que mais me intrigavam no jornal eram os editoriais.
 
Nas colunas, existe sempre um autor, que é quem responde pelas opiniões emitidas no texto. No caso do editorial, não há uma assinatura. O artigo ali representa a “opinião do jornal”. E como faz pra saber o que um ente jurídico pensa sobre o uso da violência nas manifestações, por exemplo? Aquela seria a opinião do diretor do jornal?
 
Não exatamente. Conversamos com Uirá Machado, atual editor de Opinião da Folha e ex-trainee. Ele é um dos nove responsáveis pela redação dos textos que abrem o jornal, nas colunas da esquerda da página A2. Além dele, colunistas, colaboradores e um editor-assistente redigem os editoriais.
 
O diretor de Redação não escreve editoriais, mas todos os textos passam pelo seu crivo antes de serem publicados.
 
No espaço dos editoriais, os autores não escrevem o que pensam sobre um determinado assunto, mas tentam analisá-lo pelos prismas do projeto editorial e da jurisprudência do jornal.
 
Para saber qual a jurisprudência da Folha, não existe uma constituição. É preciso analisar qual foi a opinião do jornal em uma situação anterior semelhante.
 
Um editorial sobre o caso do Instituto Royal e seus beagles, hoje, deve respeitar o que o jornal já disse em outras ocasiões sobre experimentos científicos com animais.
 
Isso significa que a opinião do jornal é imutável? Não. Há casos em que a Folha já alterou sua jurisprudência, o que, via de regra, deve ser comunicado aos leitores na seção.
 
Algumas das mudanças foram o apoio ao parlamentarismo –que figurou na capa do jornal_, em 1993, e a aceitação de ações afirmativas em universidades, desde que não impliquem reserva de vagas, em 2001.
 
Mais recentemente, a Folha vem caminhando no sentido de apoiar a legalização do consumo de drogas. Se, em 1994, o jornal defendia que “é hora de a sociedade civil passar a discutir (…) os prós e os contras de uma eventual descriminalização do uso das drogas”, em 2011, avalia que “chegou o momento de avançar na matéria, dando novos passos para a legalização” (Veja os editoriais “Drogas às claras” e “Legalizar as drogas”).
 
Por fim e muito importante, o editorial tem a obrigação de ter uma das melhores redações do jornal. O editorialista deve condensar os fatos contados pelo jornal nas várias reportagens publicadas sobre o assunto. A análise deve produzir um bom amálgama entre informações dispersas.
 
Por esse motivo, às vezes demora um tempo para que um determinado tema seja contemplado em um editorial. Significa que “o jornal” ainda está refletindo sobre o assunto.
 
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Trabalho na Redação: Dia 1 https://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/2013/09/10/trabalho-na-redacao-dia-1/ https://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/2013/09/10/trabalho-na-redacao-dia-1/#comments Wed, 11 Sep 2013 00:04:52 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/?p=2077  Por Fabrício Lobel, trainee da turma 56
 
Quarenta minutos depois de entrar em um carro do jornal, estou diante de um terreno com quatro casas. O portão está aberto e diante dele cinco mulheres conversam. O local é o bairro de Itaim Paulista, na periferia de São Paulo. O motivo da minha visita é acompanhar os desdobramentos de uma tragédia familiar. Aquele era meu primeiro dia de trabalho na redação da Folha e tudo o que eu sabia era que uma mãe havia deixado os filhos sozinhos em casa e, enquanto isso, um incêndio consumiu toda a residência e matou uma garota de nove anos e um menino de cinco.
 
Assim que desci do veículo, fui notado como um estranho. Carro com motorista, crachá no pescoço, camisa com mangas dobradas, bloco de anotações na mão. Tudo denunciava minha intromissão. Sem muito jeito, começo a conversar com as mulheres em frente ao portão da casa e descubro que uma delas é avó das crianças. Ela começa a chorar e eu logo penso em como (e se devo) continuar a entrevista. A avó consente em falar. Sigo a disparar perguntas, portanto.
 
Sou convidado a entrar no local do incêndio, avalio mais uma vez minha intromissão, mas sigo corredor adentro até uma pequena casa de três cômodos nos fundos de um terreno com outras três casas igualmente pequenas. Tudo ali é ruína e sujeira. Tento gravar mentalmente o maior número de detalhes possíveis. Saio da casa e converso com vizinhos e parentes. A mãe não está, resolveu se esconder do assédio da imprensa que poderia acusá-la de abandono. 
 
Sigo de carro até a Distrito Policial onde o delegado me recebe e logo abre o jogo: “Apesar do envolvimento da mãe com drogas, não podemos dizer que isso tenha alguma relação com o eventual abandono dos filhos, o que pode vir a ser provado futuramente”, disse sem que eu dissesse nada. Ele me concede cópias do boletim de ocorrência e dos depoimentos da mãe e uma tia das crianças. No depoimento, a mãe admite que não estava em casa no momento do incêndio, que era usuária de cocaína e que havia deixado as crianças sozinhas, apenas pedindo que uma vizinha desse uma olhada nelas.
 
Tento mais uma vez encontrar a mãe, em vão. A família pede que eu respeite o luto deles. Recuo pela primeira vez. Retorno para a redação sem saber como abrir o texto, sobre o que dar destaque. Achei que as informações obtidas haviam sido poucas. 
 
Escrevo uma versão completa do texto, com todas as informações que tinha. Prestes a publicar, uma repórter mais experiente (Fernanda Pereira Neves), se apossa do meu texto, muda tudo e, finalmente, o melhora. Assim, ela me livra de cometer um engano ao colocar no título o que eu havia escrito na última linha. Obrigado a ela.

 
O texto foi publicado aqui.
 

 

 

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Ser xereta e o cadastro de pedófilos https://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/2013/06/13/1913/ https://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/2013/06/13/1913/#respond Fri, 14 Jun 2013 02:02:16 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/?p=1913 A Adriana Farias, que é repórter colaboradora da Folha, conta aqui como foi sua matéria de maior repercussão: Polícia paulista cria cadastro de pedófilos, o primeiro do Brasil.

“Porque o jornalismo é uma paixão insaciável que só se pode digerir e humanizar mediante a confrontação descarnada com a realidade. Quem não sofreu essa servidão que se alimenta dos imprevistos da vida, não pode imaginá-la.

Quem não viveu a palpitação sobrenatural da notícia, o orgasmo do furo, a demolição moral do fracasso, não pode sequer conceber o que são. Ninguém que não tenha nascido para isso e esteja disposto a viver só para isso poderia persistir numa profissão tão incompreensível e voraz, cuja obra termina depois de cada notícia, como se fora para sempre, mas que não concede um instante de paz enquanto não torna a começar com mais ardor do que nunca no minuto seguinte”.


É Gabriel Garcia Marquez… a gente que entrou no jornalismo para mudar o mundo e há quem duvide desse poder, eu nunca duvidei pelo menos. Aquela reportagem de poucas linhas pode ter feito a diferença na vida de alguém, que fez uso daquele conteúdo para transformar a vida de mais outras pessoas e assim por diante. Creio nos leitores, telespectadores e ouvintes que veem no bom jornalismo uma forma de emancipação.

 

Foi assim que aconteceu com o meu primeiro furo de grande repercussão na Folha. “Polícia paulista cria cadastro de pedófilos, o primeiro do Brasil”. Fiquei sabendo do tamanho da repercussão por conta de um e-mail do chefe de reportagem de “Cotidiano”. A reportagem, que ganhou chamada na primeira página, pautou os principais jornais impressos e televisivos do país. Rede Globo, Estadão, Record, Band, O Globo… todos foram atrás da pauta. Passei a receber inúmeras mensagens de ativistas dos Direitos Humanos a respeito.

 

Descobri a pauta de xereta que sou. Durante um plantão em “Cotidiano”, falando com pessoas ligadas à Secretaria de Segurança Pública, descobri uma delegada que trabalhava com pedofilia e que “interrogava” as vítimas em uma brinquedoteca –para as crianças e adolescentes se sentirem mais confortáveis ao denunciar o abuso sexual.

 

Como temas sociais sempre me sensibilizaram muito, fiquei com o nome daquela delegada na cabeça. Mandei um e-mail para mim mesma me lembrando de ligar para ela.

 

Semanas se passaram e aquele e-mail se perdeu dentre tantos outros. No dia que comecei a colaborar com o TV Folha, até por eu ter um currículo em televisão, me lembrei da tal delegada e da tal brinquedoteca, porque também pensei nas imagens que aquele espaço lúdico proporcionaria.

 

Liguei para a delegada para fazer uma apuração inicial. No final da conversa eis que ela me diz: “pois é a delegacia vai completar dois anos, e ela é tão desconhecida e a gente faz um papel tão importante. Estamos com um banco de dados para cadastrar os pedófilos do Estado”. Fiquei extremamente inquieta com aquela informação, fiz algumas pesquisas e vi que realmente eu tinha um furo!

 

Entrevistei vítimas de pedofilia. Chorei com uma delas que é mãe. A investigação do caso estava parada na delegacia há um ano. O inquérito policial seguiu para o Fórum dois dias depois que a Folha pediu posicionamento e a reportagem foi veiculada. Corri para dar a notícia para minha entrevistada. Era Dia das Mães.

 

Nas semanas seguintes, uma leitora, comovida com a reportagem, entrou em contato com a Folha querendo ajudar a família da vítima.

 

Transformar o mundo para mim é isso. É de tijolo em tijolo, de reportagem em reportagem. Às vezes falta cimento para dar solidez, o muro parece que vai ruir, você não tem certeza se deveria ter ficado com aquele tipo de tijolo que te dava segurança e que você já experimentou diversas vezes ou parte para um novo, que proporcione muros mais vibrantes, mas também incertos.

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Uma pauta que chegou pela janela https://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/2012/10/08/uma-pauta-que-chegou-pela-janela/ https://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/2012/10/08/uma-pauta-que-chegou-pela-janela/#respond Mon, 08 Oct 2012 21:42:48 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/?p=1578 Por Miguel Martins, 26, trainee da turma 54

As janelas da minha vida sempre foram pacatas. Das janelas das casas e dos apartamentos em que morei em Brasília, não me recordo de alguma que desse para uma rua movimentada.

Morando em São Paulo, estou experimentando pela primeira vez uma vista “quente”. O apartamento onde estou hospedado dá para a av. Nove de Julho, que liga a zona sul ao centro.

Na madrugada do dia 23/9, tinha acabado de voltar do Pacaembu e estava prestes a ouvir a gravação que fizera da coletiva do técnico Muricy Ramalho, após derrota do Santos para a Portuguesa por 3 a 1. Foi então que, mesmo com os fones no máximo, ouvi um estrondo. Vinha da minha janela.

Miguel Martins/Folhapress
O Toyota Corolla bateu na traseira de uma Pajero, capotou, e quase atingiu um prédio na av. Nove de Julho

Um carro acabara de capotar do outro lado da Nove de Julho, quase atingindo um prédio. Em poucos segundos uma multidão se aglomerou para socorrer o motorista. Eu, perplexo, decidi descer. Meu primeiro instinto foi de ajudar, mas sabia que o acidente, pelo impacto visual, podia se tornar uma pauta. Tinha a estranha sensação de estar descendo pelos dois motivos.

O conflito pessoal desapareceu quando cheguei no local e vi que o motorista do Toyota Corolla capotado estava consciente e bem. Ao sair do carro, algumas pessoas próximas passaram a ironizar o garoto, que não tinha mais de 20 anos de idade. Segundo uma das testemunhas, ele teria cortado quatro carros em alta velocidade antes de bater na traseira de uma Pajero.

Um dos mais nervosos era o motorista da Pajero. Contei pra ele que havia visto o acidente da janela do meu apartamento. Depois, revelei de forma constrangida ser jornalista da Folha. A minha falta de experiência atrapalhou. Ele até se propôs a responder minhas perguntas, mas estava tão agitado que logo se afastou.

Tentei apurar com os policiais. Me apresentei como repórter para o mais tímido deles. Ele me apontou para seu colega, responsável pela ocorrência. Este me apontou para um terceiro policial, que “cuidava da imprensa”.

O sargento me atendeu com certa rispidez. A toda pergunta, dava uma resposta pronta, como “esse tipo de comportamento dos motoristas sobrecarrega o trabalho da polícia”. Não me deu muitas informações. Quando fui pedir os nomes dos envolvidos, me cortou e tocou para a delegacia.

Pedi autorização para tirar uma foto. Sabia que, dada minha apuração amadora, minha nota só teria chance de ser publicada pelo apelo visual de um carro invadindo um jardim de um prédio. O lado “voyeur” da minha pauta tinha seu motivo: tudo começara na janela.

Antes da televisão, as janelas não eram, como escreveu João do Rio, “caleidoscópios da vida”, um local para observar a cidade funcionando – ou deixando de funcionar?

Em São Paulo, a minha janela é indiscreta.

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Cobrir jogo não é para qualquer um https://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/2012/09/24/cobrir-jogo-nao-e-para-qualquer-um/ https://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/2012/09/24/cobrir-jogo-nao-e-para-qualquer-um/#comments Mon, 24 Sep 2012 20:15:04 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/?p=1511 Por Rafael Andery, 23, trainee da turma 54

Na tarde do domingo passado (23/9), comi três pequenos sanduíches de salame com queijo, dois sanduíches de presunto e bebi uns quatro copos de água mineral. O cardápio parecia com o menu da festa de aniversário daquele seu primo mais novo, mas, na verdade, eram os quitutes oferecidos no espaço destinado à imprensa no estádio do Morumbi. Não me fiz de rogado.

Além da boca livre, algumas outras coisas agitavam o ambiente do Cícero Pompeu de Toledo naquele dia. São Paulo e Cruzeiro jogavam na 26ª rodada do Campeonato Brasileiro de 2012. Além disso, o time da capital apresentaria, para seu torcedor, o meia Paulo Henrique Ganso.

E lá estava eu. Fui acompanhar o trabalho de um repórter da Folha em dia de jogo. Como aficionado pelo esporte e membro da liga amadora dos comentaristas de sofá, sentia-me plenamente preparado para a tarefa. Ledo engano.

Ao longo do dia, o repórter que acompanhávamos escreveu duas matérias grandes, uma sobre o jogo e a outra sobre a apresentação de Ganso. Além disso, fez a ficha técnica da partida, mandou textos para a versão on-line do jornal e acompanhou duas entrevistas coletivas, uma antes e outra após o confronto. Eu, enquanto isso, comi cinco sanduíches.

Após o jogo, até consegui falar com o atacante Osvaldo, do São Paulo, autor do único gol do confronto. Ele estava saindo do vestiário sozinho e os repórteres de rádio não davam muita atenção ao atleta. Na minha opinião, ele havia sido o homem da partida. Ademais, com a chegada de Ganso, provavelmente será Osvaldo o jogador sacado da equipe titular.

Falei tudo isso para o garoto, que mal parou para me ouvir. “É continuar trabalhando, espero estar evoluindo a cada jogo, e isso vai ser mais uma dor de cabeça pro Ney Franco”, foram as palavras que vocês não leram no jornal de segunda. Entrevistar jogador de futebol é difícil. 

Moleza, no entanto, se comparado a tentar assistir ao jogo do seu time de coração sem demonstrar maiores emoções. Já devo ter ido ao Morumbi, no mínimo, umas 50 vezes. Essa foi seguramente a única em que não soltei comentário menos elogioso à mãe do árbitro da partida.

Tratar futebol com profissionalismo é um pouco chato. Medir palavras, ser comedido nas opiniões, imparcial nas análises, tudo isso tira muito a graça do esporte.

Quando Ganso entrou na sala de imprensa e ficou a poucos metros de mim, minha vontade era de levantar e dar um sincero abraço no garoto paraense. Em vez disso, fiquei transcrevendo suas frases para meu bloquinho de notas. Na hora do gol do São Paulo, meu mundo veio abaixo. A torcida inteira gritando e pulando e eu lá, sentado com meu sanduíche de presunto.

Meu respeito aos jornalistas esportivos. Fazer da paixão uma profissão não é para qualquer um.

 

Sala de imprensa do estádio do Morumbi (estou na terceira fileira, no meio, de camiseta azul marinho e cabeça baixa) [foto: divulgação]
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O registro de uma calamidade https://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/2012/08/10/o-registro-de-uma-calamidade/ https://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/2012/08/10/o-registro-de-uma-calamidade/#respond Fri, 10 Aug 2012 12:00:09 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/?p=1283 E quando você vê alguém se humilhando, numa cena triste e angustiante, e tem que bloquear o susto da mente e, com frieza, registrar tudo o que está acontecendo? Você sabe que é importante agir de forma profissional, porque a repercussão daquela foto pode trazer consequências muito mais importantes do que alguma ação residual e emotivo de uma pessoa. Esse tipo de angústia é ainda mais comum aos fotógrafos e não é rara em situações de calamidade ou de guerra.

DANILO VERPA, repórter-fotográfico da Folha, registrou um desses momentos, na foto abaixo:

Na ótima seção “Histórias por trás da câmera“, do Facebook da Folha Fotografia, Danilo conta como foi aquele dia de trabalho:

“Depois de 15 minutos percorrendo as ruas enlameadas, vi uma movimentação de cerca de 20 pessoas se espremendo em um pequeno portão. Havia diversos alimentos jogados no chão e as pessoas se amontoavam para tentar pegar os restos de enlatados, caixas de leite, pacotes de bolacha e outros produtos cobertos por lama que haviam sido varridos pelos funcionários do mercado.

O cheiro de lodo misturado com comida estragada era horrível. Entrei pela porta estreita e comecei a registrar o desespero e a humilhação daquelas pessoas. Todos estavam sujos de lama. Foram 10 minutos de fotos até que todos os alimentos se acabassem. Do lado de fora, outras pessoas ainda tentavam encontrar o resto do resto.”

CLIQUE AQUI para ler tudo. Vale a pena 😉

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A cobertura da madrugada e o caso Eloá https://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/2012/07/05/a-cobertura-da-madrugada-e-o-caso-eloa/ https://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/2012/07/05/a-cobertura-da-madrugada-e-o-caso-eloa/#respond Thu, 05 Jul 2012 12:00:33 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/?p=1199
Eduardo Anizelli/Folhapress

Com quatro meses de atraso, publico hoje um post atendendo ao pedido da leitora Verônica, de Brasília.

Ela se acha muito mais produtiva à noite e, por isso, pediu que postássemos algo sobre o trabalho dos repórteres da madrugada.

Na Folha temos uma repórter plantonista da madrugada, que fica na Redação, e um repórter fotográfico, que fica nas ruas da cidade.

Já falamos aqui sobre o APU GOMES, quando ele era repórter-fotográfico da madrugada e retratava a Cracolândia.

Hoje vou trazer o relato do atual repórter-fotográfico da madrugada, o EDUARDO ANIZELLI, que começou nesse horário em janeiro, em plena operação policial na Cracolândia.

Diz ele:

“Desde então, tenho feito muita coisa enquanto parte da cidade dorme. São casos como acidentes de trânsito, assassinatos, bailes funk, resgates, apreensões feitas pela policia, entre outras pautas já programadas pela redação. Em sua maior parte são assuntos quentes que muitas vezes começam na madrugada e repercutem o dia todo, quando não por dias.”

Mas a história que mais o marcou aconteceu em 2008, quando ele cobria as férias do Apu. Foi o drama do sequestro de Eloá e Naiara, que ele acompanhou por horas a fio, na tensão de esperar pela foto perfeita:

“Lembro-me como se fosse hoje. Eu na Marginal Pinheiros fazendo o rescaldo de um protesto de moradores, quando tocou meu telefone. Era a repórter da Agência Folha na madrugada. Ela disse que precisava ir correndo para Santo André porque um homem estava mantendo refém a namorada e os amigos dela desde o fim da tarde daquele dia. Cheguei no conjunto habitacional onde Eloá Cristina Pimentel morava por volta da 1h da madrugada do dia 14, na madrugada de terça-feira, sem imaginar o que estaria por vir. Quando cheguei, descobri que o sequestrador, Lindemberg, teria soltado alguns amigos e mantido a namorada e uma amiga no apartamento.

Não tinha o que fotografar, então fiz a movimentação dos policiais do GOE (Grupo de Operações Especiais). A noite passou e nada de Lindemberg se render. O dia clareou e pela manhã liguei para a redação contando a história e pedindo a rendição. Enquanto o fotógrafo que iria me render não chegava dei um jeito de chegar mais próximo da janela onde a menina era mantida refém e fiz fotos dela com o sequestrador, além de sua amiga Naiara com o Lindemberg. Foi quando um policial militar se aproximou de nós pedindo para a gente se afastar, pois Lindemberg estaria nervoso e pedindo para a gente sair de perto. Segundo o policial a gente teria que fazer o que ele queria e, se isso não acontecesse, o sequestrador iria atirar em nós. O policial mal acabou de falar e Lindemberg colocou a arma para fora da janela do banheiro já atirando. Por nossa sorte a distância ainda era longa para conseguir acertar alguém. Virou uma correria danada entre os jornalistas e curiosos que estavam por ali.”

Leiam tudo AQUI. Vale a pena demais, principalmente pelo suspense do final 😉

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Coisas que aprendi com a marcha contra a corrupção https://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/2012/05/10/coisas-que-aprendi-com-a-marcha-contra-a-corrupcao/ https://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/2012/05/10/coisas-que-aprendi-com-a-marcha-contra-a-corrupcao/#respond Thu, 10 May 2012 13:31:36 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/?p=948 O relato abaixo é do trainee Pedro Ivo Tomé, sobre uma matéria que ele não planejava fazer: se viu “no meio da notícia” e aproveitou para apurar e aprender. Como diria um antigo professor meu de jornalismo, ele não desviou da notícia.

Voltando da Folha, escutei, ao fazer a baldeação no metrô Consolação, palavras de ordem e muito barulho vindos da avenida Paulista. Era a marcha contra a corrupção, do dia 21/04. Ir para casa ou ficar? Lembrei-me de um dos mantras do livro da Ana Estela, ‘Jornalismo Diário’: jornalista tem que se interessar por tudo. Sempre. Decidi subir as escadas e testar.

Por sorte, estava com a câmera de filmar e o gravador, ambos emprestados pelo jornal para fazermos nossos exercícios. Fui acompanhando a marcha e, depois de superar a timidez inicial, gravei entrevistas com alguns dos organizadores do evento.

Gravar, anotar as principais aspas, prestar atenção no que está sendo dito, pensar na próxima pergunta no meio da manifestação e andar com a barulheira, tudo isso ao mesmo tempo, me fez perceber como é difícil ter munição para elaborar boas perguntas quando não se planeja cobrir um evento do tipo, como era meu caso.

Para coroar o absolutismo do meu despreparo de foca, comecei a fazer um vídeo dos primeiros acirramentos entre os manifestantes e a polícia. Aprendi que manter o controle ao gravar em uma situação de conflito é fundamental, por uma simples razão: eu estava no meio dos manifestantes quando escutei os tiros de borracha e acabei soltando os palavrões mais cabeludos da última flor do Lácio. Resultado: perdi um bom vídeo por causa das besteiras.

Lições aprendidas: a) ande sempre com o bom e velho “power trio” na mochila – câmera, gravador e bloquinho – ou compre um smartphone, se seu orçamento permitir; b) planejamento para fazer boas perguntas é fundamental; c) em situações de conflito, principalmente ao gravar, seja como o bife do ‘bandejão’ da USP: frio, duro e com nervos de aço (e mudo!).

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