A opinião do jornal
aballes
Por Gabriela Terenzi, trainee da turma 56
Antes de começar o programa de treinamento da Folha, uma das seções que mais me intrigavam no jornal eram os editoriais.
Nas colunas, existe sempre um autor, que é quem responde pelas opiniões emitidas no texto. No caso do editorial, não há uma assinatura. O artigo ali representa a “opinião do jornal”. E como faz pra saber o que um ente jurídico pensa sobre o uso da violência nas manifestações, por exemplo? Aquela seria a opinião do diretor do jornal?
Não exatamente. Conversamos com Uirá Machado, atual editor de Opinião da Folha e ex-trainee. Ele é um dos nove responsáveis pela redação dos textos que abrem o jornal, nas colunas da esquerda da página A2. Além dele, colunistas, colaboradores e um editor-assistente redigem os editoriais.
O diretor de Redação não escreve editoriais, mas todos os textos passam pelo seu crivo antes de serem publicados.
No espaço dos editoriais, os autores não escrevem o que pensam sobre um determinado assunto, mas tentam analisá-lo pelos prismas do projeto editorial e da jurisprudência do jornal.
Para saber qual a jurisprudência da Folha, não existe uma constituição. É preciso analisar qual foi a opinião do jornal em uma situação anterior semelhante.
Um editorial sobre o caso do Instituto Royal e seus beagles, hoje, deve respeitar o que o jornal já disse em outras ocasiões sobre experimentos científicos com animais.
Isso significa que a opinião do jornal é imutável? Não. Há casos em que a Folha já alterou sua jurisprudência, o que, via de regra, deve ser comunicado aos leitores na seção.
Algumas das mudanças foram o apoio ao parlamentarismo –que figurou na capa do jornal_, em 1993, e a aceitação de ações afirmativas em universidades, desde que não impliquem reserva de vagas, em 2001.
Mais recentemente, a Folha vem caminhando no sentido de apoiar a legalização do consumo de drogas. Se, em 1994, o jornal defendia que “é hora de a sociedade civil passar a discutir (…) os prós e os contras de uma eventual descriminalização do uso das drogas”, em 2011, avalia que “chegou o momento de avançar na matéria, dando novos passos para a legalização” (Veja os editoriais “Drogas às claras” e “Legalizar as drogas”).
Por fim e muito importante, o editorial tem a obrigação de ter uma das melhores redações do jornal. O editorialista deve condensar os fatos contados pelo jornal nas várias reportagens publicadas sobre o assunto. A análise deve produzir um bom amálgama entre informações dispersas.
Por esse motivo, às vezes demora um tempo para que um determinado tema seja contemplado em um editorial. Significa que “o jornal” ainda está refletindo sobre o assunto.