Os perigos de uma história única

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Por Stefanie Carlan da Silveira, trainee da turma 56
 
Já passou pela cabeça da maioria das pessoas certamente. Se não passou, deveria. Quem algum dia na vida já foi vítima de algum mal entendido, alguma injustiça ou pré-julgamento sem dúvida colocou o tema em consideração. O ponto que estou querendo trazer à discussão são os muitos lados e fatores que envolvem uma história e nem sempre vem à tona quando é preciso.
 
Pessoas são julgadas o tempo todo e em todas as instâncias da vida. Começando pelo âmbito mais comum, alguém pode ser feio, gordo, rico, playboy, vagabundo, ignorante, marginal, entre outros tantos possíveis adjetivos. Os conceitos são atribuídos diariamente em qualquer circunstância, no trabalho, no metrô, no ônibus, no supermercado, no elevador, no parque. Dificilmente antes de atribuir um predicado ao sujeito vem à mente a pergunta: quais serão as circunstâncias extremamente particulares da sua vida que o fizeram assim? Se estes questionamentos aparecessem previamente certamente o raciocínio pararia aí e o complemento do nome próprio iria se perder no ar.
 
O fato é que tomamos para nós a obrigação de sempre ter opiniões e julgamentos formados rapidamente sobre tudo e nem nos damos ao trabalho de ir em busca das reais questões que envolvem o tema de que estamos tratando. Indo além no raciocínio, muito pior do que não levar os fatos em consideração no cotidiano de atividades comuns é fazer isso quando somos responsáveis por levar às pessoas materiais que as façam pensar e colocar seus julgamentos em debate. Para ser jornalista precisa ter o olhar mais aberto e mais questionador.
 
Num dos vídeos de palestras promovidos pelo TED (organização sem fins lucrativos que promove conferências para a divulgação do conhecimento), a escritora nigeriana Chimamanda Adichie conta a história sobre como ela encontrou sua autenticidade cultural e alerta para quando contamos algo a partir de um único ponto de vista. Ela fala sobre os livros de literatura que lia na infância e traziam apenas uma visão de mundo -a inglesa- acabaram fazendo com que ela tivesse uma visão de mundo diferente da sua realidade africana. Chimamanda também coloca em discussão a visão que o mundo tem do continente africano e até que ponto isso é verdadeiro.
 
 
 
Os lugares onde moramos, nossas vidas, nossas culturas, nossas histórias são compostas por tantos caminhos, opiniões, influências, obstáculos etc. que contar alguma coisa a partir de apenas um ponto de vista é pífio e reduzido. Uma reportagem, por exemplo, precisa ter o cuidado para ouvir sempre todas as partes envolvidas no processo, e acredite, são geralmente bem mais do que dois lados. Não é para ser imparcial, é para ser ético e bom profissional.
 
Estereótipos, senso comum, opinião formada, fuja disso tudo e escreva um texto para se orgulhar.