Mais Desafio GREAT

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Leia abaixo o texto de Stefanie Carlan da Silveira, uma das participantes do Desafio GREAT, e continue acompanhado a viagem pela hashtag #desafioGREAT nas páginasUKinBrazil e UKBrasilSeason no Facebook e Twitter.

 

O futuro não é mais como era antigamente

Voltou-se a fazer história no Brasil. Os jovens saíram de casa para reivindicar direitos e desta vez saíram em massa. Mas quem vai musicar a nossa reabertura do século 21? Na década de 1980, no momento em que o Brasil se abria para o fim da ditadura militar, fortemente influenciados pela contracultura do Reino Unido os jovens de Brasília faziam nascer o rock por lá, trazendo nomes como Capital Inicial, Legião Urbana e Plebe Rude. Agora, há os movimentos dispersos e diversos que saem da internet, mas ainda não se sabe quem vai colocar riffs de guitarra na geração Coca-Cola e Mentos.

Os grupos da capital do país eram fruto de uma combinação de fatores do momento vivido pelo Brasil e da influência que chegava da terra da rainha. Filhos de bem afortunados que mudavam para a cidade promessa do Centro-Oeste apostaram primeiro nas guitarras esganiçadas do Sex Pistols e The Clash e depois no pós-punk melancólico de The Smiths, The Cure e Joy Division. A professora e pesquisadora de subculturas da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), Adriana Amaral, acredita na interligação entre rock britânico e o brasileiro.

– O rock que foi importado e transposto pra cá é o britânico e não o norte-americano, ao menos no que tange ao punk e pós-punk, porque o punk dos EUA é diferente, ele é menos existencialista e mais divertido, como o dos Ramones. Essa relação se dava porque eles traziam os vinis e muitos deles moraram em Londres. Claro que a genialidade do Renato [Russo, vocalista do Legião Urbana] foi saber transpor isso pro contexto nacional – explica.

O músico, escritor e radialista Márcio Grings reitera e amplia a questão da influência.

– Sem dúvida Beatles e Stones pautaram o rock e fundamentaram as raízes de quase tudo que ouvimos hoje. Mais adiante, bandas como Led Zeppelin, Deep Purple e Black Sabbath redefiniram as regras do jogo – conclui.

Entretanto, o Reino Unido, diferentemente do Brasil, seguiu renovando sua cena rock’n roll. O músico e produtor Iuri Freiberger acredita que não há impacto similar brasileiro em comparação aos destaques que estão atualizando a música por lá. Para ele, grupos discopunk como Bloc Party, Franz Ferdinand e Artic Monkeys são os expoentes da nova geração musical da Grã-Bretanha.

– Vamos ser realistas: mercado indie no Brasil é uma doce ilusão que foi sustentada por um período nos anos 2000, por uma parcela de pessoas que levaram esse desejo de fazer rock e afins de maneira amplificada, mas com realmente pouquíssimos artistas de qualidade e que mantinham um trabalho consistente. No universo indie brasileiro, só vejo um caso, o Autoramas, que nas suas turnês europeias já fez alguns shows históricos.

Na tentativa de entender o cenário atual, Freiberger diz que as particularidades do Brasil muitas vezes impedem que as bandas daqui ganhem as mesmas dimensões e qualidades artísticas que as de lá.

– Indie/rock no Brasil é em geral algo relacionado ao desejo de criação, que pessoas da classe média/alta resolveram fazer porque sentiam que tinham proximidade com seus ídolos. Eu mesmo e centenas de músicos que conheço têm essa mesma sensação. Porém, o trabalho com música no Brasil é algo que só se concretiza fazendo o que não gostamos. Poucos têm a chance de seguir dentro do seu desejo/sonho e ter uma vida como os demais trabalhadores.

O cineasta Vladimir Carvalho, diretor do documentário Rock Brasília, tem opinião semelhante a Freiberger. Para ele, o rock estabilizou por meio da nostalgia dos anos 1980.

– O rock brasileiro não encontra mais eco para renovação. Existe uma disposição de fazer música, mas o rock existe como algo apenas consumível; a tensão desse gênero não está mais lá. Vivemos hoje uma grande expectativa do que será do rock no futuro.

O que aconteceu com a onda criativa que estava por aqui? Após anos de liberdade civil, não estaria na hora de a juventude reunir seus power trios e começar a cantar o Brasil de 2013?