FRONTEIRAS ARTIFICIAIS
Por Miguel Martins (trainee da turma 54)
No último dia 10, o colunista da Folha Fernando Rodrigues trouxe à tona a aprovação no Senado do Projeto de Lei 368/2009, que quer restringir aos graduados em história o exercício da profissão de historiador (“Historiador? Só com diploma”, Opinião).
Se aprovado na Câmara, antropólogos, sociólogos, economistas, cientistas políticos e jornalistas não poderão dar aulas dessa disciplina em escolas e faculdades, nem participar da produção de seu material didático.
Sou formado em história pela UnB, e dei aulas por um tempo razoável. Quando comecei, aos 18 anos, me colocaram como assistente de um professor. Ele era formado em história, mas dava aulas de filosofia.
Era um cara genial, que articulava com liberdade o conhecimento humano, discutindo civilização Maia com Subcomandante Marcos, Molière com Antigo Regime e a diferença entre os rituais de sacrifício da Grécia Antiga e os dos povos pré-colombianos.
Os alunos, de 15 ou 16 anos, não entendiam muita coisa, mas ficavam impressionados com suas “aulas-espetáculo”, que lembravam as de Ariano Suassuna. Eram aulas de filosofia? Difícil de dizer. Mas ajudavam a pensar na humanidade e seus fundamentos últimos.
Depois de uns 3 anos, me tornei professor de filosofia em um curso pré-vestibular. Me esforçava para ensinar Heidegger ou Hegel para minhas turmas, e aos poucos fui conseguindo falar a língua deles (a dos alunos e a dos filósofos). Passou a ser um prazer maior do que as próprias aulas de história.
Agradeço a ausência de leis na época que me proibissem de ser professor de filosofia em um curso pré-vestibular. Dificilmente teria outra oportunidade de levar tão a sério seu estudo. É uma disciplina em que a “disciplina” exigida está na construção lógica do discurso, e não na exclusão dos cidadãos leigos. O “amor ao conhecimento” é para todos.
Não defendo uma anarquia interdisciplinar. Acredito que, “a priori”, O melhor professor de história será o historiador, e o de filosofia, o filósofo. Mas um colégio ou faculdade, sejam públicos ou privados, devem ter o direito de avaliar se um profissional que venha de uma disciplina distinta da que leciona está apto ao trabalho. Não é para isso que existem coordenadores, supervisores, diretores, reitores?
O mesmo raciocínio serve para a carreira jornalística. Estou fazendo o Curso de Jornalismo Diário da Folha, sem ter diploma de jornalista. A Proposta de Emenda Constitucional 033, que quer restringir a profissão aos que são graduados na área, segue caminho semelhante (mas com peso constitucional) ao do PL 368/2009.
É estranho constatar que o sindicato dos jornalistas e o dos historiadores estejam investindo mais no corporativismo e menos no diálogo. Os melhores historiadores falam da importância das perguntas que o presente faz ao passado. Os melhores jornalistas falam da necessidade de uma base histórica para aqueles que trabalham em Redações. Leis restritivas podem, antes de regulamentar profissões, empobrecê-las, levantando barreiras desnecessárias à troca de conhecimentos e informações.
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É uma tradição cartorialista embrenhada em nossa cultura. Além do citado corporativismo.
Eu acho que, tirando talvez medicina e engenharia, não deveria haver exigência legal do diploma para o exercício das profissões. Apenas a responsabilidade geral pelas consequências. O diploma não seria inútil, se as universidades formassem profissionais melhores, naturalmente eles seriam mais procurados.
Mas tem o problema de, em havendo algumas profissões regulamentadas, profissionais de outras áreas acabem expostos a sanções abusivas por parte dos órgãos das regulamentadas.
A regulamentação da profissão de biólogo, em boa parte, surgiu pela ameaça do sistema Confea/Crea aos biólogos botânicos e geneticistas por “exercerem ilegalmente” atribuições de engenheiros agrônomos.
E mesmo, uma vez organizados, a luta corporativa continua. Como a lei do ato médico, com o sistema CFM/CRMs tentando restringir as ações de outros profissionais no que consideram invasão de atribuição.
[]s,
Roberto Takata
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Outra: não existe diploma de jornalista, historiador, filósofo, sociólogo. É preciso usar, pra início de conversa, a denominação correta para não criar confusão.
sou formado em filosofia e, o dia que eu aceitar o título de filósofo, é porque perdi a vergonha na cara. Historiador e professor de história são figuras diferentes e muito importantes. Nesse país a gente gosta mesmo é de papel. O negócio é deproma pra todo lado. Projeto vergonhoso. É muita falta de uma enxada e um lote sujo.
Gostei bastante desse seu post. Concordo plenamente. Não vejo razão impor esse limite ao cidadão que deseja atuar no campo da História. É óbvio que, quando realizado concurso público, o título habilitador deve ser exigido, mas que necessário. Portanto, qual o sentido da limitação para quem deseja escrever sobre algum tema e histórico e não é formado na área? Nenhuma.