Olhos de criança
Por Joelmir Tavares, 23, trainee da turma 54
“De tubo???”, perguntou a menina, com carinha de interrogação, após ouvir uma comparação que mais complicou do que explicou.
A garota fazia parte de um grupo de estudantes com mais ou menos seus seis ou sete anos de idade que visitavam a Redação da Folha na semana passada.
Gosto de observar os meninos e meninas que, com ouvidos atentos e olhinhos brilhando, escutam os guias que expõem o funcionamento do jornal.
Encontrei as crianças no momento em que o orientador mostrava a elas, em molduras na parede, duas capas históricas: a da eleição de Barack Obama e a da morte de Ayrton Senna.
Para exemplificar a diferença na qualidade gráfica entre as duas páginas, o guia disse que era como se uma tivesse a imagem de uma TV com tela de LCD e a outra, de tubo.
Ao ouvir a expressão vinda do século passado, a meninada imediatamente cobrou explicação.
Tentei ajudar, intrometendo-me na conversa e mostrando, com a ajuda das mãos, que o rapaz falava “daquelas televisões bem grandes, não das fininhas”.
As expressões de dúvida revelaram que os representantes da geração anos 2000 nem tinham ideia do que eu estava falando. Mas, no fim, acabaram entendendo que a evolução tecnológica fez a capa de 2008 ter mais nitidez que a de 1994.
Outra garotada, a que escreveu as reportagens da edição da “Folhinha” em homenagem ao Dia da Criança, demonstrou também estar afiada na arte de interrogar.
Elas não tiveram vergonha de fazer as perguntas que parecem óbvias. É um alerta para nós, jornalistas, que às vezes nos estrepamos por não perguntarmos o elementar.
Saber de um político envolvido em denúncias se ele se considera culpado ou inocente é fundamental.
Pedir à testemunha de um acidente que relate com detalhes tudo o que viu pode fazer a diferença na apuração.
Na correria do dia-a-dia e no afã de lançar perguntas que soem inteligentes, esquecer-se do básico pode ser mais comum do que parece.
Que outras lições podemos aprender com os pequenos? Muitas.
Por exemplo: não se contentar com a primeira resposta, se houver qualquer indício de dúvida. Repórter que passa incompreensão adiante deixa de cumprir seu papel.
Outra qualidade infantil desejável para quem se propõe a informar a sociedade é ser curioso. Tem que fuçar, desconfiar, meter o nariz onde não é chamado.
Podemos aprender com as crianças a sermos mais objetivos e menos vaidosos. E, como lembrou a editora da “Folhinha”, Laura Mattos, ao comentar o trabalho dos repórteres mirins, empolgar-se com o trabalho já é um grande começo.
Adorei o post 🙂
Joelmir, muito bom. Serviu como puxão de orelha para mim, estudante de jornalismo.
Parabéns! Observar o modo como uma criança interpreta o mundo à sua volta é um critério importante para que tenhamos um exemplo de simplicidade, objetividade e iniciativa.