A arte de perguntar

Paula Leite

Por Gabriela Bazzo, 23, trainee da turma 54

Nem todas as perguntas do mundo são suficientes para um jornalista. Do alto da minha inexperiência, fui convocada pela Folha para dar um passeio pela zona sul de São Paulo. Dia sete de outubro, eleições municipais. Minha missão era andar pelas principais zonas eleitorais e captar o “clima” da disputa. Olhos bem abertos e muita sola de sapato para gastar. De vez em quando falta é malícia.

Minha primeira parada foi na Escola Estadual Professor Carlos Ayres. Os policiais que faziam a segurança do local foram claros: “a eleição está super tranquila, até agora não registramos nenhuma ocorrência”. Era meio-dia. No outro portão, uma senhora estranhou meu empenho em procurar por problemas. “Queria que tivesse alguma coisa errada, é?”

Já lamentando minha falta de sorte fui subindo a rua, forrada de panfletos. Eis que, a 90 metros da porta da escola, um candidato vem me pedir votos pessoalmente. Essa e todas as abordagens boca de urna renderam um bolso cheio de santinhos e, junto com meus colegas Giuliana e Gastón, duas matérias escritas pelos jornalistas Cassiano Machado e Laura Capriglione (as matérias estão aqui e aqui).

Quando voltei para a redação, no entanto, percebi que não tinha feito todas as perguntas que deveria. E olha que, curiosa que sou, havia perguntado bastante. Esse é um aprendizado diário no trainee da Folha. É bem comum que depois de desligar o telefone após falar com uma fonte, lembremos de várias perguntas que não foram feitas. E lá vamos nós de novo…

Pesquisar muito antes de sair para uma pauta, pensar em todas, ou quase todas, as perguntas possíveis e imagináveis, estar com o bloquinho sempre a postos (mesmo que a entrevista seja gravada). E, muito importante, se possível, ter o contato do entrevistado. Por melhor e mais completa que a entrevista tenha sido, vão surgir furos na apuração (se você não encontrá-los, seu editor certamente vai) e conversar novamente com a fonte pode ser decisivo na hora de derrubar ou não a matéria.

Nosso texto foi publicado. Se eu fosse para a rua de novo faria muita coisa diferente e, com certeza, milhares de outras perguntas. As minhas falhas de apuração, dessa vez, não se tornaram grandes problemas. A matéria era pequena e meu papel foi de colaboradora. Junto com a expectativa de ver nosso trabalho impresso no jornal veio o aprendizado. E a sensação de que as perguntas nunca terminam.

Comentários

  1. Já passei por situação semelhante e o contato com a fonte foi decisivo para não cair minha pauta. Acredito que seja um exercício diário e um desafio que vamos enfrentar por toda a vida…

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