O que ele disse?
Por Juliana Gragnani, 21, trainee da turma 54
O que fazem os trainees da turma 54 assistindo a gravações de discursos de Hitler, Steve Jobs, Chávez e Adele? Ou melhor, por que prestam atenção aos punhos do ditador alemão, ao arquear das sobrancelhas do falecido fundador da Apple, à fala sibilante do presidente venezuelano ou aos ombros da cantora britânica?
No livro “A psicopatologia da vida cotidiana”, de Sigmund Freud, publicado em 1901, o fundador da psicanálise descreve o fenômeno do ato falho. Segundo Freud, esse “ato” seria um erro na fala ou ação física que revelaria elementos escondidos no inconsciente.
Menos baseados na psicanálise e mais embasados pelas orientações de Gustavo Romano, coordenador do blog Para entender direito e professor de Direito do Treinamento, os trainees têm analisado a forma do discurso. O exercício proposto por nosso professor chama-se “O que ele disse?” e tem como objetivo aprimorar nosso olhar e percepção, como jornalistas, sobre futuras fontes ou potenciais entrevistados.
Todas as semanas, então, escolhemos um vídeo e focamos nos gestos, na maneira de falar, nas expressões, postura, tiques, ênfase nas palavras e até nas pausas feitas pelos oradores. Temos a liberdade de escolher “do Dalai Lama ao Deep Purple”, nas palavras de Romano, contanto que foquemos na forma e, se mencionarmos o conteúdo, que este seja relevante à análise formal.
Nosso professor nos dá feedbacks detalhados acerca dos diagnósticos semanais. As críticas e elogios aos exercícios contribuem para a evolução do nosso olhar e valem como prévia e complementação da semana de Direito que teremos em quinze dias.
É um ótimo exercício. Meu colega Leonardo Vieira escolheu os primeiros minutos do discurso de Bill Clinton na Convenção Democrata para analisar:
O carioca da turma (cujo sotaque também é vítima da análise constante de seus colegas) destacou a testa franzida do ex-presidente, o punho cerrado e suas perguntas retóricas com pausas estratégicas, entre outros elementos.
Quais outras características chamam atenção no vídeo? Recomendo o esforço de tentar identificar características reveladoras dos oradores, como o chamado ato falho de Freud. Afinal, não há nada mais prazeroso que dar um furo descobrindo algo que estava o tempo todo “na cara” de todos.
Prezada Paula, Vi no perfil seu que trabalhou em Economia e Negócios. Pessoalmente acho essas áreas mais desafiantes que Política e Cotidiano, pois é preciso entender de várias disciplinas para poder fazer uma matéria interessante. Se você puder trazer mais posts sobre o tema, acredito que seria interessante.
Algumas questões: 1) é preciso gostar e ter facilidade com matemática? 2) como traduzir as dezenas de termos da área (ex: EBTIDA e etc)?
Grato
Ramiro
Oi Ramiro, sobre as suas perguntas, acho que não é necessário adorar matemática, mas ao menos tolerá-la e estar disposto a aprender e lidar com ela mais intensamente do que em outras editorias (se bem que, hoje, jornalistas de várias áreas precisam de conhecimentos mínimos de matemática – jornalistas de Ciência e Saúde, Política, Cotidiano etc.). Eu, por exemplo, não gostava de matemática até começar a trabalhar com jornalismo de economia – e hoje a adoro. Para traduzir os termos da área, é preciso antes de mais nada que o jornalista os entenda, selecione os mais importantes e explique, recorrendo a gráficos e metáforas se for preciso. O que se deve evitar é aquele texto cifrado, cheio de termos ou siglas que só três leitores entenderão.
Eu sou bem reticente qto a esse tipo de análise.
No q se refere a flagrar mentiras, por exemplo, é altamente falho – não dá resultados melhores do que o acaso:
http://genereporter.blogspot.com.br/2012/05/como-e-que-e-aparelhos-de-teste-de-voz.html (Na nota final, sobre detecção de mentiras por humanos.)
Há problemas ainda se considerarmos que gestos são polissêmicos, variam de cultura para cultura (e de indivíduo para indivíduo), e políticos profissionais podem ser treinados para adotar este ou aquele “discurso” postural.
[]s,
Roberto Takata