A crítica e a autocrítica

Paula Leite

Por Joelmir Tavares, 23, trainee da turma 54

Não quero reforçar o estereótipo, mas é costume dizer que mineiro “come quieto”, fala pouco e escuta muito, prefere esperar para ver, é discreto.

Se as características são verdadeiras, então sou um mineiro autêntico. Daí minha preferência por sopesar versões e pontos de vista, antes de sair exprimindo minha opinião a torto e a direito.

Mas esse meu jeito tem mudado por causa do Programa de Treinamento. Aqui somos incentivados a ter visão crítica sobre tudo e todos. Nem a própria Folha é poupada.
O Manual da Redação lembra, no entanto, que é preciso equilíbrio. O conformismo e a crítica pela crítica são atitudes condenáveis. É no meio do caminho entre as duas posturas que reside o bom jornalismo.

Em nossas atividades e conversas diárias, treinamos nosso olhar para enxergar os fatos de forma ampla e profunda, para nunca aceitar verdades absolutas e para reconhecer as intenções por trás de palavras e gestos.

Tudo isso faz parte da lista de qualidades desejáveis para um jornalista. Se a fonte tergiversou, é preciso insistir, perguntar de novo, reformular a questão. Se a informação é suspeita, o repórter tem a obrigação de fazer uma apuração paralela.

Sempre me preocupei em buscar esses atributos, embora agora eles estejam sendo aguçados. Aos poucos, vou “contrariando” minha mineirice.

Quando deixamos de nos contentar com o óbvio, o consenso ou o lugar-comum, ganhamos uma arma a mais para informar o leitor de maneira moderna, pluralista e apartidária –pilar defendido no manual.

A perspectiva crítica é o modo pelo qual “o jornal pode surpreender e inquietar o leitor, bem como pôr em xeque ideias feitas”, recomenda a “bíblia” de quem trabalha na Redação.
No dia a dia, o estado constante de desconfiança do jornalista é útil para filtrar o que deve ser publicado e até evitar a difusão inconsequente de determinadas notícias.

Além de ser analítico, um veículo de comunicação sério também tem que estar disposto a ser avaliado. Seria cínico cobrar análise, isenção e distanciamento no noticiário, mas se recusar a ter suas mazelas apontadas.

No caso da Folha, estão lá as apreciações da ombudsman e a seção diária “Erramos”, exemplos de que querer o aperfeiçoamento e admitir falhas são pontos importantes.

Aqui no treinamento, é comum nos debruçarmos sobre as edições do jornal para detectarmos informações incompletas e problemas de toda ordem.

Nesses exercícios, aprendemos que a responsabilidade jornalística é nosso norte e que a crítica e a autocrítica devem sempre nos acompanhar.

Comentários

  1. CARA Paula,
    Muito obrigado pelo retorno. Falha minha não saber da saída do Sarney.
    Faço minha penitência.
    Bom fim de semana e bom trabalho para os plantonistas.
    Abraço
    Ramiro

  2. Espero que os meus comentários não sejam tratados no NEF como sendo de “louco-manso”. As respostas para este perfil “leitor-louco-manso” são superficiais e evasivas. Gostaria de contar um pouco da minha história : entre 1968 e 1972 moramos em Dracena a 800 km da capital-SP, todos os domingos após o almoço meu pai me levava a banca de jornal para esperar um exemplar da FSP que costumava chegar após as 14 h. A leitura do jornal FSP com meu pai – quando eu tinha idade entre 6 e 12 anos – era a minha principal diversão no fim de semana (naquele fim de mundo…) Eu li a cobertura do homem a lua, a copa de 70, os incêndios do Andraus e Joelma. Talvez por isso eu insisto em tentar ajudar o treinamento da FSP (é como se fosse uma retribuição..). Em resumo, justamente por haver uma ligação emocional com a FSP é que eu costumo ser crítico com os erros.
    Não levem este “leitor-louco-manso” a mal…
    Abraços

  3. Acredito que é pertinente este exercício de auto-crítica. Mesmo numa área onde os EGOS são gigantescos… Mas sem essa humildade as Mídias Sociais irão devorar o Broadcast.
    Minha crítica mais profunda a FSP é manter uma coluna com o José Sarney. (as editoras de treinamento poderiam trazer algum texto que ele acrescente algo? Façam um exercício: esqueçam o cargo e leiam apenas o texto dele. Se houver algo interessante, tragam ao blog.Poder ser que eu não tenha conhecimento suficiente para entender a coluna)
    Acredito, sinceramente, que o conselho editorial deveria explicar isso aos trainees. Mas evidente que é mais fácil fazer juízo de valor de PM do que enfrentar essa realidade.
    Espero que essa nova geração de jornalistas construam algo coerente. Torço pelos trainees.

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