Você já ouviu falar nas ilhas Faroë?
Por Rayanne Azevedo, 23, trainee da turma 54
Eu não tinha ouvido falar. Ao menos não até bem pouco tempo atrás.
E antes que alguém me censure por assumir minha ignorância assim, tão descaradamente, eu torno a perguntar: você tem ao menos uma vaga ideia de onde esse lugar fica?
Formado por 18 ilhas, o território autônomo da Dinamarca é discreto. Tente encontrá-lo, entre a Escócia e a Islândia, quando tiver um mapa-múndi em mãos.
Foi durante o meu primeiro plantão na Folha que eu soube da existência do arquipélago.
Esforcei-me ao máximo para não deixar transparecer o nervosismo que senti na hora, mas devo ter sido traída pela cara de paisagem que fiz ao ouvir que, no feriado de 7 de setembro, eu estava escalada para a cobertura online minuto a minuto do embate futebolístico entre Alemanha e ilhas Faroë.
Tratava-se de um dos jogos da rodada inicial das eliminatórias europeias da Copa 2014.
Eu, que sou absolutamente incapaz de distinguir um volante de um meia de campo, acorri ao Google e ao site da União das Federações Europeias de Futebol (Uefa).
A cobertura foi um suplício. Tentava não desgrudar os olhos do jogo, mas acabava perdendo um ou outro lance enquanto registrava as jogadas.
Quando um jogador das ilhas Faroë ia ao chão, cobrava escanteio, chutava a gol ou era substituído, então, era uma desgraça: lá ia eu no site da Uefa checar o número da camisa para, só então, dar continuidade à cobertura.
Parece drama? Sugiro digitar Hjalgrím Elttør, Rógvi Baldvinsson ou Klæmint Olsen. Pior: tente relacionar os nomes impronunciáveis com os narrados pelos comentaristas na TV – nenhum deles fluente em feroês.
No fim das contas, virei-me como pude. Por sorte, a grande estrela da seleção feroica foi o goleiro Gunnar Nielsen. Esse era moleza de digitar.
Nielsen brilhou na defesa: dos dez chutes a gol, barrou sete. Mas a Alemanha levou a melhor e marcou três gols.
Ao final da cobertura, veio o saldo de erros. Nada grotesco, à exceção da descrição dos gols, que eu deixei passar (ops, eu disse nada grotesco?). (Se quiser ler a cobertura, ela está aqui.)
Naquele dia, dentre todas as editorias possíveis do jornal, o destino calhou de me pôr justamente na única que eu sempre evitei: esportes.
Há muitas coisas legais em ser jornalista. Uma delas é ter a chance de aprender algo novo todos os dias. A parte frustrante é se dar conta de que quanto mais você expande seus conhecimentos, mais consciente se torna da sua ignorância ante a vastidão de assuntos sobre os quais o jornalismo se debruça.
A experiência do plantão serviu para reafirmar essa certeza.
Parabéns, Rayanne. Seu texto ficou delicioso de se ler. Leve, solto, divertido e bastante descritivo. E carregado de bom humor. Assim, não só seus amigos, mas também a Folha vai ficar orgulhosa de você. Sentir saudades de você sabendo desse sucesso é um enorme alívio. Um grande abraço.
Marcelo, acho que você se confundiu. Fårö fica na Suécia. Já as ilhas Faroë constituem território autônomo da Dinamarca.
É a própria Wikipedia quem alerta, ao mencionar Fårö: “not to be confused with Faroe Islands”.
http://en.wikipedia.org/wiki/Fårö
http://en.wikipedia.org/wiki/Faroe_Islands
Era onde o Ingmar Bergman morou durante anos antes de morrer, onde ele fez vários dos seus filmes. (OK que era a única referência mais ou menos de conhecimento geral sobre a ilha, mas enfim.) Século passado eu tinha uma amiga na internet que era de lá. Eu brincava com ela perguntando como estava o tempo nas “Faraway Islands”.
Uma referência interessante: http://travel.nytimes.com/2007/10/07/travel/07cultured.html?pagewanted=all&_moc.semityn.levart