Cobrir jogo não é para qualquer um
Por Rafael Andery, 23, trainee da turma 54
Na tarde do domingo passado (23/9), comi três pequenos sanduíches de salame com queijo, dois sanduíches de presunto e bebi uns quatro copos de água mineral. O cardápio parecia com o menu da festa de aniversário daquele seu primo mais novo, mas, na verdade, eram os quitutes oferecidos no espaço destinado à imprensa no estádio do Morumbi. Não me fiz de rogado.
Além da boca livre, algumas outras coisas agitavam o ambiente do Cícero Pompeu de Toledo naquele dia. São Paulo e Cruzeiro jogavam na 26ª rodada do Campeonato Brasileiro de 2012. Além disso, o time da capital apresentaria, para seu torcedor, o meia Paulo Henrique Ganso.
E lá estava eu. Fui acompanhar o trabalho de um repórter da Folha em dia de jogo. Como aficionado pelo esporte e membro da liga amadora dos comentaristas de sofá, sentia-me plenamente preparado para a tarefa. Ledo engano.
Ao longo do dia, o repórter que acompanhávamos escreveu duas matérias grandes, uma sobre o jogo e a outra sobre a apresentação de Ganso. Além disso, fez a ficha técnica da partida, mandou textos para a versão on-line do jornal e acompanhou duas entrevistas coletivas, uma antes e outra após o confronto. Eu, enquanto isso, comi cinco sanduíches.
Após o jogo, até consegui falar com o atacante Osvaldo, do São Paulo, autor do único gol do confronto. Ele estava saindo do vestiário sozinho e os repórteres de rádio não davam muita atenção ao atleta. Na minha opinião, ele havia sido o homem da partida. Ademais, com a chegada de Ganso, provavelmente será Osvaldo o jogador sacado da equipe titular.
Falei tudo isso para o garoto, que mal parou para me ouvir. “É continuar trabalhando, espero estar evoluindo a cada jogo, e isso vai ser mais uma dor de cabeça pro Ney Franco”, foram as palavras que vocês não leram no jornal de segunda. Entrevistar jogador de futebol é difícil.
Moleza, no entanto, se comparado a tentar assistir ao jogo do seu time de coração sem demonstrar maiores emoções. Já devo ter ido ao Morumbi, no mínimo, umas 50 vezes. Essa foi seguramente a única em que não soltei comentário menos elogioso à mãe do árbitro da partida.
Tratar futebol com profissionalismo é um pouco chato. Medir palavras, ser comedido nas opiniões, imparcial nas análises, tudo isso tira muito a graça do esporte.
Quando Ganso entrou na sala de imprensa e ficou a poucos metros de mim, minha vontade era de levantar e dar um sincero abraço no garoto paraense. Em vez disso, fiquei transcrevendo suas frases para meu bloquinho de notas. Na hora do gol do São Paulo, meu mundo veio abaixo. A torcida inteira gritando e pulando e eu lá, sentado com meu sanduíche de presunto.
Meu respeito aos jornalistas esportivos. Fazer da paixão uma profissão não é para qualquer um.
É uma pena para o jornalismo esportivo ficar sem você, Rafael, pois você tem conteúdo e sentimento. Além de ser tricolor, claro! Esse negócio de se conter nos adjetivos é realmente brochante!