Uma historiadora aprendiz de jornalista: mais anfíbio que peixe fora d´água
Por Beatriz Izumino, 24, trainee da turma 54
Ser uma não jornalista no treinamento de jornalismo diário não chega a ser tão dramático quanto uma tilápia debatendo-se na beira de um tanque de pesque-e-pague. O ambiente não é assim tão diferente ao de outros ambientes de trabalho – quem nunca viu uma sala cheia de pessoas de olhos cansados na frente de computadores? – nem a linguagem tem jargões tão alienígenas que seja impossível de entender.
O mais difícil, acho, é pegar as manhas do processo. O pré-escrever um texto na cabeça antes de chegar à Redação durante a apuração, por exemplo. A “cara-durice” de ligar pra quem quer que seja quantas vezes sejam necessárias para obter uma informação. E, principalmente, manter sempre viva a atitude de “can-do”, que parece sustentar o movimento contínuo dos meus colegas jornalistas de formação.
Explico-me melhor: pelo que eu pude observar até agora, entre os meus companheiros de treinamento e nas conversas com os editores da Folha, uma característica que define os bons jornalistas é a iniciativa. Oportunidades não são desperdiçadas, mesmo que haja arrependimentos.
Se há uma chance de crescer, de aprender mais, de ser melhor, essa chance será agarrada com convicção. Se há uma história a ser contada, a hora é sempre agora – de tocar aquela campainha, de conversar com aquele transeunte que observa uma cena, de perguntar tudo o que há para ser perguntado. (Vejam o exemplo do Joelmir, que escreveu ontem aqui no blog.)
Não me entendam mal: não estou dizendo que os jornalistas ajam de forma impensada. Estou dizendo que os jornalistas agem. Minhas origens acadêmicas (sou historiadora) e as minhas próprias características dizem-me sempre para pensar um pouco, andar antes de correr. Agora, com duas semanas de treinamento, sinto-me mais anfíbia, que peixe fora d’água. Quem sabe até dezembro não viro sapo?
Pela inteligente observação participante e pelo ótimo texto já se notam algumas nadadeiras se transformando em patinhas.
Obrigada, Daniel!
Historiadora? Bacharel em história; licenciado em história. Dois títulos acadêmicos. Historiador é profissão. Jornalista é profissão também. Não existe jornalista acadêmico. É bacharel em comunicação social – habilitação jornalismo. Muitos – atualmente, a grande maioria – jamais chegarão a ser jornalistas. Serão RPs, publicitários ou qualquer outra coisa. Não serão piores ou melhores. Só não saem da faculdade jornalistas. Nunquinha. A Folha dá aula de anti-provincianismo há muitos anos. Mais que isso: a Folha tem ensinado como se faz jornalismo de qualidade com profissionais de qualidade. Pode ficar tranquila que, se você servir para ser jornalista, está no tanque certo. Ou, ao menos, se debatendo perto dele. Se debata sempre. E parabéns.
Obrigada, Everton!