Minha primeira reportagem na Folha
Por Joelmir Tavares, 23, trainee da turma 54
O colega Bruno Lee já falou aqui no blog sobre seu primeiro “encontro” com a Redação. No meu caso, não se tratou propriamente de uma estreia, mas teve gosto parecido. E foi temperada com certa ansiedade, leve dose de adrenalina e uma pitada de orgulho.
No dia 7 de Setembro, saí para o plantão na Folha com o coração ligeiramente palpitante. Os trainees se distribuíram por diferentes editorias.
Fui escalado para “Cotidiano” (que internamente é apelidado de “Coti”). Cheguei pouco antes das 11h. Nada tão diferente da rotina à qual me acostumei nos últimos dez anos da minha vida, trabalhando em redações de outros jornais.
Recebi a missão de procurar novidades sobre o caso de um professor de jiu-jítsu morto a tiros por policiais civis. O corpo de Alex Sandro do Nascimento, 41, havia sido sepultado naquela manhã. Descobri o telefone de um parente da vítima e telefonei para ele.
Como havia a possibilidade de conseguir mais informações pessoalmente –o que, de fato, aconteceu–, o melhor era eu ir ao cortiço onde o lutador morava e onde morreu, supostamente executado por ter sido confundido com um criminoso.
O local é ponto de tráfico de drogas. Segui para lá em um carro do jornal devidamente identificado. Quando cheguei lá, botei o pé na rua e fui abordado por um homem que parecia ter cerca de 25 anos, que depois deduzi ser uma espécie de “olheiro”.
“Está fazendo o quê? Veio falar com a família do rapaz aí?”
Apresentei-me e disse que já havia marcado a entrevista com a irmã de Nascimento. “Fica aí que eu vou ver se você pode entrar”, ordenou.
Um minuto depois –tempo suficiente para eu perceber o entra e sai no conjunto e o movimento intenso em um bar do outro lado da rua–, o jovem voltou com a autorização.
“Pode subir. Tá ‘sussa’.”
Ensaiei perguntar a localização da casa. Tenso, ele repetiu o que havia dito, dando a entender que eu não questionasse mais nada. Encontrei os parentes muito abalados, remoendo a dor e a revolta. Conversamos por mais de uma hora.
A máxima de que “lugar de repórter é na rua” se fez mais uma vez verdadeira. Ajudado por fontes, localizei a adolescente que é a principal testemunha do assassinato. Com a garantia de não ser identificada, ela topou dar entrevista.
A jovem falou comigo antes de decidir se prestaria depoimento à polícia. Eram revelações inéditas, um prato cheio para qualquer repórter.
Sorte ou esforço? Um pouco dos dois é sempre importante para conseguir a notícia. E foi assim que fiz minha primeira reportagem na Folha.
Só a primeira. De tantas. Sorte e esforço!