Experiência > Renovação

Cristina Moreno de Castro

Eu estava devendo minha resposta para o Marcelo, que perguntou se os mais velhos não deveriam ceder espaço aos mais jovens na Redação.

Primeiro, vale lerem todos os ótimos comentários dos leitores, AQUI.

Eu disse a ele o seguinte:

“Acredito que não só em jornalismo não há “prazo de validade”, como, na verdade, o jornalismo é uma profissão em que, quanto mais experiente é uma pessoa, melhor ela fica. Ao contrário da matemática, em que, aos 30, o sujeito já está “vencido”, na área de humanas e ciências sociais aplicadas, o conhecimento só vai se expandindo com o tempo. Pode ser que os “velhos” jornalistas não sejam tão familiarizados com as novas tecnologias, as mídias sociais etc. Aí entram os jovens, para ensiná-los. Mas jornalismo vai muito além da mera técnica e tecnologia.

Eu até lamento muito, na verdade, por haver tão poucos jornalistas “velhos” nas Redações. A Redação da Folha, por exemplo, deve ter uns 80% de pessoas na casa dos 20 e 30. Desses 80%, a maioria na casa dos 20. Quem me dera ter mais colegas experientes com quem trabalhar e aprender. As Redações estão cada dia mais jovens e, apesar de haver muita vantagem em ser jovem, há o ônus de termos Redações verdes, com pessoas menos preparadas, menos informadas, com muito menos bagagem de história, filosofia, política ou de áreas de especialização. Uma das consequências disso é, ao meu ver, um jornal muito mais raso e com textos sem contexto.

Renovação é importante e você vai achar seu espaço para colocar suas ideias, se elas forem boas. E tem mais é que insistir para que haja esse espaço, cavá-lo, argumentar em prol de suas visões jovens de mundo. Mas meu maior conselho é que, paralelo a isso, você grude nesses jornalistas “velhos” para aprender com eles ao máximo, sugar tudo o que podem compartilhar, sempre com muita humildade.”

Comentários

  1. Cristina, compartilho de sua opinião sobre a questão da renovação. Talvez por isso, resolvi complementar a resposta ao colega: renovação nas redações não significa oportunidade a todos ou exatamente emprego para quem está chegando. E, como a Cristina ressaltou, as redações já estão muito jovens. Precisamos é de mais profissionais em condições de ensinar a apurar, entrevistar, melhorar o olhar dos mais jovens para ensiná-los a enxergar uma pauta de verdade, com informações de interesse público e que ajude a construir conhecimento e valor ao leitor. E este é jutamente o problema atual da imprensa: falta de criatividade, falta de cultura, falta de experiência para lidar com questões que fazem parte do nosso dia a dia: escrever bem, organizar informações, encontrar essas informações… Usar mídias sociais, internet e computadores não é exatamente a coisa mais importante para um jornalista. E os mais jovens fazem isso muito bem, mas não conseguem pensar tão bem quanto os mais velhos. Outro problema que temos com essas redações jovens é a morte das redações-escola, lugares onde você pode entrar e aprender.

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