Meu entrevistado sofreu com ciúmes do chefe

Cristina Moreno de Castro

Levantei aqui no blog, outro dia, a reflexão sobre como uma reportagem de grande repercussão pode afetar a vida do entrevistado e se devemos, como jornalistas que preveem que isso pode acontecer, explicar a eles no que implica essa “aparição”.

Vejam AQUI o post 🙂

O professor Marcelo Soares deu seu pitaco e compartilhou uma história que aconteceu com ele, vejam só:

 

“Eu discordo do Gabriel.

A história dos soldados ilustra várias questões cujo debate é importantes e eles toparam ser fotografados, dar seu nome. Era notícia e eles foram corajosos. A reportagem foi bastante respeitosa. Se depois eles toparam dar entrevista a programas de auditório que exploraram os aspectos sensacionalistas do caso, o problema sai da seara do jornalismo e entra na do entretenimento.

O que ocorreu com eles depois foi responsabilidade da instituição onde eles trabalhavam. Duvido que eles, ao ter a coragem de dar entrevista, não desconfiassem que o Exército é uma instituição conservadora e que não toparia esse destaque numa boa.

Estive do lado de cá do gravador numa situação análoga, embora não comparável.

Certa vez, entrevistei um perito criminal especializado em informática numa reportagem sobre urna eletrônica. Para a mesma reportagem entrevistei o chefe da informática do TSE. Na entrevista só se tratou de assuntos de segurança da informação.

Por ter recebido destaque na entrevista, porém, esse perito enfrentou problemas com seus superiores na polícia. Não por causa do que disse, mas pelo fato de ter aparecido com o mesmo destaque que uma autoridade do TSE. Ciúme, aparentemente.

Fiquei chateado ao saber. Fui conversar com ele, por achar que podia ser culpa do que eu tinha escrito. Ele afirmou que eu não devia me preocupar, que o problema era o superior dele, e não o que ele disse ou o que eu escrevi. Isso é parcimônia.

Entrevistados com mais traquejo ao falar com a imprensa são bem treinados nesse sentido e calculam as consequências do que vão dizer. Entrevistados de primeira viagem não. Acho que vale a pena, em casos muito sensíveis, conversar com esses sobre as possíveis consequências.

Só que não tenho como fazer qualquer avaliação sobre a responsabilidade ou não de quem os entrevistou nesse sentido.

Acho que era notícia e era importante dar voz a quem topou botar o dedo no vespeiro. Só posso avaliar o tom da matéria (respeitoso), a coragem dos entrevistados (louvável) e as consequências que sofreram na instituição onde trabalhavam (reprováveis).

Fora isso, como não somos telepatas, só ouvindo quem os entrevistou. Ou dizendo “eu não faria assim”, o que é razoável mas não dá conta da questão.”