Perguntas e respostas sobre o dia na Folha
Uma leitora nos enviou por email uma porção de perguntas sobre o dia-a-dia de um jornal diário do porte da Folha.
Respondi e depois a Ana achou que, como podem ser dúvidas comuns a muitos leitores, valia a pena postarmos aqui.
Então aí estão as perguntas dela e as minhas respostas 😀
1) Como funciona em um jornal grande como a Folha? Quantas pautas vocês recebem por dia? Quanto tempo possuem para fazer as apurações…
Em Cotidiano, a gente costuma ter uma pauta por dia para o dia. Isso porque muitas vezes estamos apurando a especial e outras pré-pautas enquanto fechamos a matéria que sairá no jornal do dia seguinte.
Além disso, às vezes temos uma pauta, mas, ao longo da apuração, ela se desmembra em várias matérias. Isso é comum, por exemplo, em grandes coberturas, como a da crise do abastecimento, que aconteceu na semana passada.
2) E quando os textos ficam prontos, quem revisa? Eles mudam muito?
Quando a gente termina de escrever o texto, lá em Coti, gritamos: “Soltei o texto X!” e um redator que estiver livre no momento pega o texto para reler, colocar título (quando dá tempo eu coloco, mas eles fazem isso mais rápido e poucos minutos num fechamento fazem diferença; sem contar que meus títulos costumam ser bem piores), ver se está inteligível etc. Geralmente muda quase nada do texto e, quando muda, eu sempre acho as mudanças melhores (ainda mais quando o redator é experiente). Já aconteceu de eu entregar um texto com umas 20 linhas estourando, por causa da correria, e um redator como o SAMY CHARANEK cortar tudo em cinco segundos e eu nem perceber o que foi cortado, de tão afiado que foi o trabalho de tirar só as gordurinhas.
3) Todas as matérias são assinadas… Sempre?
Geralmente sim.
4) Alguém senta com vocês para falar sobre o texto?
Não é muito comum, mas às vezes a editora senta, sim, e dá uns toques, diz que o lide daquele jeito está confuso, que ficaria melhor assim-assado etc. Não é comum porque ela não tem tempo de ficar fazendo isso sempre. E porque geralmente a pauta é discutida ao longo de todo o dia, primeiro com o pauteiro e depois com quem está pegando os retornos, e por isso fica bem redondinho, na hora de escrever a matéria, o que é o lide, o que não é.
5) Como é o clima da redação? Pesado, relax, calmo… ou depende do dia e das matérias que vocês têm para cobrir?
Não posso falar de toda a Redação, mas o clima em Cotidiano é muito bom, bem humorado, apesar de ser extremamente corrido praticamente todos os dias. A equipe é muito legal, em todos os sentidos.
6) Quantos jornalistas existem p/ cobrir a parte de Cotidiano?
Cotidiano é uma das maiores editorias do jornal, eu acho. Mas não tenho certeza. Não sei quantos jornalistas são ao todo, mas repórteres somos 13.
7) No começo, você também ficava ansiosa para receber suas pautas? Achava que não ia dar conta, etc, etc!!
Claro! Isso é normal com todo mundo. Ainda me sinto insegura quando vou fazer uma coisa completamente diferente. Mas aos poucos a gente vai vendo que foi capaz de fazer uma coisa difícil, que foi capaz de superar um obstáculo maior, etc, e assim vamos ganhando confiança e ficando um pouco mais tranquilos 🙂
8) Se por acaso, eu que estou começando nesse jornal que possui uma tiragem menor consiga um dia trabalhar na Folha… eu vou estranhar muito?
Acho que você vai estranhar um pouco, mas o fato de estar num jornal menor talvez até te prepare mais no sentido de te habilitar a fazer mais tarefas em menos tempo: mais pautas por dia, ajudar na edição, no fechamento etc. Afinal, o jornal grande também tem uma equipe maior. No “Agora”, por exemplo (jornal do grupo Folha tb), as equipes são bem menores e é comum um repórter fazer cinco, seis pautas por dia. Em compensação, na Folha o espaço dedicado a cada matéria costuma ser maior. Enfim, você logo se adapta ao lugar em que está 🙂
Se você gosta mesmo de jornal impresso, tem que se acostumar à correria, pelo menos nessas editorias de cidades, que geralmente exigem mais idas à rua, mais mudanças bruscas de rumo no que é a notícia principal do dia etc. Em cada editoria o tipo de exigência e o ritmo de trabalho são diferentes.
E você, também tem perguntas? Mande para novoemfolha.folha@uol.com.br!
Ana, o que você acha sobre a folha não exigir diploma (ou que pelo menos se esteja cursando) jornalismo para ser trainee? Desculpa se esse tema já foi abordado aqui e eu perdi. É que vi um anuncio para o programa que falava que não precisava e daí fiquei curiosa.
Dani, a Folha faz isso desde o primeiro programa, em 88. Eu sempre achei certo, mesmo quando o diploma não era obrigatório. Agora, então, que não é mais obrigatório, é ainda mais natural. O princípio é que a faculdade até pode ajudar, pode ser útil, preparar um pouco o estudante, mas não é indispensável para que alguém seja bom jornalistas e muitas vezes nem é a melhor opção de formação.
Não sou contra as escolas, de forma alguma.
Só acho que os estudantes devem ter liberdade de escolher em que tipo de formação vão investir seu tempo e dinheiro, sem serem obrigados a cursar uma faculdade que não julgam a melhor para eles. Abraço, Ana
Acho que a questão do veículo pequeno (ou extremamente pequeno) tem uma coisa que, às vezes, pode não ser muito boa para o recém-formado. Por exemplo, quando você é o mais experiente de um local, e sua experiência é praticamente nula. Dá um certo temor de, mais para frente, não conseguir ser um jornalista acima da média, pois não há os grandes e experientes com quem se aconselhar/ aprender. As decisões são solitárias e baseadas na própria mente de quem ainda não sabe tanto. Sem equipe pra discutir alguma coisa, ver o que é recomendável ou não escolher para uma matéria, como tratar fonte x ou y… Enfim, acho que, em veículos maiores, a cobrança pode ser diferente, mas há um norte correto (na maioria das vezes). Sei lá, acho isso importante pra quem quer crescer: aprender com os outros. Perto de pessoas experientes, fica muito mais fácil crescer como profissional…
Com certeza, conviver com gente mais experiente é ótima forma de melhorar e crescer.
Essa coisa do repórter de jornal pequeno ser multifunções é bem verdadeira. Trabalhei no interior do Paraná por 1 ano e meio e fazia tudo: pauteira, repórter, fotógrafa, editora, auxiliar de edição, sem contar que por quase 1 ano fui também revisora (claro que aí fazia menos matérias), a gente só não vendia o jornal na banca. Hoje sou grata a essa experiência que tive. Eu tenho dúvidas em saber como é a adaptação das matérias impressas para a web. Porque às vezes a mesma matéria do jornal é disponibilizada na internet, com alguns ajustes. Quem faz esses ajustes, quem decide quais serão disponibilizadas na íntegra? Existe a redação própria da Folha Online, né? Abraços e parabéns pela iniciativa.
Cada editoria tem uma equipe que cuida só do online — embora haja integração, então é comum vermos matérias assinadas pelo André Monteiro ou pela Mariana Desidério, por exemplo.
Geralmente, se não me engano, uns 15% da edição impressa vai para o online. A editora decide isso, eu acho. Também é comum ter só uma chamadinha no online e a informação de que a matéria está no impresso e os assinantes podem ler na íntegra.
Muitas vezes vamos fazer uma cobertura na rua que é algo que todos os veículos estão cobrindo, então também temos que passar informações para o online. Nesse caso, costumo telefonar e passar verbalmente mesmo, para os colegas escreverem.
E às vezes digito o texto e mando e eles melhoram, deixam os parágrafos mais curtos, colocam foto etc.
bjos
A Folha divide as editorias por andar?? Porque eu imaginava uma sala, uma grande, enorme sala, com todos os jornalistas de todas as editoras juntos, centenas de computadores, pessoas para todos os lados, e cada uma fazendo sua parte, mas participando de tudo porque nem teria como não participar, hahaha. Mas, pelo que você descreveu, Cris, tem uma divisão física também, né?
Muito legal as respostas e, mais ainda o que você contou sobre os redatores, que, confesso, me acelera o coração =)
Mônica, é que, com a reforma, as mesas ficaram maiores e não cabia todo mundo no mesmo andar. Então o jornal ocupa dois andares, mas há um~vão livre para que se possa ver de um andar para outros, e escadas vazadas que permitem um acesso mais livre. As editorias diárias todas (menos a Ilustrada) ficam no quarto andar, e os cadernos semanais, as revistas, a Ilustrada e o jornal Agora ficam no quinto andar. Há pessoas para todos os lados, cada um fazendo sua parte, e, dependendo do calor do fechamento, todo mundo participando de tudo,m esmo… Ana
Antigamente Paulo Francis escrevia aquelas coisas todas inventadas e todo mundo aplaudia e imitava, agora fica mais difícil com a internet porque num clic, o leitor pode verificar se a informação é correta ou falsa, expondo os erros. Quando li que os “brasileiros” foram sequestrados no Egito, fui diretamente ao nytimes e CNN e vi que o que a Folha escreveu estava errado, eram Brasileiras, não Brasileiros. Vocês apenas traduzem o que vocês recebem das Agências de Notícias internacionais? A Folha tem um Fact Checker?
Bruno, jornais diários não têm fact checkers. Seria impossível rechecar todos os dados na rotina de fechamento diário, e menos ainda no noticiário on-line. Não, nós não traduzimos simplesmente o que recebemos das agências. Sempre que possível, a Folha complementa as informações das agências. É por isso que, nas notícias publicadas hoje sobre as brasileiras sequestradas (e já soltas), você vai ver no crédito que há também material escrito por São Paulo.
De qualquer jeito, sim, Bruno, nós cometemos erros. Todos os dias. Infelizmente. E procuramos reconhecer e corrigir sempre que os detectamos. Não há veículo de informação no mundo que não erre. Infelizmente. Não são todos, porém, que corrigem… Abraço, Ana
Soltei, né? Então vocês soltaram aquela matéria sobre as eleições na França dizendo que uma pesquisa diz que Sarkozy “ganharia” no primeiro turno. Uma asneira porque as eleições não se decidem no primeiro turno. Além de omitir outra pesquisa que diz o exatamente o contrário. Diga-me uma coisa, Cristina: quem é o mais Burro na Folha, o jornalista ou o redator?
Certamente não é o leitor, que está sempre atento para mostrar nossos erros, o que nos ajuda a melhorar.
Que legal, é um super trabalho de equipe =). Eu pensei que o redator mudava/adequava títulos, não que os colocava quase sempre…
Depende bastante da editoria, do ritmo de fechamento e também do repórter. Eu, por exemplo, gosto de dar os títulos na minha matéria. Porque assim garanto que o mais legal esteja lá, e evito repetições entre o título e o lide
Muito bom, gente! Vcs já falaram aqui no blog sobre a função do secretário de redação? Vi o secretário de redação da FSP falando em um dos vídeos dos 90 anos e fiquei curiosa.
Nancyelle, a gente falou um pouco no vídeo que fizemos sobre a primeira página, já faz tempo. Há dois secretários de Redação na Folha, um que cuida da produção e outro que cuida da edição. Eles coordenam todas as editorias. Estão logo abaixo do editor-executivo. O secretário de produção decide as prioridades de cobertura do dia, e o de edição dá a palavra final sobre como o noticiário será editado