“Nasci no interior, sem jornal na cidade, ralei para ir pra UnB, ouvi nãos e hoje sou finalista do Prêmio Esso”
O leitor Max Melo também quis dividir sua história com a gente, vejam que bacana:
“Inspirado pela Mônica S, também resolvi dividir a minha história com vocês.
Sou de uma cidade pequena do interior de Minas Gerais. Lá nem tem jornais locais e faculdades de jornalismo, menos ainda. Como a minha família não teria grana para pagar uma faculdade fora eu decidi que teria que dar um jeito de, com minhas próprias pernas, seguir o meu sonho.
Sempre estudei em escola pública e sabia que se quisesse passar no vestibular de uma universidade pública teria que ralar muito. Quando estava para começar o Ensino Médio procurei uma boa escola particular da minha cidade atrás de uma bolsa de estudos.
Contei a minha história e eles aceitaram que eu fizesse uma prova, se eu saísse bem a bolsa era minha. Estudei muito e consegui. Apesar de três anos difíceis em um universo completamente diferente do meu, a passagem por essa escola me ajudou a ser aprovado em quatro universidades, entre elas a Universidade de Brasília, onde me matriculei.
A segunda fase da saga começou na UnB. Mesmo sendo pública, a vida acadêmica não é barata. Livros, materiais, moradia fora de casa, alimentação… enfim. Muita gente disse que sem grana eu não conseguiria seguir meus estudos, mas na universidade depois de muitas idas e vindas consegui moradia gratuita no campus, auxilio alimentação e uma pequena bolsa permanência, que me ajudou com os outros gastos.
Claro que é ruim ter pouquíssimo dinheiro, ainda mais com o custo de vida das grandes cidades, mas para quem realmente quer seguir um sonho essa é uma opção bastante razoável.
Foi nessa época que conheci o Novo em Folha. Várias vezes li por aqui dicas sobre a importância dos estágios e como eles nos ajudam a melhorar o currículo, nos ensinam lições importantes não apenas de jornalismo, além de nos ajudar a fazer um networking básico, por isso ainda no primeiro semestre fui à luta em busca de alguma oportunidade na área.
Acabei conseguindo uma vaga sem remuneração em uma ONG. Eles tinham um trabalho muito interessante de monitoramento jornalístico de temas que envolvem crianças e adolescentes. Me joguei, fiz o melhor trabalho possível, aproveitei tudo que podia aprender ali. Depois de uns três meses surgiu uma vaga e eles me contrataram definitivamente. Fiquei por lá durante dois anos.
Foi uma das experiências mais enriquecedoras da minha vida.
Só saí de lá quando a questão de grana ficou realmente apertada. Os gastos aumentaram e a bolsa de estágio não estava sendo suficiente. Nessa época fui aprovado em um concurso público para bancário, diante da oportunidade de ganhar mais, deixei a ONG onde estagiava. Fiquei por cerca de 1 ano no banco. Aquele emprego não tinha nada a ver comigo. O trabalho era mecânico e metódico, não tinha abertura para fazer sugestões…. enfim, foi péssimo.
Mas, como toda experiência tem suas vantagens, além de alguns conhecimentos de economia e direito do consumidor, a minha passagem pelo banco me ensinou muito (talvez mais do que qualquer outra experiência jornalística) sobre como lidar com as pessoas. Como me relacionar em situações de estresse (quer algo mais estressante do que uma ida ao banco!). Além de lições importantes sobre convivência com chefes com que não nos damos bem e em situações desconfortáveis. A pausa no jornalismo me fez uma pessoa muito mais madura.
Para sair do banco eu precisava de outro emprego que me sustentasse, e que me ajudasse a aprender mais. Tentei uma chance no Banco Central, mas não fui escolhido. Como já tinham aconselhado aqui no blog procurei o jornalista que me selecionou e ele me deu dicas de como melhorar. Semanas depois surgiu uma oportunidade na Câmara dos Deputados.
Me esforcei ao máximo, e, seguindo outra sugestão do Novo em Folha, deixei bem claro que estava extremamente interessado na vaga.
Mais uma vez não fui selecionado. Contudo, o jornalista que fez as entrevistas percebeu a minha vontade de conseguir uma vaga. Para minha sorte a menina que tinha sido escolhida teve um problema e precisou desistir. Ele se lembrou de mim e me convidou para ir pra lá.
Meu sonho sempre foi ir para impresso. A um ano de me formar eu ainda não tinha conseguido nenhuma experiência em jornal e eu vi que tinha que mudar isso. Vi aqui no blog uma série de posts sobre como os grandes veículos contratam estagiários. Peguei as orientações e fui atrás de uma vaga. Depois de muitas tentativas passei na primeira fase do longo processo seletivo de uma rede de televisão. Me esforcei muito, e passei pelas quatro ou cinco fases. Na última (uma entrevista com um jornalista super famoso!) não consegui dominar o nervosismo e acabei perdendo a vaga.
Fiquei arrasado. Achei que nunca ia conseguir trabalhar em um veículo bacana, que teria que voltar para o banco…
Num dia, meio desesperado, abri um jornal e mandei meu currículo para todos os editores cujos e-mails estavam ali… Para minha surpresa vualá! Dias depois recebo uma ligação para participar de um processo seletivo. Mais calmo e com algumas dicas de ouro que tinha aprendido nas minhas experiências anteriores, consegui ser aprovado. De quebra descobri uma área completamente nova e que nunca tinha imaginado trabalhar: a cobertura científica.
Mesmo sendo uma das editorias mais lidas do jornal, raramente as pessoas sonham em cobrir assuntos de ciência. Aqui eu me encontrei e me apaixonei. Pude explorar as mais diversas áreas do conhecimento. Foi a experiência que faltava em minha carreira. Assim, quando me formei fui contratado no dia seguinte, dando início de vez à realização do meu sonho jornalístico.
Pra quem não mora em um grande centro urbano, não teve oportunidade de cursar uma faculdade de “grife” ou não tem grana para investir na formação, o meu conselho baseado em experiências próprias é de que há espaço pra todo mundo que ama o que faz e que se esforça. Pode demorar ou ser mais difícil, mas é sempre possível.
Depois de formado já tive que desistir de um programa treinee de um jornal econômico importante pois não tinha possibilidade de deixar meu emprego. Obstáculos como esse acontecem com todo mundo e eles sempre nos ensinam coisas importantes que serão úteis mais a frente.
Neste caso, por exemplo, eu perdi a possibilidade de ir para um jornal maior, mas por outro lado, acabei fazendo coisas muito legais de que me orgulho muito no emprego que fiquei. No fim do ano passado um série de reportagens feitas por mim foi finalista do Prêmio Esso de Jornalismo. Imaginem, ser indicado a um Esso logo no meu primeiro ano de formado! Nessas horas a gente vê que vale a pena todos os perregues que passamos. Percebemos que vale a pena insistir mesmo que o senso comum diga que é impossível chegar lá.”
Também quer dividir sua história com a gente? Envie para o novoemfolha.folha@uol.com.br.
Muito legais as histórias! Só fiquei curiosa para saber porque deu errado nas entrevistas, o que eles falaram que você tinha que melhorar?
Acho que essa informação pode ajudar quem está prestes a passar por uma entrevista. Claro , se você não se importar!
Oi Nataia,
Então, no caso da TV eles não deram retorno. Apenas disseram que a outra concorrente (na final eram duas pessoas pra cada vaga) tinha se saído melhor. Às vezes a “culpa” nem é nossa, é pq outra pessoa é mais preparada.
Já no caso do Banco Central, o meu entrevistador disse que o meu currículo não estava muito bem organizado (e isso poderia ser um reflexo da minha organização. Ele foi bem legal e me deu umas dicas de como melhorá-lo. Coisas como “foto: só se pedirem” “As últimas experiências primeiro”, “não precisa botar o número de todos os documentos” e por aí vai). Ele também disse que na entrevista eu falei pouco, fui meio monossilábico na hora de responder. Precisavam de uma pessoa dinâmica, que conseguisse trabalhar bem sob pressão. Acho que tenho essas características, mas definitivamente não consegui demonstrá-las.
Obrigada,Max!
Conhecer a trajetória do Max só mostra que ninguém chega ao sucesso profissional sem ter lutado pra isso (a não ser que vc seja casada com um diretor de determinada emissora e vire âncora do JN).
A qualidade técnica desse rapaz é impressionante. Sua inteligência, cativante. Quem tem o prazer de conhecê-lo pessoalmente (como eu… rá) sabe que o Max figura como uma mente inteligente em meio a tanto “Crtl+C/Crtl+V” presente no Jornalismo.
Ser finalista no Esso em seu primeiro ano de formado é só um sinal de que muita coisa boa deve vir na sua carreira.
Sucesso sempre!
que chique 🙂
Fiquei encabulado agora… obrigado… 😀
Deus é pai e portanto dá a cada ser o necessário para lutar pelos seus ideais; infelizmente a maioria dos cidadãos preferem esperar sentados que o milagre caia do céu. É por isto que há tanta desigualdade entre os seres humanos, as oportunidades estão aí, só não as pegam quem não quer. Este relato é o retrato escrito dá garra, força de vontade e perseverança.
Parabéns a todos e todas que acreditam e lutam pelos seus sonhos.
Pra quem está passando por maus momentos no trabalho, esses dois posts dão muita esperança…
Respirar fundo, esperar a barra passar e acreditar que lá na frente algo melhor nos espera!
Parabéns pra vocês!
É isso aí!
Max, sei quem vc e em que jornal trabalha e achei super bacana vc escrever sua história!! Mesmo sendo diferentes nossas histórias se parecem e eu também tentei o treinee nesse jornal de Economia e mandei currículo para sua editoria a pouco mais de um mês! Acho que o mais bacana de tudo e mostrar para quem está começando que vai ser difícil mesmo e que a gente tem que viver certas coisas para amadurecer!!
Que post lindo, gente! Parabéns, Max! Que o jornalismo te dê ainda mais alegrias!