Os jornalistas e os números
Por Giuliana de Toledo, 22, trainee da turma 54
“Jornalista não sabe nada de matemática” é uma das frases que acompanham a profissão. É dita, muitas vezes, até com certo orgulho pelos colegas, que, provavelmente, traumatizados por experiências ruins no colégio, decidiram abolir as exatas da vida profissional. Grande engano.
Até sem dar-se conta, quem lida com informação trabalha também, e muito, com números –da cobertura do mercado financeiro às notícias culturais. Está certo que a “nossa” matemática depende menos das fórmulas que aprendemos na escola e mais de olhar atento e raciocínio lógico.
Com a Lei de Acesso à Informação, embora muitos órgãos ainda resistam ou tardem em liberar seus dados, temos à disposição milhares de estatísticas que são fontes ricas para pauta.
O contraexemplo mais claro está na cobertura do Censo do IBGE, que, em grande parte da imprensa, fica limitada aos dados oferecidos “mastigados” e entregues aos jornalistas pelos assessores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. As preciosidades, no entanto, podem estar justamente nas tabelas que ninguém nas redações se anima a desvendar.
Nessas duas primeiras semanas de treinamento, boa parte das nossas atividades têm o objetivo de nos mostrar as ferramentas necessárias para “domar” e interpretar as imensas tabelas de dados que se podem baixar nos sites de diversos órgãos públicos.
E que alegria quando vêm em formato Excel, porque, quando estão em PDF, o trabalho aumenta sensivelmente… É um tal de copiar e ajustar todos os dados em colunas e linhas do programa, uma tarefa inglória. É por isso que o meu conterrâneo Marcelo Soares, nosso tutor no treinamento e autor do blog Afinal de Contas, não cansa de repetir que disponibilizar dados em PDF não é transparência de verdade. “PDF é um formato do mal”, brinca.
“The New Precision Journalism”, do pai do jornalismo de dados, Philip Meyer – ao lado do “Manual da Redação” e de “Jornalismo Diário”, de Ana Estela –, está entre as obras que guiarão a nossa jornada nos próximos meses. Sem medo dos números, vamos em busca das pautas.
Bom texto, hein? Português bem afiado e atualizado, uma mente arguta e precisa em um tom bem humorado: tem futuro essa menina.