Novo em Folha https://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br Programa de Treinamento Tue, 07 Dec 2021 12:48:26 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Sozinhos, números absolutos podem trazer informação imprecisa ou errada https://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/2014/07/02/sozinhos-numeros-absolutos-podem-trazer-informacao-imprecisa-ou-errada/ https://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/2014/07/02/sozinhos-numeros-absolutos-podem-trazer-informacao-imprecisa-ou-errada/#respond Wed, 02 Jul 2014 17:26:29 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/?p=2366 Os números são traiçoeiros –especialmente os absolutos que, sozinhos, não dizem nada ou ainda podem passar uma informação errada.

Quer ver?

Durante o 2º Treinamento em Ciência e Saúde da Folha fizemos um levantamento sobre casos de dengue nos países mais visitados pelos brasileiros.

O exercício fazia parte de uma apuração para um especial sobre dengue produzido pela turma, que foi publicado no último final de semana (leia aqui).

A novidade é que a dengue está se aproximando de países mais frios, onde não chegava antes. Os EUA, país mais visitado pelos brasileiros, passaram a registrar casos da doença em 2010.

Pois bem. Os números absolutos mostraram que os EUA registraram 543 casos da doença no ano passado. Já o Chile, que também é um destino comum de turistas brasileiros, teve 39 casos.

Então os EUA têm mais casos de dengue do que o Chile? Não, de forma nenhuma.  Para saber qual país tem mais incidência da doença é preciso considerar a população total.

Os EUA têm 313 milhões de pessoas; o Chile tem 18 milhões. Proporcionalmente, os EUA registram um caso para cada 576 mil pessoas, enquanto o Chile registra 1 caso para cada 461 mil.

Agora já dá para ter uma ideia de que a incidência da doença é maior no Chile do que nos EUA. Mas a informação ainda não está totalmente clara.

DENOMINADOR COMUM

Uma boa saída para simplificar a informação para o leitor é usar um denominador comum. Por exemplo, a incidência de uma determinada doença a cada 100 mil pessoas de um determinado país. É assim que a OMS (Organização Mundial da Saúde) faz suas contas.

Seguindo esse cálculo vemos que os EUA têm 0,17 caso para cada 100 mil pessoas e o Chile tem 0,21 caso por 100 mil pessoas. Não fica mais claro?

Mas essa incidência é alta ou baixa? Precisamos, agora, de uma comparação para dimensionar os dados. Eu tenho uma boa: o Brasil tem 734 casos de dengue para cada 100 mil pessoas. Ou seja: incidência altíssima de dengue.

A comparação usando um denominador comum é muito mais clara, mais informativa e até mais impressionante do que os dados divididos pela população total.

Já os números absolutos lá do começo do texto, sozinhos, não dizem muita coisa –e ainda podem levar a conclusões equivocadas.

 

]]>
0
Quando a pauta “cai”, a casa não pode cair https://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/2014/06/24/quando-a-pauta-cai-a-casa-nao-pode-cair/ https://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/2014/06/24/quando-a-pauta-cai-a-casa-nao-pode-cair/#respond Tue, 24 Jun 2014 11:00:17 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/?p=2349 Por Marilice Daronco

Fomos furados.

O jargão jornalístico “ser furado”, ou seja, ver a matéria ou assunto pelo qual você batalhou tanto ser publicado, geralmente por outro veículo, antes de seu texto sair, é quase tão ruim quanto “dar uma barrigada” (publicar uma informação errada).

Pois nós fomos furados na nossa primeira semana de treinamento na Folha, com a publicação de um especial sobre aumento de resistência a vacinas por parte dos pais. Veja abaixo.

Pais contrários a vacinação preocupam médicos no país

Entre médicos, minoria resista e vacinas

Sarampo preocupa Saúde durante a Copa

Esse era exatamente o tema do trabalho final da nossa 2ª turma de Treinamento em Jornalismo de Ciência e Saúde da Folha. Falaríamos sobre o aumento do número de pais que não querem vacinar seus filhos como “gancho” (outro jargão) para falar sobre vacinas em si.  

Essa ideia surgiu depois de uma missão recebida já no primeiro dia de trainee, quando fomos convidados a pensar em um assunto para o nosso projeto final.

Como dizem, missão dada é missão cumprida. Ainda sem nos conhecermos muito bem, começamos a conversar para discutir que assuntos seriam interessantes.

Fizemos uma reunião e escolhemos assuntos que nos pareciam sensacionais. Depois, falamos com as editoras do Treinamento a respeito do projeto e descobrimos que todos os temas elencados eram ótimos. Mas não eram pautas.

O jeito foi tratar de encontrar um assunto que rendesse. E conseguimos: vacinas!

O que não sabíamos era que já havia repórteres do jornal trabalhando o mesmo tema que estávamos pesquisando. Já havíamos ligado para especialistas, feito pesquisa e contatos. Estávamos sonhando com lindas infografias. Tudo como manda o figurino.

FURO

A ideia era boa mesmo, tanto que rendeu textos, fotos, infografia e muito o que falar no especial publicado pela Folha. Até o fechamento deste post, a reportagem principal  do material sobre vacinas tinha quase 6 mil recomendações no Facebook. Mas, depois dessa, a nossa pauta “caiu”.

Tivemos de escolher entre dois caminhos: sentar e chorar ou escolher outro assunto bem interessante e recomeçar, praticamente do zero. E não dá para jornalista ficar sentado chorando no cantinho, então, fizemos como naquela antiga música: levantamos, sacudimos a poeira e demos a volta por cima.

O novo assunto que escolhemos é bem legal, e está dando o maior trabalho. Se tudo der certo, em breve estará nas páginas da Folha. Afinal, nada de sermos furados de novo tão cedo!

 

Marilice Daronco é trainee da 2ª turma de Treinamento em Jornalismo de Ciência e Saúde da Folha, que tem patrocínio da Pfizer

]]>
0
Você já ouviu falar nas ilhas Faroë? https://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/2012/09/25/voce-ja-ouviu-falar-nas-ilhas-faroe/ https://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/2012/09/25/voce-ja-ouviu-falar-nas-ilhas-faroe/#comments Tue, 25 Sep 2012 19:36:56 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/?p=1521

Por Rayanne Azevedo, 23, trainee da turma 54

 

Eu não tinha ouvido falar. Ao menos não até bem pouco tempo atrás.

E antes que alguém me censure por assumir minha ignorância assim, tão descaradamente, eu torno a perguntar: você tem ao menos uma vaga ideia de onde esse lugar fica?

Formado por 18 ilhas, o território autônomo da Dinamarca é discreto. Tente encontrá-lo, entre a Escócia e a Islândia, quando tiver um mapa-múndi em mãos.

Foi durante o meu primeiro plantão na Folha que eu soube da existência do arquipélago.

Esforcei-me ao máximo para não deixar transparecer o nervosismo que senti na hora, mas devo ter sido traída pela cara de paisagem que fiz ao ouvir que, no feriado de 7 de setembro, eu estava escalada para a cobertura online minuto a minuto do embate futebolístico entre Alemanha e ilhas Faroë.

Tratava-se de um dos jogos da rodada inicial das eliminatórias europeias da Copa 2014.

Eu, que sou absolutamente incapaz de distinguir um volante de um meia de campo, acorri ao Google e ao site da União das Federações Europeias de Futebol (Uefa).

A cobertura foi um suplício. Tentava não desgrudar os olhos do jogo, mas acabava perdendo um ou outro lance enquanto registrava as jogadas.

Quando um jogador das ilhas Faroë ia ao chão, cobrava escanteio, chutava a gol ou era substituído, então, era uma desgraça: lá ia eu no site da Uefa checar o número da camisa para, só então, dar continuidade à cobertura.

Parece drama? Sugiro digitar Hjalgrím Elttør, Rógvi Baldvinsson ou Klæmint Olsen. Pior: tente relacionar os nomes impronunciáveis com os narrados pelos comentaristas na TV – nenhum deles fluente em feroês.

No fim das contas, virei-me como pude. Por sorte, a grande estrela da seleção feroica foi o goleiro Gunnar Nielsen. Esse era moleza de digitar.

Nielsen brilhou na defesa: dos dez chutes a gol, barrou sete. Mas a Alemanha levou a melhor e marcou três gols.

Ao final da cobertura, veio o saldo de erros. Nada grotesco, à exceção da descrição dos gols, que eu deixei passar (ops, eu disse nada grotesco?). (Se quiser ler a cobertura, ela está aqui.)

Naquele dia, dentre todas as editorias possíveis do jornal, o destino calhou de me pôr justamente na única que eu sempre evitei: esportes.

Há muitas coisas legais em ser jornalista. Uma delas é ter a chance de aprender algo novo todos os dias. A parte frustrante é se dar conta de que quanto mais você expande seus conhecimentos, mais consciente se torna da sua ignorância ante a vastidão de assuntos sobre os quais o jornalismo se debruça.

A experiência do plantão serviu para reafirmar essa certeza.

Imagem do site oficial da organização de futebol das ilhas Faroë mostra a seleção nacional

 

 

]]>
3
Os jornalistas e os números https://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/2012/09/17/os-jornalistas-e-os-numeros/ https://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/2012/09/17/os-jornalistas-e-os-numeros/#comments Mon, 17 Sep 2012 19:33:36 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/?p=1452 Por Giuliana de Toledo, 22, trainee da turma 54

“Jornalista não sabe nada de matemática” é uma das frases que acompanham a profissão. É dita, muitas vezes, até com certo orgulho pelos colegas, que, provavelmente, traumatizados por experiências ruins no colégio, decidiram abolir as exatas da vida profissional. Grande engano.

Até sem dar-se conta, quem lida com informação trabalha também, e muito, com números –da cobertura do mercado financeiro às notícias culturais. Está certo que a “nossa” matemática depende menos das fórmulas que aprendemos na escola e mais de olhar atento e raciocínio lógico.

Com a Lei de Acesso à Informação, embora muitos órgãos ainda resistam ou tardem em liberar seus dados, temos à disposição milhares de estatísticas que são fontes ricas para pauta.

O contraexemplo mais claro está na cobertura do Censo do IBGE, que, em grande parte da imprensa, fica limitada aos dados oferecidos “mastigados” e entregues aos jornalistas pelos assessores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. As preciosidades, no entanto, podem estar justamente nas tabelas que ninguém nas redações se anima a desvendar.

Nessas duas primeiras semanas de treinamento, boa parte das nossas atividades têm o objetivo de nos mostrar as ferramentas necessárias para “domar” e interpretar as imensas tabelas de dados que se podem baixar nos sites de diversos órgãos públicos.

E que alegria quando vêm em formato Excel, porque, quando estão em PDF, o trabalho aumenta sensivelmente… É um tal de copiar e ajustar todos os dados em colunas e linhas do programa, uma tarefa inglória. É por isso que o meu conterrâneo Marcelo Soares, nosso tutor no treinamento e autor do blog Afinal de Contas, não cansa de repetir que disponibilizar dados em PDF não é transparência de verdade. “PDF é um formato do mal”, brinca.

Foto: reprodução

“The New Precision Journalism”, do pai do jornalismo de dados, Philip Meyer – ao lado do “Manual da Redação” e de “Jornalismo Diário”, de Ana Estela –, está entre as obras que guiarão a nossa jornada nos próximos meses. Sem medo dos números, vamos em busca das pautas.

 

 
]]>
1
Processos e outros lados https://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/2012/05/30/processos-e-outros-lados/ https://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/2012/05/30/processos-e-outros-lados/#respond Wed, 30 May 2012 21:44:47 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/?p=1037 A trainee Daniela Arai e seus colegas fizeram algumas reportagens com orientação do professor Gustavo Romano, sobre investigações ou processos de crimes. Ela conta um pouco sobre as dificuldades que eles enfrentaram nessas apurações:

Na semana passada, tivemos um curso de direito com o professor Gustavo Romano e fizemos uma série de exercícios de reportagem. Uma das atividades consistia em retomar casos de crimes noticiados pelo jornal e escrever reportagens sobre o andamento dos inquéritos ou processos.

A mim coube investigar, primeiro em grupo e depois em dupla, o caso do homicídio do presidente do Sindicato dos Camelôs Independentes de São Paulo, ocorrido em 2010, e o caso do sequestro e morte de um jornalista, em 2003.  Nos dois casos tentamos, mas não conseguimos ter acesso aos documentos oficiais.

Para compor a primeira matéria, conversamos com a delegada do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa responsável pelo caso e ela nos informou que o inquérito policial não estava concluído e havia sido mandado ao Fórum da Barra Funda para que o juiz analisasse um pedido de mandado de busca e apreensão. Fomos até o fórum e descobrimos que o inquérito não estava lá. Fizemos a matéria apenas com as informações prestadas pela delegada.

No segundo caso, começamos a apuração com uma pesquisa no site do Tribunal de Justiça de São Paulo e descobrimos que estava em andamento um processo envolvendo cinco acusados de praticar o crime. Segundo os dados do TJ, o processo também deveria estar no Fórum da Barra Funda. Minha colega Carol foi até lá e descobriu que não estava (e não é que alguém houvesse retirado para consultar, não estava mesmo). Fizemos a matéria apenas com as informações obtidas com o advogado de acusação contratado pela família da vítima.

As duas matérias foram produzidas com informações de apenas uma fonte porque não conseguimos acessar o inquérito e o processo e não tínhamos tempo para descobrir por outros meios os nomes dos promotores e advogados de defesa e entrar em contato com todos eles (tínhamos cerca de quatro horas para apurar e escrever). O ‘outro lado’ ficou de fora.

Tanto a Ana Estela quanto o Gustavo Romano atentam para a importância de se ouvir o ‘outro lado’ ou os ‘outros lados’. No livro ‘Jornalismo Diário’, a Ana ensina que, se não for possível ouvir o acusado ou o seu advogado, deve-se pelo menos consultar o processo e copiar a versão da defesa. E quando não temos acesso ao processo?

Se fosse na ‘redação real’, essas matérias teriam caído, mas fazia parte do exercício levá-las até o fim. Para quem, como eu, está trabalhando pela primeira vez com esse tipo de apuração, fica a dica: para casos que envolvam questões judiciais, reserve mais tempo além do que achar necessário, pois os processos podem não estar onde deveriam estar, podem estar perdidos no limbo do Judiciário.

]]>
0
Como se fosse a primeira vez https://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/2012/05/21/como-se-fosse-a-primeira-vez/ https://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/2012/05/21/como-se-fosse-a-primeira-vez/#comments Mon, 21 May 2012 20:01:21 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/?p=983 A trainee Carolina de Andrade usou em um exercício a técnica de se debruçar sobre o assunto como se não soubesse nada sobre ele. Pode parecer estranho, mas muitas vezes os erros vêm de coisas sobre as quais temos “certeza” e depois verificamos estar erradas, daí a importância disso que ela fez.

Semana passada nós fizemos um exercício já ‘famoso’ no treinamento: escrever o obituário de uma pessoa que ainda está viva. Por mais que não me agrade a ideia de matá-lo, ainda que de brincadeirinha, escolhi o David Bowie. Não sou nenhuma especialista em sua trajetória, mas já sabia de uma ou outra coisa.

O que fiz nesse exercício e que pode ser útil no futuro (em alguns casos) foi pesquisar sobre o assunto como se não fizesse ideia de quem fosse, o que acredito ser um bom jeito de evitar erros (pequenos ou grandes).

Um exemplo: muita gente acha que os olhos do Bowie são de cores diferentes. Não é verdade. Lendo qualquer boa biografia sobre ele, você descobre que ele machucou um dos olhos em uma briga e a sequela foi a dilatação permanente da pupila. Por causa disso, o olho que na verdade é azul parece castanho.

O exemplo é bobo, mas já vi a explicação errada publicada muitas vezes. Uma pessoa lê a informação publicada em um veículo confiável e a passa adiante infinitamente. Pelo menos até que alguém decida que vale a pena pesquisar aquilo de novo…

Não acho que em todos os casos seja vantajoso se debruçar sobre um assunto como quem não sabe nada sobre ele. Mas pode ser útil, por exemplo, antes de entrevistar um figurão da política ou um especialista em algum tema que o jornalista não domina. Além de evitar gafes, pode ajudar a fugir do óbvio no caso de temas mais batidos.

]]>
1
A dificuldade de pautar a si mesmo https://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/2012/05/04/a-dificuldade-de-pautar-a-si-mesmo/ https://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/2012/05/04/a-dificuldade-de-pautar-a-si-mesmo/#comments Fri, 04 May 2012 16:34:46 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://novoemfolha.blogfolha.uol.com.br/?p=864 Hoje começamos a publicar posts escritos pelos trainees da 53ª turma do Programa de Treinamento, que começou no dia 17/4. Eles vão escrever sobre exercícios e atividades que fazem no programa e sobre as experiências deles ao apurar, escrever e editar reportagens.

O primeiro post, da trainee Carolina de Andrade, é sobre um exercício que os trainees fizeram em que tinham que achar, apurar e escrever uma pauta própria na rua (quer dizer, não foram pautados por um editor; cada um decidia o que fazer).

O relato da Carolina:

Semana passada nós trainees recebemos uma missão: encontrar uma pauta na rua, apurá-la e transformá-la em uma matéria.

Moro próximo a de um dos ecopontos da Prefeitura de São Paulo e em várias ocasiões vi estulho descartado nos arredores, especialmente às margens do córrego que passa em frente ao local. Sempre achei que ali tinha uma boa pauta, então resolvi investir nessa história. Peguei os endereços de alguns ecopontos próximos da Folha e da minha casa e fui apurar minha pauta – pauta e não pré-pauta, já que eu tinha certeza de que ela se sustentava.

Algumas horas e cinco ecopontos depois, minha pauta havia caído feito jaca madura e sem chances de salvação: não encontrei entulho nem perto nem mais ou menos perto dos ecopontos que visitei. Eu estava tão certa de que o que eu esperava aconteceria que fiquei sem rumo quando minha (pré-)pauta caiu.

Acho que nessa hora pesaram muito a falta de jogo de cintura e de experiência (sou formada em ciências sociais e estou começando agora no jornalismo). O excesso de confiança na pauta fez com que eu apostasse todas as minhas fichas em uma coisa só e não pensasse em um plano B.

Depois do baque, fui caçar outra pauta na rua na noite seguinte. Dei a sorte de trombar com um ensaio de bateria no vão do Masp, na avenida Paulista. Era possível ouvir a música à distância e muitos transeuntes paravam para ouvir. Achei curioso e já parti para a apuração. Peguei depoimento de alguns dos espectadores e esperei o fim do ensaio para conversar com alguém da bateria. Eles me disseram que não poderiam falar naquela hora porque precisavam ir à aula (era a bateria de uma faculdade). Um deles se prontificou a falar comigo no dia seguinte e me passou seu telefone.

Na tarde seguinte eu planejei mais ou menos o que escreveria e liguei para o meu contato, para pegar as informações que faltavam, nada muito complexo. Ele disse que estava ocupado e pediu que eu ligasse novamente mais tarde. Liguei várias vezes depois e só consegui falar com a caixa postal. Deixei recado com meu telefone e e-mail, mas ele não retornou. A essa altura, meu prazo já havia acabado e eu tinha uma pré-pauta caída, uma pauta que não consegui terminar de apurar e nenhum texto para entregar.

Disso tudo tirei duas lições: primeiro, é sempre bom ter uma carta na manga. Até a pauta mais certa do mundo pode cair. Segundo, às vezes é preciso ser insistente. Eu poderia ter tentado perguntar o que precisava já naquela hora ou acompanhado o rapaz no caminho até a faculdade. Por medo de ser inconveniente, acabei deixando para depois e fiquei sem matéria. Se eu estivesse no dia-a-dia da redação e não no treinamento, talvez ficasse em uma situação complicada.

E você, já teve dificuldade para apurar uma pauta que você mesmo inventou?

]]>
6