Agência cria banco de imagens gratuitas de brasileiros sem estereótipos
Paulo Ricardo Martins
“Um banco de imagens de pessoas reais para pessoas iguais, cada uma do seu jeito.” É assim que se apresenta o site “Brasil com S”, que reúne fotos gratuitas de pessoas sem estereótipos, criado neste mês.
Nas imagens, corpos negros, femininos e gordos ocupam cenários que vão desde uma rua em frente à fachada de um prédio moderno até uma confraternização que lembra o clássico churrasco de laje.
O projeto é uma iniciativa do LAB 678, agência de publicidade e design, e disponibiliza cerca de 240 fotos em seu endereço virtual.
Segundo o diretor criativo do site, Hugo Gunzburger, havia uma dificuldade constante por parte da equipe para achar fotos em bancos de imagens. Mas um obstáculo ainda maior era encontrar materiais que contemplassem todas as diferenças que fazem parte da população brasileira. Então, tiveram a ideia de fazer seu próprio catálogo.
“Se é algo em que a gente acredita, não adianta nada tentar verbalizar para o cliente e continuar seguindo a mesma coisa”, diz Gunzburger.
A equipe, de dez pessoas, organizou todo o ensaio durante quatro meses, de forma remota devido à pandemia. Para encontrar os modelos, a agência buscou no Instagram usuários dispostos a fazer o trabalho. “Queríamos pessoas das quais falássemos ‘conheço ela de algum lugar’.”
As sessões de fotos foram realizadas em agosto, no estacionamento do Shopping Nova América, na Zona Norte do Rio. Foram montados três cenários diferentes, que simularam locais mais despojados e outros mais formais.
Landara Marcele Oliveira de Araujo, 24, foi uma dos quatro modelos que posaram para o projeto. Trabalhando no ramo há um pouco menos de um ano, ela conta que tem dificuldades para encontrar empregos, ainda que faça parte de uma agência de modelos. Hoje, depende das pinturas e desenhos que faz e vende.
“Este período tem sido muito difícil, não só pela pandemia, mas porque não é fácil arrumar trabalho sendo uma mulher negra e gorda”, afirma.
Para Landara, o diferencial do projeto foi a oportunidade de ser ela mesma em todos os momentos durante as fotografias.
“Pensei: ‘Eu não vou estar em um projeto no qual o meu corpo estará subalterno e estereotipado, pelo contrário, vai dar um olhar a mais de representatividade.’ É importante trazermos um olhar expansivo sobre quem a gente é.”
Conforme diz Hugo Gunzburger, a ideia é que o projeto continue se expandindo e consigam atualizar o site regularmente com mais fotos.
“Mesmo que a gente faça um projeto de dez anos, sempre vai estar faltando alguma coisa. Graças a Deus, vivemos num país culturalmente muito rico. Então, é tentar trazer um pouquinho desses novos olhares e tornar isso público e usável.”
Em breve, o “Brasil com S” irá disponibilizar, também, a fonte do título do projeto, como forma de inspiração e material para outras iniciativas.