Artigo do The Washington Post comenta mudanças na cobertura de política nos EUA
Em artigo publicado no The Washington Post, o jornalista e colunista Perry Bacon Jr. aponta como o site Politico, organização de jornalismo voltada para assuntos de política, mudou a forma como os jornais conduzem a cobertura deste setor.
Vendido no mês passado para a empresa de mídia alemã Axel Springer por cerca de US$ 1 bilhão –três vezes o valor pago por Jeff Bezos na compra do The Post–, o jornal começou em 2007, quando identificou dois problemas na cobertura de política americana: a lentidão e a monotonia. Segundo Bacon Jr., o Politico foi o primeiro a fazer coberturas aceleradas do Capitólio e a reconhecer que existe um público que ama os bastidores da política.
A cobertura política, para Bacon Jr, tinha outros problemas: viés por políticas bipartidárias ou centristas, pouca diversidade racial entre os jornalistas, obsessão em manter boas relações com republicanos (que consideravam a mídia muito de esquerda), pouca cobertura em outros estados além de Washington e a forma de tratar o jornalismo político como esporte.
O Politico abraçou todos esses desafios e se tornou muito influente. Era um versão mais rápida e interessante dos outros jornais, que começaram, por sua vez, a tentar se igualar ao novato.
A partir de então, Bacon Jr. diz que “as coisas deram errado”. A abordagem do Politico, segundo ele, é adequada se for usada em coberturas de políticos e partidos que compartilham valores e normas. Mas, embora o governo de Barack Obama parecesse ter dado início a uma era de política menos divisora, com o fim dos conflitos sobre raça e identidade, essas lutas não tinham acabado. Elas, talvez, tenham ficado mais tensas.
A imprensa ignorava essas realidades e agia como se a oposição a Obama fosse apenas porque tinha ideias mais progressistas e não pelo fato de ter se tornado um símbolo de um país multicultural que incomodava muitos da direita. Para não desagradar os leitores republicanos, a mídia se recusou a definir o partido de George W. Bush e Donald Trump como radical e racista quando não reconheceram a nacionalidade americana de Obama.
Durante a campanha presidencial de 2016, a imprensa se esforçou para passar a ideia de que os eleitores de Donald Trump, que dizia ser necessário construir um muro entre os EUA e o México e expulsar das terras americanas imigrantes muçulmanos, estavam expressando uma “ansiedade econômica” ou a vontade de ter um político outsider.
Nas eleições de 2020, esse tipo de cobertura, que contava com insiders, apontava para a falta de intenção do ex-presidente em contestar as eleições. Os repórteres sem acesso à equipe da Casa Branca, entretanto, lembraram da sequência de comportamentos antidemocráticos de Trump.
Na visão de Bacon Jr., as matérias desses jornais, inclusive do Politico, começaram a mudar na tentativa de golpe. Havia mais reportagens sobre os esforços dos republicanos para dificultar a votação e as falas racistas de Trump. Isso se deu, principalmente, pelo aumento da contratação de repórteres negros.
Hoje, no governo Biden, a imprensa já demonstra que irá cobri-lo de forma crítica. Para o colunista, o jornalismo político americano está se “des-Politico-zando” e é “melhor tarde do que nunca”.