Recusa de tenista a participar de coletiva reacende debate sobre relação com a imprensa
A tenista japonesa Naomi Osaka trouxe de volta ao debate público as discussões sobre a relação entre a imprensa e os atletas, além da saúde mental dos últimos. Osaka negou-se a dar entrevista depois de sua estreia no torneio Roland Garros, em Paris, no dia 30 de maio.
A esportista já tinha avisado que não concederia entrevistas, afirmando que o contato obrigatório com a imprensa afeta a saúde mental dos competidores. Desde 2018, Osaka vem sofrendo de um quadro depressivo.
A organização do evento multou Naomi em US$ 15 mil (cerca de R$ 78 mil) e anunciou que ela estaria sujeita a novas sanções, incluindo a desclassificação no torneio.
Na segunda-feira, entretanto, a tenista decidiu desistir da competição. “Ficamos lá e ouvimos perguntas que já foram feitas várias vezes ou perguntas que colocam dúvidas em nossas mentes, e não vou me sujeitar a pessoas que duvidam de mim”, disse Naomi Osaka em carta aberta no Twitter.
Coletivas de imprensa são obrigatórias para os competidores, sendo uma cláusula a ser cumprida no contrato. Segundo reportagem do The New York Times, a pandemia ocasionou a perda de centenas de milhões de dólares para os torneios esportivos e, por isso, tornar opcional a aparição da jogadora jovem mais proeminente do tênis prejudicaria a publicidade global gratuita que os jogos recebem, assim como a audiência em canais de televisão e a exposição do evento na mídia.
Donald Dell, fundador do torneio masculino, diz que o acesso da mídia às grandes estrelas é fundamental para promover qualquer esporte. “Quando Serena [Williams] perde uma final quando está indo para o recorde do Grand Slam, não é divertido ir a uma coletiva de imprensa, mas faz parte do esporte e parte da tentativa de construir um esporte maior.
Outros atletas se posicionaram a favor da colega. Sua rival no tênis, Serena Williams, disse que queria poder dar um abraço nela. “Sei como é. Estive nessas posições.”
O heptacampeão da Fórmula 1, Lewis Hamilton, criticou a organização e disse estar desapontado por multarem alguém que “está se abrindo e sendo honesta ao expressar um problema”.
Outras celebridades do mundo do esporte discordaram das atitudes de Osaka. Ashleigh Barty, atual número um do mundo no tênis, negou que coletivas são difíceis. “Certamente não me faz perder o sono o que eu digo e ouço ou o que vocês me perguntam.”
Rafael Nadal diz respeitar Naomi e sua decisão, mas afirma que “a mídia é uma parte muito importante do tênis”.
Após a repercussão, a organização do Roland Garros mudou o discurso, demonstrou apoio à tenista e disse que trabalharão para “criar melhorias significativas”.
O torneio, que começou sua segunda rodada hoje (02/06), segue até o dia 13.