Em seu bicentenário, britânico The Guardian lembra os melhores títulos do jornal

O jornal britânico The Guardian publicou uma seleção dos melhores títulos e manchetes de sua história como parte das comemorações de seu bicentenário, completado no último dia 5.

“Um bom título não vai vender só a história a que se refere, mas o próprio jornal. Ele deve ser curto, preciso, decente, rítmico, de bom tom e uma insinuação perfeita das 900 palavras seguintes”, diz o texto, que pode ser acessado, em inglês, no site do jornal.

Embora tenha 200 anos, o Guardian só passou a publicar manchetes na primeira página há menos de 70 anos, a partir de setembro de 1952. Até aquele momento, a primeira página do jornal era dedicada a anúncios e classificados.

Alguns títulos, além dos que fazem uso de figuras de linguagem e som, se referem a outros acontecimentos. O título para uma resenha de 1977 do filme Guerra nas Estrelas, “Lucas in the sky with diamonds” (“Lucas no céu com diamantes”), brinca com a canção Lucy in the Sky with Diamonds, dos Beatles, lançada cerca de 10 anos antes, para falar do sucesso do diretor George Lucas.

Outros títulos, ainda que de forma leve, ajudam a chamar atenção para notícias com uma temática mais pesada. Exemplo disso é o vencedor de 2002 da competição interna que o jornal faz dos melhores títulos publicados: “The banned played on” (“Os banidos continuaram a tocar”) brinca com as palavras de mesmo som band (banda) e banned para anunciar a história de músicos que desafiavam o Taleban.

 

Veja 10 títulos e manchetes selecionados pelo Guardian:

 

Amo, amas … a mouse mat? Vatican’s Latin test

Amo, amas… um tapete de rato? A prova de latim do Vaticano

O título brinca com a semelhança entre o som das conjugações do verbo amar em latim e as palavras “mouse mat” –que não fazem sentido na frase– para falar sobre a tentativa do Vaticano de incentivar o uso do latim, idioma estudado e parte da liturgia católica, mas não mais utilizado para comunicação cotidiana.

 

But is it weather?

Mas isso é clima?

O título de uma pequena nota sobre uma exposição com a temática do clima, na seção de meteorologia, faz referência à frase “But is it art?” (“Mas isso é arte?”).

 

Champagne super over

Quando a Inglaterra venceu a copa do mundo de críquete contra a Nova Zelândia, em 2019, depois de um “super over” –espécie de prorrogação do esporte– que também terminou empatado e foi decidido por um detalhe, o jornal brincou com o título da música “Champagne Supernova”, da banda britânica Oasis, para noticiar a vitória.

 

A man, a plan, a canoe: Panama

Um homem, um plano, uma canoa: Panama

Título de 2008 brinca com um famoso palíndromo (frase ou palavra que é a mesma se lida de trás para frente) de língua inglesa, “A man, a plan, a canal: Panama”, para contar a história de um casal que foi pego após fraudar o seguro de vida, alegando que o homem havia morrido num acidente de caiaque, e fugir para o Panamá.

 

From the ladle to the grave

Da concha ao túmulo

Em notícia sobre protestos de merendeiras contra o aumento da idade de aposentadoria da categoria, título de 2010 brinca com a frase “From the cradle to the grave” (“Do berço ao túmulo”), expressão que representa algo que dura por toda a vida.

 

Hung, withdrawn and re-quartered

Enforcada, retirada e re-esquartejada

Acompanhado da foto da então primeira-ministra britânica Theresa May, o título choca pela ambiguidade das três palavras usadas.

A notícia referia-se à polêmica ocorrida na Universidade Oxford, onde May se formou, sobre a inclusão de um retrato da primeira-ministra numa exposição. “Hung” pode ser traduzido também como “pendurada”, “withdrawn” pode se referir tanto à retirada do quadro da parede quanto à retirada da primeira-ministra de seu cargo, e “re-quartered” também pode significar algo como “realocada”. 

 

I fed the newts today, oh boy

Eu alimentei as salamandras hoje

O título sobre a história da infância de John Lennon em meio à natureza brinca com o primeiro verso da música “A Day in the Life”, dos Beatles, que diz “I read the news today, oh boy” (“Eu li as notícias hoje”).

 

Metaphorically speaking: How Van-Tam is beating the PM at his own game

Metaforicamente falando: como Van-Tam está vencendo o primeiro-ministro no seu próprio jogo

Durante a pandemia do novo coronavírus, o primeiro-ministro Boris Johnson abusou do uso de metáforas em seus pronunciamentos –segundo o jornal, mais como uma tentativa vergonhosa de enrolar a população do que comunicar, sem firulas, o que era necessário. O contraste era feito por Jonathan Van-Tam, que ocupava o cargo equivalente ao Ministro da Saúde, e fazia analogias claras e úteis para comunicar com efetividade sobre a pandemia.

 

This charming man: Morrissey states his views on the Guardian

Esse homem encantador: Morrissey expõe sua opinião sobre o Guardian

O título usa o nome de uma famosa música do The Smiths, banda da qual Morrissey foi o vocalista, para ironizar o cantor, que aparece em uma foto usando uma camiseta com a frase “Fuck The Guardian” (Dane-se o Guardian).

 

Zhumaskaliyev stuns Serbia for make benefit glorious nation of Kazakhstan

Zhumaskaliyev atordoa Sérvia para beneficiar a gloriosa nação do Cazaquistão

Ao noticiar a vitória do time de futebol do Cazaquistão no primeiro jogo da equipe depois de ter ingressado na Uefa (confederação europeia de futebol), o autor da reportagem fez referência ao “mockumentary” (documentário simulado ou satírico) Borat, do inglês Sacha Baron Cohen. 

No filme, cujo subtítulo tem a mesma fórmula do título da reportagem (“Borat: Cultural Learnings of America for Make Benefit Glorious Nation of Kazakhstan”, em inglês), Cohen encarna um suposto jornalista cazaque que vai aos Estados Unidos e interage com a população local.