Jornal americano envolve comunidade em apuração de reportagem

(Unsplash)
treinamento

E se o jornalismo informasse com uma comunidade local, em vez de só informar sobre ela?

O chamado jornalismo de soluções é uma abordagem que se propõe a falar sobre o que funciona e como as pessoas respondem aos desafios existentes, em oposição a uma cobertura focada nos problemas.

No Minneapolis Star Tribune, jornal de Minnesota (EUA), a Redação cobriu os esforços para impedir o recrutamento de jovens da comunidade somali na região por radicais islâmicos.

Para fazer a cobertura, foi instalado um “ponto de escuta” em espaços como uma universidade e um café frequentados pelos imigrantes. Era basicamente um microfone com um gravador e um mural de perguntas, a partir dos quais qualquer um poderia deixar uma mensagem ou iniciar uma conversa.

Também foram convidados membros diversos da comunidade somali para rodas de conversa na Redação, com a presença de um facilitador. Uma rodada de conversas foi feita também nas vizinhanças da comunidade somali.

“Buscamos membros influentes da comunidade para participar, mas que não fossem representantes eleitos ou tivessem agenda política”, explicou Kate Parry, editora do Star Tribune.

Parry fez uma palestra para jornalistas no dia 30 de abril, em atividade que faz parte de um treinamento da Fundação Gabriel García Marquez e da Solutions Journalism Network.

Em 2017, o então presidente Donald Trump proibiu a entrada de pessoas vindas de alguns países de maioria muçulmana, incluindo a Somália, que tem uma comunidade de imigrantes de cerca de 93 mil pessoas nos Estados Unidos, segundo estimativa do órgão responsável pelo censo demográfico americano.

A cobertura do Minneapolis Star Tribune não se limitou à comunidade migrante: a história de maior audiência da cobertura foi um tour e mapa interativo feito com uma câmera 360°

pelo bairro conhecido como Little Mogadishu (Mogadício é a capital da Somália), pouco frequentado pela maioria da população não somali. Os vídeos produzidos foram narrados por pessoas que trabalhavam ou moravam ali.

Parry conta que os moradores somali são, em geral, céticos em relação à imprensa, o que essa abordagem colaborativa contribuiu para mudar. “Entrar com uma câmera no Starbucks de Little Mogadishu calava o lugar.”

Embora seja um assunto local, um vídeo produzido no escopo dessa cobertura dá a dimensão do alcance da abordagem, segundo Parry. Com os depoimentos de crianças somali sobre preconceito nas escolas, o vídeo teve mais de 650 mil visualizações e 300 comentários na página do Facebook do jornal. “Ressoou nos leitores”, diz Parry.

A editora diz que um dos objetivos era aprofundar o debate sobre a comunidade somali de modo geral. “Não dá para dizer que a cobertura mudou a política pública, mas queríamos elevar o nível da conversa, e fizemos isso”, diz.