New York Times recusa artigo em que colunista critica jornal por caso que levou repórter a se demitir

O tabloide americano New York Post publicou na última quinta-feira (11) um artigo de Bret Stephens no qual ele critica o The New York Times, jornal em que é colunista de opinião, pela maneira como lidou com o caso que levou à saída de Donald McNeil​, que era repórter de ciência do veículo.

De acordo com o tabloide, o colunista reclamou com colegas do Times de que o publisher A. G. Sulzberger rejeitou publicar seu artigo. A editora de opinião do Times, Kathleen Kingsbury, afirmou ao site The Daily Beast que partiu dela a decisão de não veicular o texto.

“Tenho uma exigência alta em publicar qualquer coluna que possa refletir negativamente em um colega e não achei que este caso alcançasse o nível desejado”, disse a editora.

O jornalista especializado em ciência Donald McNeil deixou o Times no dia 5 de fevereiro. Com experiência na cobertura de pandemias, ele estava havia 46 anos no jornal, tendo feito reportagens em 60 países.

O divórcio entre o repórter e o Times aconteceu após surgirem críticas de que ele havia feito comentários racistas ou sexistas em uma viagem para estudantes promovida pelo jornal ao Peru, em 2019. Pelo menos seis alunos e seus pais reclamaram da conduta do jornalista, que chegou a citar uma palavra pejorativa para se referir a pessoas negras.

Em um comunicado no qual pediu desculpas aos colegas do jornal, McNeil afirmou que usou a palavra pejorativa em uma conversa com um estudante. Seu objetivo era entender o contexto da pergunta sobre um aluno que havia sido suspenso por ter citado o termo em um vídeo.

No artigo, agora divulgado pelo New York Post, o colunista Bret Stephens critica o Times pela forma com que lidou com o caso, afirmando que os editores erraram em não julgar a intenção do jornalista Donald McNeil quando mencionou o termo racista.

“Avaliar se houve intenção significa saber a diferença entre um assassinato e um homicídio culposo”, ele argumenta.

O colunista ainda questiona a reviravolta na decisão do editor-executivo do Times, Dean Baquet, sobre o caso. Em um comunicado à Redação, Baquet disse que havia decidido dar mais uma chance para McNeil após ter feito uma investigação e chegado à conclusão de que ele não havia tido más intenções.

Um grupo de funcionários do jornal reagiu à declaração, e dias depois o editor-executivo voltou atrás em sua decisão, dizendo que o jornal não tolera linguagem racista, independentemente da intenção.

Stephens afirma que o artigo não é sobre o caso específico do jornalista, nem é uma negação sobre como o termo pejorativo pode ferir as pessoas.

“Este é um argumento sobre três palavras: “Independentemente da intenção”. A intenção deve ser a única coisa que conta em um julgamento? Claro que não. As pessoas podem fazer coisas dolorosas, prejudiciais, estúpidas ou questionáveis, independentemente da intenção? Claro”.

“Alguém deseja viver em um mundo, ou trabalhar em uma profissão, em que a intenção é categoricamente descartada como um fator atenuante? Espero que não”.

Ele ainda defende que é papel dos jornalistas, mais que de outros profissionais, avaliar a intenção, fornecer contexto, explorar nuances, explicar os diferentes tipos de significado.

“O jornalismo faz essas coisas para ensinar seus profissionais e consumidores a serem atenciosos. Há uma diferença fundamental entre citar uma palavra para conhecimento e compreensão e usar a mesma palavra com o objetivo de insultar e causar dano”.​