No Wall Street Journal, escritor questiona título de doutora de primeira-dama dos EUA e é acusado de sexista

A próxima primeira-dama dos Estados Unidos, Jill Biden, 69, tem extenso currículo acadêmico. Professora de inglês em faculdades locais, ela fez dois mestrados e concluiu doutorado em ciências da educação.

Quando seu marido, o presidente eleito Joe Biden, era vice no governo de Barack Obama, ela seguiu lecionando, e já sinalizou que pretende fazer o mesmo agora que ele foi o escolhido para a Casa Branca.

Em razão dos títulos acadêmicos, desde a campanha de Obama, em 2008, Jill usa nas redes sociais o apelido de dr. Jill Biden —o mesmo que doutora Jill Biden, em português —, uma forma de se referir a quem obteve doutorado em alguma área.

Um articulista do Wall Street Journal tentou desqualificar o uso do termo pela futura primeira-dama americana em texto publicado na última sexta (11). Em resposta, recebeu inúmeras críticas que apontavam o conteúdo sexista do artigo.

Joseph Epstein, escritor e ex-professor da Universidade Northwestern, diz que se autodenominar dra. Jill Biden seria fraudulento, e ironiza o fato de Jill não ser médica, já que a palavra “doctor”, assim como no português, é comumente usada para se referir à categoria.

“O doutorado pode um dia ter tido prestígio, mas isso tem sido diminuído pela erosão da seriedade e dos padrões da educação geral”, diz um trecho.

Epstein argumenta que o título de doutor (ou doutora, no caso) tem perdido valor e é usado mais como status do que como demonstrativo de conhecimento. Logo no início do texto, porém, ele chega a se referir a Jill como “kiddo”, palavra em inglês cuja tradução literal é “criança”, mas que pode ser usada pejorativamente para chamar alguém de imaturo ou “moleque”.

Nas redes sociais, usuários e personalidades políticas se manifestaram acusando o escritor de ser sexista e buscar diminuir as titulações de uma mulher. A hashtag #DrBiden começou a ser usada.

A própria Jill Biden se manifestou no Twitter. “Juntos, construí​remos um mundo onde as realizações de nossas filhas serão celebradas, em vez de diminuídas”, disse.

A ex-primeira-dama Michele Obama também comentou o episódio no Instagram. “Com muita frequência, nossas realizações são recebidas com ceticismo, até mesmo com escárnio. Somos questionadas por aqueles que preferem a fraqueza do ridículo à força do respeito. (…) Este é o exemplo que queremos dar para a próxima geração?”


A democrata Hillary Clinton escreveu: “O nome dela é Dra. Jill Biden. Se acostume.”

Bernice King, filha mais nova do ativista Martin Luther King (1929 – 1968), disse: “Querida Jill Biden, meu pai foi um doutor não-médico, e seu trabalho beneficiou muito a humanidade. O seu trabalho também.”

A universidade na qual Epstein deixou de lecionar em 2003 também se manifestou. Em comunicado à imprensa, a Northwestern disse que apoia a designação de “doutor” para todos que tenham obtido doutorado, e que “discorda das visões misóginas de Epstein”.