Projeto racial do New York Times volta a ser criticado

O The 1619 Project, especial publicado pelo The New York Times sobre o papel de negros escravizados na fundação dos EUA, se tornou novamente alvo de críticas.

Na sexta-feira (9), Bret Stephens, colunista de opinião do jornal, afirmou que o projeto falhou. Entre as críticas, citou um texto da Quillette, revista digital australiana que acusa o NYT de ter editado o texto de abertura do projeto.

De acordo com a revista, o jornal americano retirou da versão original o trecho que afirmava que 1619 — ano que marca o início da escravidão nas colônias norte-americanas — era a data real de fundação do país, e não 1776, quando foi conquistada a independência da Inglaterra.

O especial já havia causado controvérsia entre historiadores no ano passado, quando foi lançado. Na ocasião, o jornal foi acusado de fazer um revisionismo histórico e se posicionou em dezembro sobre a escolha editorial.

“Embora aceitemos críticas, não acreditamos que o pedido de correções para o Projeto 1619 seja justificado”, afirmou Jake Silverstein, editor-chefe do jornal.

Na versão original do projeto, publicada em agosto de 2019, o texto de abertura da reportagem afirmava que o objetivo do trabalho era “reenquadrar a história do país, entendendo 1619 como nossa verdadeira fundação, e colocando as consequências e as contribuições de negros americanos bem no centro da história que contamos a nós mesmos sobre quem somos”.

Hoje, o texto de abertura diz que o objetivo do projeto é “reformular a história do país, colocando as consequências da escravidão e as contribuições dos negros americanos no centro de nossa narrativa nacional”.

“Os leitores podem julgar por si próprios se essas mudanças [do texto] não reconhecidas violam as obrigações de transparência do jornalismo do New York Times. A questão das práticas jornalísticas, no entanto, levanta dúvidas mais profundas sobre as premissas centrais do Projeto 1619”, afirmou Bret Stephens na coluna.

A crítica de Stephens ao Times foi noticiada pela CNN e pela Fox News na segunda-feira (12). Em resposta ao projeto do Times, o presidente Donald Trump anunciou em setembro a criação do 1776 Commission, que pretende promover uma “educação patriótica”. O projeto de Trump contraria leis que proíbem o governo federal de intervir em currículos escolares.

O The 1619 Project foi organizado pela jornalista Nikole Hannah-Jones, que venceu o Prêmio Pulitzer de Comentário pelo trabalho. Além da reportagem, o projeto especial sobre o 400º aniversário do início da escravidão africana deu origem a uma série de eventos ao vivo, podcast, livros e teve anúncio publicitário protagonizado pela cantora, atriz e produtora Janelle Monáe.

No lançamento, em 2019, a busca pelo exemplar impresso teve filas de pessoas na sede do Times. Ainda é possível encontrar exemplares sendo vendidos no site E-bay por mais de R$ 2.000. O site Pulitzer Center disponibiliza arquivos gratuitos e planos de aula sobre o projeto jornalístico.