Socialização do conhecimento é peça-chave para combater desinformação, defende fundador da Current Affairs
O avanço da internet e do acesso às ferramentas digitais tem fortalecido a democratização da informação, mas ainda há um grande desafio para que o acesso universal ao conhecimento se torne realidade e ajude no combate à desinformação.
No cenário ideal, todos poderiam consultar livros, pesquisas, reportagens e dados públicos em um grande banco gratuito. De um lado, tempo e dinheiro seriam poupados, e mais informação verdadeira e apurada permearia no tecido social. De outro, questões como direitos autorais viriam à tona e um grande confronto à lógica do mercado seria posto na mesa. Apesar de uma realidade distante, é possível – e necessário – pavimentar o caminho.
A análise é de Nathan J. Robinson, jornalista britânico-americano, em seu artigo “The truth is paywalled but the lies are free” (“A verdade é paga, mas as mentiras são gratuitas”, em português), que pode ser acessado na íntegra gratuitamente. Ele é fundador e editor-chefe da Current Affairs, revista de política e cultura com sede nos Estados Unidos.
Ao longo do texto, Robinson argumenta que é preciso derrubar a “Bastilha da informação”, em uma alusão à prisão francesa de mesmo nome ocupada pelas massas populares em 1789, no episódio que se tornou estopim da Revolução Francesa (1789 – 1799).
Para o jornalista, há uma contradição atual que coloca em condições desiguais de competição a produção de conhecimento verdadeiro e a disseminação de mentiras na internet.
Enquanto para acessar a primeira é preciso desembolsar dinheiro, seja para consultar um artigo científico, um livro ou uma matéria jornalística, a segunda chega fácil e gratuitamente na tela de celulares e computadores por meio de aplicativos de mensagem ou redes sociais. “A mentira é mais acessível que a sua refutação”, descreve.
A solução mais eficaz, afirma, seria a criação de um sistema universal de acesso ao conhecimento. A remuneração para escritores e organizadores das obras viria de impostos e seria proporcional ao número de visualizações de seus trabalhos.
“Quando realmente pensamos no significado, a lei de direitos autorais é uma intensa restrição à liberdade de expressão, e delineia nitidamente os limites de qual informação pode e qual não pode ser compartilhada com outras pessoas”, diz um trecho do artigo.
Robinson esclarece, porém, que há outras contradições paralelas. No modelo sugerido por ele, a remuneração para autores existiria, mas não seria suficiente em uma sociedade que não tivesse uma renda básica universal para garantir condições dignas de sobrevivência a todos, por exemplo.
Apesar da distante realidade, o jornalista defende que é preciso pensar na solução e construir caminhos alternativos enquanto ela não se mostra completamente viável.
Em março, por exemplo, diversos jornais no Brasil e no mundo anunciaram a liberação de seus conteúdos digitais relacionados à Covid-19, em uma tentativa de fazer com que informações verdadeiras e importantes sobre a crise de saúde chegassem ao máximo de pessoas.