Drama e luxo de Anna Wintour não combinam com crise do coronavírus

Anna Wintour, editora da Vogue desde 1988 e quem comanda a maior parte da operação da Condé Nast nos Estados Unidos, pareceu não dar importância quando o novo coronavírus começou a afetar a agenda das semanas de moda ao redor do mundo.

Um artigo publicado no The New York Times revelou que a primeira reação da editora —embora um porta-voz da empresa negasse o corrido— foi marcar uma reunião e passar a mensagem de que a situação “não era assim tão importante” e ainda gozou com quem deixou os eventos previamente, com medo do vírus.

Segundo a reportagem, quando a editora retornou a Nova York, ela continuou a trabalhar normalmente, junto com seus funcionários, e só foi para casa quando o prefeito da cidade decretou que trabalhadores de serviços não essenciais ficassem em casa.

A chefe da revista americana ganhou fama mundo afora com o lançamento do filme “O Diabo Veste Prada” (2006), em que Meryl Streep interpreta a intimidadora e exigente Miranda Priestly, que comanda uma importante revista de moda imaginária. A personagem seria uma referência à Wintour.

Mas o estilo de vida luxuoso de figuras como Anna Wintour parecem inapropriadas para o momento atual, que parece afastar-se dos vestígios de uma era representada por uma mídia exuberante.

O diretor-executivo da Condé Nast e superior de Wintour, Roger Lynch, disse à reportagem do jornal americano que a crise atual está acelerando tendências que já vinham acontecendo, como o colapso da mídia impressa e dos seus anúncios.

A empresa já sente os impactos desde 2008, mas agora parece chegar com mais força em Wintour e na Vogue. Embora a revista de moda seja a publicação americana mais lucrativa da empresa, também depende quase que inteiramente de anúncios —e o vestuário é o setor mais atingido da indústria de varejo no momento.

Lynch está respondendo à crise com uma mistura de corte de gastos e um aumento no marketing de assinaturas. A sua contratação como diretor-executivo assinala uma mudança na empresa familiar para um lado mais profissional.

“A maioria das pessoas pensa na empresa em seu contexto antigo, com muito drama, muito excesso. Isso já não é a Condé Nast hoje”, disse Lynch na entrevista ao jornal.

Wintour é devagar em se adaptar às mudanças culturais, desde chamar as pessoas de gorda até usar peças feitas com pelo de animais, além de sua amizade com Harvey Weinstein.

A maior pergunta é o que será dessas revistas luxuosas nesta nova era que estamos entrando. Por ora, elas vivem um período de austeridade, com cortes salariais até nos cargos executivos —50% de Lynch e 20% de Wintour, por exemplo.