Fotojornalistas têm isolamento social e trabalho comprometidos pela pandemia

Diferentemente dos jornalistas, que têm conseguido fazer apurações de matérias por ligações, emails e chamadas em vídeo, os fotojornalistas precisam sair de casa para trabalhar.

“Ser fotojornalista agora, cobrindo o coronavírus, é realmente desafiador”, diz Akili Ramsess, diretor-executivo da National Press Photographers Association, para Tom Jones, repórter de mídia do Poynter.

Segundo Jones, o desafio para freelancers tem sido pesar os riscos para sua saúde com a possibilidade de recusar e comprometer propostas futuras de trabalho.

A dificuldade também está em conciliar a distância entre as pessoas na rua e a aproximação para conseguir boas fotos. O uso de lentes de maior alcance e fotografias tiradas atrás de janelas têm sido uma alternativa, mas os equipamentos de proteção continuam sendo essenciais para o exercício do fotojornalismo.

Muitos veículos estão providenciando máscaras, álcool gel e luvas para repórteres e fotógrafos que vão às ruas. “Estamos pedindo para os jornalistas seguirem a mesma distância social que eles usam em uma ida ao mercado”, diz Mike Wilson, editor do Dallas Morning News.

Outro ponto abordado por Jones são os protestos contra as medidas de isolamento social, que também precisam ter cobertura da mídia. Apesar de serem pacíficos, o perigo existe porque muitos manifestantes ignoram as medidas de distanciamento.

O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) enumerou alguns conselhos de segurança para a cobertura de protestos. Entre as recomendações estão:

– Evitar chegar perto para não ter contato com gotículas de saliva, espirro ou tosse dos manifestantes;
– Caminhar pelos arredores, para não ficar preso no meio da multidão;
– Buscar por locais elevados para conseguir boas fotos da aglomeração e evitar contato;
– Procurar rotas de fuga, caso algum tumulto aconteça

A New Yorker também disponibilizou um curta-documentário feito por Elettra Fiumi sobre o trabalho de alguns fotojornalistas, que foram requisitados para cobrir hospitais na Itália.

“Eu me sinto dividido entre a necessidade de ficar em casa, evitando interações com outras pessoas, e o desejo de contar as histórias das que estão sofrendo com essa situação”, diz ​o fotojornalista Francesco Bellina.

Sergio Ramazzotti também cobriu o surto de ebola em 2014 e compara as pandemias com guerras. “A guerra, assim como qualquer outra história, no ponto de vista de um fotojornalista, é contada com compaixão. Foi isso que tentei fazer.”

Em matéria para o New York Times, o repórter Marc Tracy também casos de prejuízo na crise. Josh Ritchie, um fotógrafo freelancer na Flórida, estima ter perdido cerca de US$ 10 mil nas últimas semanas por causa de trabalhos cancelados.

Tracy comenta que a Juntos Photo Coop, cooperativa composta por quatro fotojornalistas do Arizona, publicou uma carta aberta relatando que a crise do coronavírus expôs as condições de trabalho desiguais para fotógrafos freelancers. O grupo pede que as organizações forneçam não só equipamentos, mas um seguro de saúde de emergência.

“As pessoas mais vulneráveis ​​são aquelas sem seguro de saúde, que não podem pagar aluguel, que não podem se dar ao luxo de entrar em quarentena”, diz Caitlin O’Hara, membro da cooperativa.