Fiquem em casa, diz repórter da BBC que visitou UTI
Na segunda-feira (6), o telejornal News at Six, da BBC, transmitiu uma longa reportagem com os bastidores de uma unidade de tratamento intensivo do hospital UCLH Trust, em Londres.
A matéria mostra um centro de recuperação pós-operatória convertido em UTI. O espaço funciona bem, mas está claramente sobrecarregado. Um dos médicos chama a situação de “completamente inimaginável”; outro lamenta a própria ingenuidade por ter acreditado que o vírus só afetaria pacientes mais velhos e doentes.
Na falta de respiradores, cerca de dez profissionais se juntam para virar os pacientes de lado e aumentar, desse modo, o fluxo de oxigênio em seu corpo. Todos trabalham com equipamentos de proteção pesada, que provocam forte dor de cabeça após algumas horas.
O jornalista entrevista um dos pacientes, Ertan Nazim, um motorista de ônibus de 70 anos. Deitado, ele descreve seus sintomas e fala da esposa, das filhas e netos que o aguardam em casa.
Após a transmissão, o repórter Fergus Walsh entrou ao vivo no estúdio para comentar suas impressões sobre a cobertura. “A equipe quis passar o recado: fiquem em casa. Se alguém tem dúvidas sobre o que o coronavírus pode fazer, espero que as imagens dessa reportagem as dissipem”, disse Walsh ao âncora. “É absolutamente vital que as pessoas levem o distanciamento social a sério.”
O repórter chamou o desempenho da equipe de esplêndido e disse ter sido profundamente impactado pela resiliência e profissionalismo dos trabalhadores. “A situação está exigindo deles um sacrifício imenso, e é por isso que devemos fazer o possível para prevenir a disseminação do coronavírus.”
A reportagem da BBC é uma exceção na cobertura da crise do coronavírus. Como o jornal “The Washington Post” relatou na semana passada, os jornalistas têm sido excluídos da linha de frente do combate à doença —os hospitais— devido a uma mistura de preocupação com a segurança dos repórteres e com a privacidade dos pacientes.
Muitas reportagens em vídeo sobre o tema têm dependido de vídeos amadores, gravados em segredo pela equipe dos hospitais. A falta de imagens produzidas profissionalmente, argumentam os repórteres do “Post”, pode levar dúvidas quanto à seriedade da crise de saúde pública provocada pelo vírus.
Nesse sentido, a reportagem de Fergus Walsh para a BBC sugere possíveis caminhos para filmar a pandemia de forma ética: todos os rostos dos pacientes —com exceção de Ertan Nazim, que autorizou sua entrevista— foram borrados para impedir a sua identificação, e a empresa pública de mídia doou roupas de proteção ao hospital para compensar pelo equipamento usado pelo repórter e pelo câmera.
O The New York Times também enviou o colunista Nicholas Kristof para dois hospitais no Bronx, em Nova York, para testemunhar o dia dos profissionais de saúde com os pacientes de coronavírus e a luta pela sobrevivência. “Essa pandemia não será lembrada pelos pronunciamentos da Casa Branca, mas pelos problemas na linha de frente.”
A filmagem mostra filas de leitos e expõe, a partir das entrevistas, a pressão que médicos e enfermeiros têm sofrido. Segundo o jornalista, a médica Deborah J. White parece um general comandando um campo de batalha. Ela está constantemente contando leitos e acompanhando cada paciente. “É para isso que fomos treinados”, diz White.
Ao mesmo tempo que expõe as dificuldades no atendimento pelas lotações nos hospitais, a reportagem mostra como o emocional dos profissionais é impactado. “Quando você chega em casa, finalmente respira e é aí deixa escapar tudo, porque você não tem tempo de processar essas emoções aqui”, conta a residente Nicole Del Valle.