Correspondentes do New York Times mostram as trajetórias de duas vítimas chinesas do coronavírus

As repórteres Sui-Lee Wee e Vivian Wang, correspondentes do The New York Times na China, refizeram a trajetória de duas mulheres que trabalharam em hospitais de Wuhan e foram infectadas pelo vírus.

Em matéria para o New York Times, elas escrevem sobre os sintomas, o tratamento, a recuperação da enfermeira Deng Danjing e o declínio da médica Xia Sisi, que teve complicações no tratamento.

As duas vítimas tinham vidas parecidas. Ambas estavam com 29 anos, eram casadas e tinham filhos.

Deng trabalhou três anos no Hospital Wuhan No. 7, cidade em que ela cresceu e onde a pandemia começou. Xia, gastroenterologista, ingressou no Hospital Union Jiangbei de Wuhan em 2015 e era a médica mais jovem de seu departamento.

Quando o novo vírus atingiu a cidade, as mulheres começaram a trabalhar por longas horas e, mesmo com as precauções de proteção, elas sucumbiram à infecção, com febre e pneumonia.

As duas foram submetidas a exames de tórax que mostraram danos nos pulmões, um sinal revelador do coronavírus que está presente em pelo menos 85% dos pacientes, de acordo com um estudo. Na maioria dos casos, o sistema imunológico produz anticorpos suficientes para limpar o vírus e o paciente se recupera.

“Eu me senti como um passarinho”, disse Deng, lembrando de quando recebeu alta. “Minha liberdade foi devolvida para mim.” Ela planeja voltar para o trabalho assim que tiver a autorização do hospital.

Xia teve uma parada cardíaca e foi levada às pressas para tratamento intensivo. Os médicos a intubaram e o presidente do hospital convocou vários especialistas de toda a cidade, incluindo Peng Zhiyong, chefe do departamento de cuidados intensivos do Hospital Zhongnan.

O coração da médica começou a bater novamente, mas a infecção nos pulmões era muito grave e eles falharam. Segundo Peng, o sistema imunológico de Xia, assim como o de muitos profissionais de saúde, pode ter sido comprometido pela exposição constante à doença.

Para as jornalistas, o destino de Deng e Xia reflete a natureza imprevisível de um vírus que afeta de maneiras diferentes, às vezes desafiando médias estatísticas e pesquisas científicas.