Menor influência de críticos de cinema os leva a adotar linguagem hiperbólica, diz escritora
Se o cinema tivesse o impacto que os críticos insistem em dizer que tem, filmes de 2019 como “Coringa” e “Adoráveis Mulheres” causariam, respectivamente, uma revolução popular e o fim da misoginia.
É o que diz Jessa Crispin, editora das revistas literárias Bookslut.com e Spolia e apresentadora do podcast de cultura Public Intellectual, em artigo publicado no The Guardian. Segundo ela, 2019 não foi um bom ano para o cinema, apesar dos críticos insistirem que sim.
Com a estreia de “Coringa”, departamentos de polícia dos Estados Unidos emitiram avisos sobre a possibilidade de tiroteios em massa nas exibições. Essa preocupação surgiu após o debate online de críticos de cinema que viram o filme em festivais e reclamaram da glamurização da violência.
No caso de “Adoráveis Mulheres”, veículos importantes como New York Times, Vanity Fair e a GQ divulgaram o filme como grande obra em defesa das mulheres. A autora exemplifica que o NYT define o filme como um “apelo para que as mulheres sejam vistas como seres humanos”.
Para Crispin, quando se defende apenas a importância do tema do filme, é difícil definir a sua qualidade. Ela vê essa avaliação como resultado de uma cultura que optou por ver tudo através de uma lente política.
Para a autora, há uma perda de autoridade dos críticos sobre o público e uma crescente dissociação entre o que é celebrado pela crítica e o que o público realmente quer ver. Para atrair a atenção, os críticos utilizam uma linguagem exagerada, seja definindo o tema como necessário ou indicando um filme como experiência cinematográfica perfeita.
O problema não está na audiência, diz ela, mas em um sistema falido das produções e distribuidoras, o desaparecimento de uma proporção significativa da história cinematográfica nos serviços de streaming e a dificuldade dos críticos em despertar o interesse do público nos filmes que eles estão recomendando, com matérias que sejam esclarecedoras e envolvam o leitor no assunto.