Produtor do NYT explica checagem de vídeo que mostra ataque do Irã

Malachy Browne explicou à revista americana Columbia Journalism Review parte do seu trabalho na editoria de investigações visuais do The New York Times. O produtor fala especificamente sobre o processo de checagem de um vídeo que mostra o momento em que um míssil lançado pelo Irã atinge um avião ucraniano, resultando na morte de 176 passageiros.

A equipe de Browne, formada por ele e seis repórteres especializados em edição de vídeo e efeitos visuais usados para manipular imagens, teve acesso ao vídeo por meio de grupos no aplicativo de mensagens Telegram.

Diferente do que vinha acontecendo com outras imagens que circulavam nas redes sociais um dia e meio após o ataque, a equipe de Browne conseguiu falar diretamente com a pessoa que gravou o vídeo.

Antes mesmo de receber as imagens, a editoria de investigações do NYT já havia feito um mapeamento das possíveis áreas de lançamento do míssil. Para isso, foram utilizadas ferramentas como o Google Earth e o FlightRadar24, um site que permite visualizar o tráfego aéreo em tempo real.

Browne e equipe passaram então a cruzar dados do mapeamento com os elementos visuais do vídeo. Eles identificaram o padrão das construções que aparecem nas imagens e até os contrastes entre luz e sombra na gravação.

“Conseguimos verificar rapidamente que esse vídeo foi gravado no Parand [região próxima ao aeroporto de Teerã onde o avião transmitiu sinais pela última vez]. E fomos capazes de identificar o ponto em que a câmera estava localizada em poucos minutos”, explica o produtor.

A apuração incluiu ainda uma análise do vídeo em câmera lenta, quadro a quadro, para verificar se o brilho do míssil e o momento da explosão não haviam sido alterados de alguma forma.

Outra etapa foi a checagem de som. No vídeo, há uma diferença de tempo entre o registro visual e sonoro do momento da explosão. “Nós conseguimos calcular a distância e a altitude [do avião] – e, portanto, a hipotenusa entre eles e a câmera – e calcular quanto tempo o som de uma explosão levaria para viajar essa distância. E era aproximadamente o que estávamos vendo e ouvindo no vídeo, cerca de 10 ou 10,5 segundos”.

Na entrevista à revista, Browne menciona outros trabalhos da equipe, como a checagem em que conseguiu fazer com que militares americanos assumissem a autoria de um ataque que matou uma família afegã, e dá dicas a repórteres que não possuem a mesma estrutura de um jornal como o Times.

“Há muitos estudantes que realizam trabalhos de investigação semelhantes e uma comunidade online realmente forte de pessoas que compartilham habilidades e informações. Muitos deles tendem a gravitar em direção a denúncias de conflitos”, diz.