Estudantes de jornalismo dos EUA vivem conflitos com colegas ativistas
A tensão entre estudantes ativistas e alunos que produzem jornais de universidades é crescente nos Estados Unidos. A causa principal dos conflitos é a discussão sobre até onde o jornalismo pode ir na cobertura relacionada aos movimentos sociais dentro do campus.
O caso mais recente aconteceu no dia 5 de novembro e foi relatado pelo The New York Times. Estudantes protestaram durante uma palestra do ex-procurador-geral dos EUA Jeff Sessions na Universidade de Northwestern.
O jornal do campus, The Daily Northwestern, cobriu e noticiou os acontecimentos, mas algumas das fotos foram publicadas nas redes sociais diretamente pelos repórteres em suas contas pessoais, o que desagradou os estudantes que participaram dos protestos.
As críticas levaram os editores do jornal universitário a deletar as postagens e a escrever um editorial pedindo desculpas pela divulgação não autorizada das imagens. A publicação disse não ter sido “o jornal que os alunos merecem” e afirmou que “nada é mais importante que a garantia de que os estudantes se sintam seguros”.
O pedido de desculpas, entretanto, não teve boa repercussão entre jornalistas profissionais. O próprio reitor da faculdade de jornalismo de Northwestern, Charles Whitaker, defendeu os estudantes responsáveis pelo jornal universitário.
“Estou profundamente perturbado com o assédio moral e os maus-tratos que os alunos responsáveis por essa cobertura sofreram pelo ‘pecado’ de fazer jornalismo”, disse em artigo publicado no site da escola de comunicação da Northwestern, uma semana após o evento.
Estudantes de jornalismo ouvidos pelo Times disseram que lutam para conseguir conciliar os padrões amplamente aceitos da imprensa livre com a preocupação de atender às expectativas dos colegas que são personagens de suas coberturas.
“Ninguém neste momento sabe como fazer isso”, disse Olivia Olander, 19, estudante do segundo ano que participou da cobertura dos protestos para um canal de televisão da universidade. “Todos estão tentando descobrir uma solução e ainda ser bons jornalistas ao longo do caminho.”
O movimento que liderou os protestos considerou o pedido de desculpas publicado pelo jornal uma vitória. Alunos de jornalismo de outras universidades, porém, relataram ao Times a mesma dificuldade em coberturas que envolvem demandas de grupos ativistas.
“Não importa o que você faça, você vai deixar alguém bravo”, disse a jornalista Greta Bjornson, 22, que foi editora do The Vermont Cynic, jornal estudantil da Universidade de Vermont. Ela contou que era comum que os ativistas pedissem mudanças em manchetes ou se negassem a falar com os repórteres.
A reportagem do The New York Times enumerou outros casos de conflitos do jornalismo estudantil com movimentos sociais.
Em 1990, na Universidade do Kansas, estudantes queimaram cópias do jornal universitário quando a publicação fez mudanças de padronização para se alinhar à agência de notícias The Associated Press. Para se referir aos estudantes negros, em vez de usar a inicial maiúscula em “Black”, o The University Daily Kansan passou a escrever “black”, com a inicial minúscula.
Outro caso aconteceu em 2015, na Universidade Harvard. Grupos estudantis boicotaram o jornal The Harvard Crimson em resposta à cobertura dos protestos de alunos pela abolição da ICE, agência americana de alfândega e imigração.
Os ativistas criticaram o jornal por terem procurado a agência para comentar os protestos. Segundo eles, o pedido de resposta colocava em risco a segurança de estudantes sem documentação, principalmente negros e latinos.
À época, a editora do The Crimson afirmou que ouvir todos os envolvidos é um princípio básico do jornalismo, mas alguns membros da equipe fizeram uma autocrítica. Um deles foi a ilustradora Danu Madannayake, 21. “Podemos ser estudantes de jornalismo sérios e ainda termos mais empatia”, afirmou.