O jornalismo de educação merece o mesmo tratamento que o político, diz editora-chefe da Chalkbeat
Em 2017, a má administração de recursos para reparos em organizações educacionais deixou escolas sem aquecimento e ventilação no distrito escolar de Alum Rock Union, nos EUA, que atende 11 mil alunos do ensino fundamental e médio.
Cerca de 80% destes alunos são de baixa renda, 41% têm pouco domínio da língua inglesa e 98% são de minorias raciais. “Em algumas escolas, as salas de aula eram tão quentes à tarde que os professores deixavam os alunos descansarem com a cabeça na mesa. No tempo frio, as crianças muitas vezes mantinham casacos e luvas o dia inteiro”, diz Sharon Noguchi, repórter da Chalkbeat, organização sem fins lucrativos de notícias sobre jornalismo de educação local.
Em reportagem para o portal Utne Reader, a jornalista Jessica Cohen entrevistou profissionais da equipe da organização, que falaram sobre a importância do jornalismo de educação.
“O estado financia escolas com muito dinheiro e exige que os distritos consultem membros da comunidade engajados sobre planos de gastos. Mais dinheiro vai para os distritos com mais estudantes de baixa renda, sem teto, com necessidades especiais ou que aprendem inglês, mas a escassez de cobertura é propícia à ignorância, desengajamento e má conduta”, comenta Noguchi.
A ideia para criar o site surgiu quando, ainda no ensino médio, Elizabeth Green, atual editora-chefe da Chalkbeat, foi fazer entrevistas com alunos para o jornal da escola e se deu conta da segregação do ensino e das dificuldades que os estudantes negros e latinos enfrentavam. Segundo os depoimentos que coletou, os professores possuem baixas expectativas para esses estudantes.
Ao mudar o foco de sua matéria, ela expôs o problema para os administradores da escola e forçou debates. A partir daí, percebeu que o jornalismo tinha a força de dar voz a esses estudantes.
Quando foi repórter no New York Sun, a jornalista paralelamente administrava um blog onde publicava matérias sobre educação e, assim, aprofundou sua cobertura na área.
Diante do cenário de crise financeira do jornalismo, Green precisava de um novo modelo de negócios que noticiasse a política educacional. “Eu queria fazer jornalismo digital. Vi como a cobertura política havia sido alterada pela internet. A educação merecia esse tratamento.” Segundo ela, na internet o conteúdo poderia ser tratado com mais detalhes.
Green colaborou com Philissa Cramer, repórter em um site de educação local, e juntas criaram, em 2008, a GothamSchools, uma organização sem fins lucrativos que cobria, com profundidade, as escolas de Nova York.
Em 2014, a organização se uniu ao EdNews Colorado, de Alan Gottlieb e, assim, passaram a se chamar Chalkbeat New York e Chalkbeat Colorado.
O esquema da Chalkbeat é oferecer suas histórias para outras organizações de notícias sem nenhum custo, pois sua medida de sucesso se tornou o impacto do fornecimento de informações, em vez de lucrar com publicidade e assinaturas. As principais fontes de financiamento são organizações sem fins lucrativos e filantropos.
A Chalkbeat também atua em festivais e realiza eventos que buscam estabelecer um diálogo com as pessoas da comunidade e os órgãos educacionais para que isso surta algum efeito nas ações educativas.
Scott Elliot, ex-repórter do Indianapolis Star, é encarregado de abrir novas agências Chalkbeat. Os requisitos para escolher novas regiões são: as questões locais de educação devem ser interessantes e importantes, deve existir uma lacuna na cobertura do assunto e os filantropos locais precisam apoiar o site.
A Chalkbeat agora gera US$ 6 milhões (R$ 24.372.000) por ano, com sete agências.