Painel de Davos discute fake news e jornalismo na era digital
As tendências para o jornalismo na era digital foram assunto de discussão em um evento do Fórum Econômico Mundial, em Davos. Ocorrido na última quarta-feira (23), o painel “Disinformation, Populism and Business: Navigating the Digital News Revolution” (desinformação, populismo e negócios: navegando a revolução das notícias digitais) foi promovido pela Thomson Reuters Foundation, organização sem fins lucrativos de promoção de bons padrões jornalísticos no mundo.
A discussão contou com a presença de Martin Baron, editor-executivo do Washington Post, Nick Kistroff, colunista do New York Times, Sylvie Kauffmann, diretora editorial do Le Monde, além de Mark Pieth, presidente do conselho do Basel Institute on Governance.
Martin Baron comentou a disseminação de fake news pelo governo Trump. Ressaltou a importância de que a checagem de fatos não esteja restrita a uma coluna especializada do jornal, mas presente em todas as matérias diárias que envolvem ações do presidente.
Para Baron, as declarações de Trump “têm efeito muito corrosivo e aumentam a polarização norte-americana em relação à imprensa”. Segundo ele, ao minar a credibilidade da mídia tradicional e de outras fontes independentes de informação, “o que Trump fez foi desafiar e minar a própria ideia de ‘fato objetivo’”.
O editor-executivo do Washington Post considera que o aumento de assinaturas do jornal provocado pela eleição de Trump é um efeito de curto prazo. Para Kistroff, entretanto, a ascensão de Trump foi boa para a indústria midiática: “Ele ajudou a convencer as pessoas de que o jornalismo tem um valor intrínseco.”
Baron e Kistroff concordam que os veículos de notícias locais não contaram com o mesmo incentivo recebido pelos que têm repercussão nacional (e internacional). Eles acreditam que a existência das mídias locais está ameaçada. Baron destacou que isso representa uma ameaça à democracia, uma vez que esses veículos têm importante papel de fiscalização da atuação do Estado no nível local.
A francesa Sylvie Kauffmann comentou a hostilidade à mídia dos “coletes amarelos”– manifestantes que tomaram as ruas da França, em 2018, para protestar contra o presidente Emmanuel Macron. Durante os protestos, houve ataques verbais e físicos a jornalistas. Segundo ela, os manifestantes não confiam na imprensa e sentem que não têm voz na mídia tradicional.
Kauffman destaca que, para enfrentar esse questionamento, é necessário tornar as redações mais diversas socialmente e dar mais espaço às “pessoas comuns”. Kristoff concorda e afirma que empregar profissionais provenientes da classe trabalhadora pode aumentar a confiança que a população tem no veículo, além de facilitar a descoberta de notícias que não seriam notadas.