ONG que defende liberdade de expressão lista 12 princípios para proteger fontes que vazam dados
A era digital criou oportunidades para o jornalismo investigativo ao possibilitar que denunciantes vazem grandes quantidades de dados de interesse público. Por outro lado, o poder de investigação das agências de segurança nunca foi maior, tornando comum a prisão de denunciantes e aumentando a responsabilidade dos jornalistas quanto à segurança das fontes.
Esse diagnóstico está presente em relatório produzido pela organização Blueprint for Free Speech: “The Perugia Principles for Journalists Working with Whistleblowers in the Digital Age” (os princípios de Perugia para jornalistas trabalhando com denunciantes na era digital).
O nome do documento deriva do principal local da pesquisa: Perugia, na Itália, que sedia anualmente um festival internacional de jornalismo. A edição de 2018 contou com uma mesa em que especialistas internacionais discutiram o tema.
O relatório destaca a existência de uma guerra desigual, em que jornalistas e denunciantes têm como adversárias as agências de segurança nacional. Os repórteres devem responder usando as ferramentas digitais certas e comprometendo-se a minimizar os riscos enfrentados por quem vaza informações de interesse público.
São elencados 12 princípios que devem servir como guia para os profissionais:
- Primeiro, proteja suas fontes. Defenda o anonimato quando ele for solicitado.
- Forneça meio seguros para que suas fontes façam o “primeiro contato” com você, quando possível. Deve-se informar canais anônimos e encriptados de contato para ajudar possíveis denunciantes.
- Reconheça os custos da denúncia para o denunciante e leve-o a pensar previamente sobre como lidar com as consequências, quando a história se tornar pública.
- Cheque o material com foco no valor da informação para o interesse público, e não na visão que você tem das atitudes da fonte ou suas opiniões sobre o denunciante. Ainda assim, é importante avaliar a motivação da fonte para determinar se a informação é confiável.
- Assuma responsabilidade por sua segurança digital e use encriptação. Apesar de não eliminar os riscos, ela oferece uma importante primeira barreira de proteção.
- Identifique as maiores ameaças a você e a sua fonte, e que passos você precisa tomar para proteger ambos.
- Explique os riscos da exposição digital para sua fonte. Em histórias sensíveis, treine seu denunciante em segurança digital básica.
- Publique documentos originais e conjuntos de dados completos quando for possível e seguro fazê-lo, reconhecendo a importância de conjuntos de dados em matérias.
- Quando requisitado pelas fontes, exclua de maneira segura parte das informações fornecidas. Deve-se estar ciente de que documentos e suas informações podem ser usados para identificar fontes.
- Garanta que quaisquer ambientes digitais de armazenamento usados por fontes confidenciais e denunciantes ofereçam bom nível de segurança e, para conteúdo de alto risco, anonimato.
- Informe-se sobre as estruturas legais e regulatórias –de âmbito nacional, regional e internacional– para proteção de fontes e denunciantes confidenciais.
- Zele para que o veículo noticioso forneça segurança de dados adequada para profissionais, fontes e materiais armazenados, além de treinamento e políticas apropriadas para orientar os jornalistas.
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O Manual de Redação da Folha destaca que o “sigilo da fonte é garantido pelo artigo 5º, inciso XIV, da Constituição” e que a quebra de anonimato só é admitida em “casos extremos, como transmissão deliberada de informação falsa por parte da fonte ou o descumprimento de acordo cujo resultado comprometa a imagem do jornalista ou do jornal”. Nesses casos, a “decisão é tomada pelo profissional em conjunto com a Direção da Redação”.