Omissão da imprensa ajuda a disseminar mentiras de Trump, diz ex-ombudsman do NYT

Alguns veículos jornalísticos norte-americanos têm dado espaço de forma equivocada para declarações falsas dadas pelo presidente Donald Trump e sua equipe, muitas vezes sem explicá-las ou colocá-las dentro de um contexto.

A afirmação foi feita por Margaret Sullivan, ex-ombudsman (“public editor”, em inglês) do New York Times, em sua coluna no jornal The Washington Post publicada na segunda-feira (17). De acordo com ela, a atitude da mídia tem ajudado a disseminar informações falsas no noticiário e nas redes.

“Quando jornais dão um megafone para as mentiras —ou para os mentirosos—, eles causam um mal. O que o presidente diz precisa ser reportado, é claro, mas somente dentro do contexto daquilo que se sabe sobre o assunto”, afirmou.

Sullivan comentou a entrevista dada pela conselheira da Casa Branca Kellyanne Conway ao jornalista da CNN Chris Cuomo na quinta-feira (13). A assessora, responsável pela criação da expressão “fatos alternativos” para se referir à imprensa, afirmou que o presidente americano só ficou sabendo em 2018 sobre o suborno pré-eleições feito a Karen McDougal e Stormy Daniel, mulheres com quem Trump teve envolvimento sexual.

O problema é que existe uma gravação de áudio datada de agosto de 2016 em que Trump e seu então advogado, Michael Cohen —preso recentemente por crimes cometidos enquanto trabalhava para o presidente—, discutem um desses pagamentos.

Colegas da emissora têm criticado Cuomo pela entrevista, na qual a assessora da Casa Branca ainda negou que o presidente americano diga mentiras —já foram mais de seis mil até o momento, segundo informações do Post.

Para que situações como essa não se repitam, Sullivan defende que a imprensa deixe de dar fala irrestrita a Trump e seus representantes, pois já está provado que sua palavra não é confiável.
Reproduzir declarações sem uma referência imediata à realidade dos fatos, segundo ela, é entrar na “zona Kellyanne”. “Em uma era repleta de desinformação —e com a democracia americana oscilando em um precipício— esse é o lugar errado para se estar”, conclui.