De Bolsonaro a bebês editados geneticamente, revista Nature aponta destaques da ciência e ambiente em 2018
A eleição de Bolsonaro foi selecionada pela revista britânica Nature como um dos eventos cruciais para o ambiente e as ciências em 2018. Em um tom negativo, a retrospectiva realizada pela publicação científica cita afirmações contrárias ao meio ambiente feitas pelo presidente eleito, assim como posicionamentos anteriores, ainda como deputado federal, favoráveis a ruralistas na questão do desmatamento da Amazônia.
O texto também aponta a ascensão de governantes populistas pelo mundo como evento potencialmente danoso para as ciências e a natureza, como a chegada ao poder dos partidos Liga e Movimento 5 Estrelas na Itália.
Segundo o artigo, outro ponto essencial foram as negociações do “brexit”, que pode levar a uma perda de 1 bilhão de libras (R$ 4,9 bilhões) em financiamentos anuais para a ciência britânica nos próximos anos. Nos EUA, por outro lado, a futura líder do setor científico na Câmara, Eddie Bernice Johnson, anunciou recentemente que defenderá a ciência americana de ataques políticos e ideológicos e deverá priorizar questões ligadas ao aquecimento global.
Uma série de mais de 50 incêndios ocorridos em julho na Suécia, causados pelo intenso calor e tempo seco, é destacada pela revista como evidência das mudanças no clima, assim como o maior incêndio da história da Califórnia, que deixou 85 mortos e milhares de residências destruídas pelo fogo em novembro.
O ano foi de notícias importantes na área genética. Em novembro, o cientista chinês He Jiankui surpreendeu o mundo ao anunciar o nascimento dos primeiros bebês editados geneticamente, duas gêmeas cuja modificação tinha o objetivo de torná-las resistentes à infecção pelo HIV. A notícia levou a uma série de críticas da comunidade científica e fez com que a China impedisse Jiankui de continuar a pesquisa.
Outros destaques foram a primeira clonagem de primatas, ocorrida em janeiro, e a descoberta de que a adolescente Denny, cujos ossos foram encontrados em uma gruta na Sibéria, é a primeira híbrida conhecida descendente de dois grupos humanos distintos: ela é filha de mãe neandertal e pai denisovano.
2018 também viu a luta contra a exploração no ambiente de trabalho ganhar importância na ciência. Cientistas dos EUA e Reino Unido tiveram financiamentos revogados por denúncias de bullying e assédio, que atingiram instituições de renome no meio científico, como o Instituto de Pesquisa do Câncer de Londres e a Universidade de Bath, na Inglaterra, e a Universidade de Rochester, nos Estados Unidos.