Mesa discute o papel do conteúdo patrocinado nos novos modelos de negócio das Redações

Em mesa realizada no dia 16 de agosto, parte do seminário As Novas Configurações do Quarto Poder, organizado pelo Sesc Vila Mariana, jornalistas debateram o tema “Quem É o Patrão do Jornalista?”. Participaram da discussão André Maleronka, editor-chefe da Vice Brasil, Cleusa Turra, coordenadora do Estúdio Folha, e Felipe Gil, diretor de conteúdo da plataforma Gol, na revista Trip.

Para Turra, vivemos em um momento de novas formas de financiar o jornalismo, já que as marcas mudaram a maneira de anunciar. “A Folha de S.Paulo já vinha acompanhando esse movimento das marcas de migrar sua publicidade para outros formatos. Agora as empresas buscam a formação da concepção de marca por intermédio do conteúdo, ou seja, do conteúdo patrocinado.”

Considerando essas transformações na área da comunicação, André Maleronka deu novas perspectivas sobre o mercado de trabalho. “Tem agências de publicidade contratando cada vez mais jornalistas para a produção de conteúdo para marcas. Então acho que é uma maneira alternativa, um outro modelo de negócio pra gente que é jornalista”.

Esse tipo de material foi apontado pelos jornalistas presentes como uma alternativa ao modelo de negócios tradicional. “Agora, nós [jornalistas] temos um novo campo que funciona não só como modelo de negócios, mas também para fazer coisas mais interessantes. Muitas vezes você tem uma disponibilidade de recursos muito maior, quando há uma marca por trás. E se isso pode se tornar algo interessante para seu público, é um serviço que você faz”, defendeu Felipe Gil.

Ao observar essa tendência, Cleusa Turra explica a decisão de separar esse tipo de conteúdo da Redação. “A primeira decisão que a Folha tomou foi: essa área [dedicada a conteúdos patrocinados] não diz respeito ao editorial, pois o jornalismo que a Folha quer realizar não é um conteúdo para as marcas. Por isso, essa nova área está lado a lado com a publicidade.”

Gil apontou o que é necessário para a realização de um bom trabalho jornalístico patrocinado: “o que a gente entende que funciona para as marcas é fazer um conteúdo que realmente respeite os preceitos mais básicos do jornalismo, desde a transparência de indicar que o conteúdo foi patrocinado até a coerência com a visão de mundo do veículo”. E completa que, “se a marca e o veículo se encontram em assuntos comuns, você pode fazer jornalismo de qualidade”.

Turra também comentou a importância da transparência na produção desse tipo de material. “Estando claro para o leitor: ‘este conteúdo foi patrocinado pela marca x’, está no jogo. O que causa estranheza e desaprovação é o leitor ler uma matéria e descobrir por outras vias que aquele conteúdo era patrocinado.”