Jornalismo alternativo amadurece e ganha relevância na América Latina, diz Economist

(Reprodução)
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Grandes empresas dominam a maior parte do mercado de notícias da América Latina. Entretanto, as inovações em modelos de negócio e cobertura trazidas por veículos digitais têm conquistado cada vez mais espaço, de acordo com artigo da revista inglesa The Economist.

Sem a necessidade de lidar com os problemas de logística de um jornal tradicional, editores digitais podem começar “pelo próprio suor”, como disse à Economist, Janine Warner, da SembraMedia, ONG que ajuda jornalistas latino-americanos a se tornarem empreendedores. Warner conta com uma lista de mais de 770 sites de notícias em 19 países que “servem ao interesse público” e não dependem de corporações para funcionar.

Durante ditaduras, esses veículos independentes são muitas vezes a única fonte neutra de informação. O site Efecto Cocuyo cobre fatos que o regime venezuelano de Nicolas Maduro tenta esconder, incluindo assassinatos e a situação do mercado paralelo no país. Já em Cuba, startups de mídia como El Estornudo e o Periodismo de Barrio, apesar de serem cuidadosos ao desafiar a legitimidade do governo, criticam e denunciam a situação do país.

O site argentino Chaqueado, primeiro a realizar checagem de fatos na América Latina, constrangeu tanto a direita quanto a esquerda. A página denunciou que a campanha eleitoral de Mauricio Macri, atual presidente de centro-direita da Argentina, recebeu contribuições de empresas que haviam se beneficiado de contratos superfaturados enquanto ele era prefeito de Buenos Aires.

O jornal também revelou que construtoras brasileiras envolvidas na Operação Lava Jato faturaram US$ 9,6 bilhões (R$ 37,9 bilhões) em contratos superfaturados na Argentina durante os governos de centro-esquerda de Cristina Kirchner e seu marido, Néstor Kirchner. “Nosso objetivo é aumentar o custo de uma mentira”, disse a fundadora, Laura Zommer à Economist.

No Brasil, os novos veículos são focados em assuntos normalmente negligenciados pela mídia tradicional. O jornal Jota, por exemplo, disseca o Judiciário brasileiro, o Nexo Jornal é especializado em jornalismo de dados e faz uso de gráficos e linhas do tempo para tornar o conteúdo mais explicativo. A Agência Pública foca na cobertura dos direitos humanos e já apontou abusos sofridos pela população jovem negra nas favelas. Também revelou um acordo extrajudicial entre entidades do governo, os Ministérios Públicos Federal e Estadual e mineradoras. O documento garantia poder de decisão sobre indenizações às empresas envolvidas no rompimento de uma barragem, que resultou na morte de 17 pessoas, em 2015.

Com um modelo colaborativo, a Agência Pública aproxima a mídia consolidada da alternativa. Suas coberturas frequentemente são feitas em conjunto com as Redações de outros veículos. As histórias são publicadas por jornais de grande alcance como a Folha e o The Guardian, permitindo que profissionais transitem entre as novas formas de fazer jornalismo e as práticas tradicionais.