Imprensa baseada na realidade não pode virar oposição, diz colunista do Washington Post
A imprensa que se baseia na realidade não pode se transformar em partido de oposição a populistas, mas nem por isso os jornalistas devem se calar ou deixar de fazer o seu trabalho.
A opinião é de Margaret Sullivan, colunista de mídia do Washington Post, que participou do congresso da Global Editors Network (GEN), onde falou sobre o papel do jornalismo atualmente. A cobertura completa do evento, feita pela GEN, pode ser lida aqui.
Os repórteres também precisam se concentrar em melhorar a conduta, de acordo Sullivan. Eles devem ser mais céticos e transparentes, desenhando melhor o contexto das coberturas e cobrando responsabilidade dos poderosos, recomendou.
Como exemplo, citou a cobertura das eleições presidenciais americanas de 2016. Segundo a colunista, faltou ceticismo ao sugerir equivalências entre o escândalo de emails de Hillary Clinton e as ações controversas de Donald Trump ao longo de sua carreira e vida pessoal.
“Também não fomos céticos ao cobrir as relações de Trump com a Rússia. Confiamos demais nas pesquisas e não conseguimos explicar o modelo de probabilidade que nos causou tanta vergonha nos dias seguintes à eleição”, disse.
Ela apontou que, apesar de o público norte-americano confiar menos na imprensa hoje do que antigamente, o papel de “watchdog” (cão de guarda) do jornalismo na democracia continua intacto. “Não importa o que pensem de nós, esse nosso papel ainda é valorizado.”
A colunista citou Martin Baron, editor-executivo do Washington Post: “Não estamos em guerra, estamos fazendo o nosso trabalho”.
Sullivan disse que abandonou o uso termo fake news porque ele passou a ser utilizado como arma para desqualificar informações que elas não gostam -mesmo que sejam verdadeiras.
Mas, para ela, ao mesmo tempo que a verdade e os jornalistas estão vivendo sob ataque, o público continua apreciando os fatos checados e a imprensa baseada na realidade. “As assinaturas digitais do New York Times e do Post vêm crescendo, o que aponta uma demanda animadora por jornalismo de qualidade”.
“Segure firme, explique tudo que for possível e não deixe que coloquem seu trabalho para baixo”, aconselhou Sullivan a uma jornalista da plateia.
OMBUDSMAN
Outro assunto abordado pela colunista foi a relevância da função de ombudsman, que vem sendo questionada diante da relação direta que os veículos passaram a estabelecer com o público nas redes sociais.
Sullivan, que ocupou o posto (hoje extinto) no New York Times entre 2012 e 2016, defende que as redes, embora sejam boas para identificar reclamações, não trazem respostas para os leitores.
“O Twitter não dispõe do julgamento de um jornalista experiente. Meu trabalho no New York Times era falar com a imprensa e conseguir uma explicação”, disse.