Jornal inglês pede desculpas por capa que ofendeu comunidade negra há 21 anos
O jornal britânico Bristol Post publicou um pedido de desculpas por ter estampado sua primeira página com 16 fotos de homens negros acusados de tráfico de crack acompanhadas da manchete “Faces of Evil” (Faces da Maldade), em abril de 1996.
As desculpas marcaram a edição do último dia 7 do jornal. “Foi um grande erro. Aquela imagem essencialmente destruiu a credibilidade e confiança que as comunidades afrodescendentes e afro-caribenhas de Bristol tinham em relação ao Post”, escreveu Mike Norton, atual editor do veículo, no artigo. Na época, ele não era o responsável pela publicação, que levava o nome The Evening Post.
Segundo o texto, as fotos foram divulgadas em um momento em que a relação do veículo com as minorias negras já estava desgastada. “[O Post] era apenas mais uma instituição de Bristol que essas comunidades não sentiam que fosse feita para elas. Já suspeitavam de que o jornal só escrevia sobre negros quando eles cometiam algum crime”, declarou o editor.
Ao jornal The Guardian, Norton disse ainda que para tentar reparar o problema de representatividade nas instituições, pretende incluir mais jornalistas negros na Redação do Bristol Post. “Provavelmente de 5% a 10% da equipe é não-branca. Na cidade esse índice é de 20%, logo isso não é suficiente”, declarou.
Apesar de ter eleito diretamente o primeiro prefeito negro do Reino Unido, o município de Bristol é historicamente marcado por tensões raciais, tendo assumido papel importante na rota de tráfico de escravos durante o século 18. De acordo com pesquisa citada na reportagem do Guardian, a cidade é uma das mais divididas do país – minorias raciais enfrentam mais desvantagens no acesso à educação e ao mercado de trabalho lá do que em outros lugares da Inglaterra e do País de Gales.
Para a mesma matéria, o radialista Roger Griffith, responsável por iniciar uma campanha de conscientização dos problemas raciais em Bristol, relembrou o impacto que a capa do Post causou em sua comunidade. “Contribuiu para uma representação muito negativa dos negros na mídia. Não negamos que aqueles homens cometeram crimes, mas nada de positivo era mostrado. Só queríamos equidade, não um tratamento especial”, disse.
Segundo ele, o jornal também ignorava todas as conquistas da comunidade, assim como as dificuldades que ela sofria por causa do racismo.
A publicação reverberou também em áreas majoritariamente brancas da cidade. O ativista Jerry Hicks conta que grupos de extrema-direita, por exemplo, se aproveitaram da capa do jornal para recrutar membros. “Em questão de horas, o Partido Nacional Britânico já tinha tirado cópias e colado pelas ruas”, lembra.