‘New York Times’ cria posto de editora de gênero
Em meio à divulgação de histórias recentes envolvendo questões de gênero, como o escândalo de Harvey Weinstein, executivo de cinema acusado de assédio sexual por diversas atrizes de Hollywood, e o anúncio do governo americano de que transgêneros não terão mais proteção contra discriminação no trabalho, o jornal “The New York Times” anunciou, no mês de outubro, a criação do posto de editora de gênero, ocupado pela jornalista Jessica Bennett.
“Senti que tínhamos uma ótima cobertura de temas que poderiam ser colocados em uma categoria de gênero, e não estávamos fazendo o melhor que podíamos para conectá-las. Fazer isso ajuda o leitor a ligar os pontos, e cria uma lente que os ajuda a se envolver com as matérias”, disse Jodi Rudoren, diretora editorial do ‘NYT’ em artigo publicado no site da revista “Teen Vogue”.
Para Bennett, autora do livro “Feminist Fight Club: A Survival Manual for a Sexist Workplace” (Clube da Luta Feminista: Um Manual de Sobrevivência para um Ambiente de Trabalho Sexista), a criação de um cargo editorial dedicado a esse assunto não significa apenas priorizar a cobertura de movimentos feministas ou de violações de direitos das mulheres. “Claro que isso é importante, mas devemos acompanhar outros assuntos que o ‘Times’ já trata, como política, internacional e saúde, através de uma lente focada no gênero.”
Sobre as mudanças que propõe, a jornalista ressaltou que, mais que os assuntos, o que precisa ser repensado é o tipo de cobertura feita pelo jornal. Ela explica que é fundamental adotar uma postura interseccional, ao dar espaço para vozes pouco representadas na mídia e prestar atenção em detalhes sutis como o tom da linguagem, a disposição visual da reportagem e a escolha das fontes.
Diante da abrangência do tópico, o “New York Times” não pretende criar, junto com o cargo, uma seção específica para discutir gênero. As reportagens ultrapassarão as barreiras das editorias, já que, segundo Rudoren, a questão é intrínseca a todos os temas, se manifestando e influenciando tanto o mundo dos negócios e dos esportes, quanto o da ciência e da moda.
“Isso tem impacto em todos os lugares, embora seja algo que nem sempre está visível”, disse Bennett, sobre a desigualdade de gênero. Um dos motivos, segundo ela, é que “as instituições, inclusive as de mídia, foram criadas por e para homens brancos”.