Escolas italianas ensinam alunos a lidar com fake-news
Entre aulas de literatura e matemática, alunos de escolas italianas agora aprenderão sobre alguns dos perigos existentes na era das redes sociais. A iniciativa faz parte de um experimento do governo, que pretende, em parceria com gigantes da tecnologia como o Facebook, treinar os jovens para que sejam capazes de identificar e desmentir fake news e teorias da conspiração, como relata artigo do “New York Times”.
“Fake news são pequenas doses de veneno que nos contaminam todos os dias sem que nem percebamos”, diz Laura Boldrini, presidente da câmara baixa do Parlamento da Itália, que lidera o projeto junto com o Ministério da Educação do país. “As crianças têm o direito de aprender a se defender das mentiras que encontram.”
O programa, que entrará em vigor no próximo dia 31, não tem como objetivo apenas ensiná-las a verificar as fontes das notícias. A proposta é fazer com que os jovens sejam capazes de checar os fatos por conta própria, apurando casos e consultando especialistas. Além disso, haverá o incentivo para que eles criem blogs em que exponham histórias falsas e apresentem os processos de investigação que as desmascararam.
Para atingir esse objetivo, os alunos receberão apostilas preparadas por repórteres da emissora “RAI” e aprenderão nas aulas preceitos básicos de uso da internet, como o de não compartilhar notícias não verificadas e de ter em mente que todo conteúdo online pode ser manipulado.
A proposta surge em um contexto de agitação política favorecido pelo fenômeno das fake news ao redor do mundo, mas que tem particularidades no país europeu. À medida que se aproximam eleições cruciais em 2018, a Itália tem se tornado terreno fértil para a disseminação de mentiras -frustrada com a economia, descontente com a crise de refugiados e sendo alimentada por uma mídia parcial, a população parece valer-se de teorias conspiratórias com certa facilidade, segundo o “NYT”.
É desse cenário que se aproveitam movimentos insurgentes como o 5 Estrelas. Fundado pelo humorista Beppe Grillo em 2009, o grupo populista tem ganhado destaque na cena política italiana. “Eles acreditam em teorias da conspiração mais que qualquer outro movimento. Não é apenas uma tática, é a visão de mundo que eles propõem”, explica Alessandro Campi, professor de ciência política da Universidade de Perugia.
A iniciativa de capacitação nas escolas surge justamente para preparar os alunos a lidarem com mentiras disseminadas nas redes para uso político usando uma boa dose de ceticismo. “Se as pessoas forem educadas digitalmente, talvez elas não caiam nessas armadilhas”, diz Boldrini.