Diversidade ainda é desafio para as redações brasileiras, sugere debate em congresso
Foi essa a conclusão do debate “Diversidade Racial e de Gênero nas Redações”, promovido pela Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) durante o 12º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, realizado em São Paulo nos dias 29 e 30 de junho e 1º de julho. O encontro foi mediado pela jornalista Paula Martins, da ONG Artigo 19.
Durante a exposição, dados fornecidos por organizações como o Women’s Media Center Report e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) reforçaram a tese de que obstáculos impostos pela desequilíbrio entre os gêneros dificultam a promoção da igualdade, inclusive a chegada a locais de destaque na profissão.
No Brasil, segundo dados da pesquisa Perfil do Jornalista Brasileiro, realizada pela Fenaj e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), apesar das mulheres representarem dois terços dos formandos em jornalismo e 64% das redações, apenas 34,5% delas ganha mais de cinco salários mínimos quando já consolidadas em suas carreiras.
“Atualmente, não temos nenhuma mulher liderando um dos dez maiores jornais de circulação paga do Brasil”, disse Renata Moraes, uma das participantes da mesa, com base em levantamento feito pela Associação Nacional de Jornais (ANJ) e o Instituto Verificador de Circulação (IVC). “Há muitas mulheres nas redações, mas as vozes que tomam grandes decisões são masculinas”, complementa.
Na opinião da CEO e fundadora da Impulso Beta, empresa de estratégia para promoção da diversidade de gênero no mercado de trabalho, isso se dá por conta de hierarquias pré-estabelecidas ou pela dificuldade de entrada em áreas do jornalismo consideradas nobres, comumente dissociadas da figura feminina. Seria o caso de editorias voltadas a política e economia, por exemplo.
Para Cláudia Nonato, professora no programa de mestrado em jornalismo da Fiam-Faam que também integrou a mesa, a onda de pautas sobre diversidade é significativa, mas ainda se mostra muito mais como um produto mercadológico do que um aumento de representatividade ou maior consideração por esses grupos minoritários.
Nonato citou “A Cor dos Apresentadores de TV do Brasil”, pesquisa divulgada na última semana pela revista impressa semestral Vaidapé. Ao analisar a programação paulistana de sete emissoras diferentes, o estudo revelou que somente 3,7% de todos os apresentadores são negros. Desse número, 80% estão em programas de entretenimento, 20% em programas religiosos e nenhum no jornalismo e em áreas consideradas educativas ou infantis.
“Isso significa que, se um dia inteiro de programação fosse composto apenas por negros, eles ficariam no ar por apenas seis minutos”, diz Nonato.
Para ela, essa ausência se reflete diretamente na escolha e condução das pautas. “O que a gente mais ouve falar é sobre racismo, homofobia e violência contra a mulher, abordagens que revelam somente a fragilidade desses grupos. Há também debates que se ampliam em torno de datas comemorativas, mas é sempre um olhar que vem de fora. É bem difícil se sentir representado”, afirmou.