Furos e conteúdo nacionalizado aumentam vendas do ‘Post’, diz colunista do ‘Times’
O “Washington Post” vive uma fase de crescimento. Apesar de não divulgar integralmente seus dados, o “Post” afirma estar em seu terceiro ano seguido de aumento de lucro, com números de publicidade digital na casa dos nove dígitos.
O crescimento, incomum em um período em que o jornalismo no mundo passa por uma severa crise de financiamento, foi acompanhado pela contratação de repórteres e editores, mais do que triplicando o número de funcionários do jornal nos últimos anos.
Em sua coluna no “New York Times”, o jornalista e escritor James B. Stewart fala sobre o fenômeno, explicando inicialmente como o “Post” o atraiu a fazer uma assinatura digital.
“Desde os dias de glória do Watergate, minha necessidade de ler o jornal se perdeu”, afirma. “Mas, por algum tempo, chamadas do ‘Post’ têm aparecido na tela do meu laptop. E eu provavelmente teria achado isso irritante e intrusivo se as notícias não fossem tão interessantes.”
De acordo com Stewart, uma “manchete sensacional” —“Trump revelou informação confidencial a diplomatas russos em encontro no Salão Oval”— acabou chamando a sua atenção. Ao clicar nela, no entanto, o jornal pedia uma assinatura mensal no valor de U$ 0,99 (R$ 3,30). Ele concordou em pagar. “Eu me tornei um assinante pela primeira vez, e o ‘Post’ tinha acabado de monetizar seu furo de reportagem.”
Stewart atribui parte do crescimento a uma série de outros furos recentes que têm abalado a política do país, como reportagens que contradiziam supostas doações de caridade feitas pelo presidente e a revelação da gravação de Trump, na época ainda candidato, fazendo comentários grosseiros sobre mulheres.
“A reportagem investigativa é essencial ao nosso modelo de negócios”, disse o editor do jornal Martin Baron. “Contamos às pessoas o que elas ainda não sabem. Responsabilizamos o governo e os poderosos. Isso não acontece sem apoio financeiro. Estamos em um ponto em que o público está disposto a apoiar esse trabalho pagando por assinaturas.”
Segundo Baron, um dos principais motivos para a mudança foi a compra do jornal pelo empresário Jeff Bezos, que investiu em uma cobertura maior e de escopo nacional.
O chefe do departamento financeiro do jornal, Jed Hartman, diz que o investimento em bom jornalismo investigativo também tem ajudado a elevar o valor da marca e atraído mais patrocinadores.
“Você tem que ter ótima tecnologia e ser bom ao transformar seu conteúdo em dinheiro”, afirma. “O que estamos provando agora é que, se você for ótimo nessas coisas, um ótimo jornalismo também pode ser lucrativo.”