Capa da ‘Time Magazine’ mostra Trump como líder em decadência, diz artigo
O anúncio de Donald Trump como personalidade do ano da “Time Magazine” foi mal interpretado por uma grande parcela do público, segundo artigo de Jake Romm no jornal israelense Haaretz. Ele diz que no século 19 personalidades importantes como Hitler e Stalin também haviam sido reconhecidas como extremamente influentes na capa da revista –o que não significou um apoio da publicação a essas pessoas.
Ao analisar a imagem da capa com o magnata eleito presidente dos EUA, Romm aponta alguns detalhes que, segundo ele, a colocam entre as melhores capas da história da revista.

AS CORES
As cores suaves e macias fazem lembrar o filme Kodachrome, cuja produção foi descontinuada recentemente. Segundo o artigo, o uso do filme, popular entre as décadas de 1930 e 1970, remete diretamente ao período, refletindo algumas das forças que levaram à ascensão de Trump.
“Essa eleição não foi apenas sobre escolhas de políticas regressivas, mas também sobre valores tradicionais, nostalgia pela grandeza dos EUA e segurança, nostalgia por um mundo pré-globalização”, afirma.
A POSE
A imagem faz lembrar a figura de monarcas sentados sobre seus tronos. A diferença é que Trump aparece sentado de costas para o leitor e praticamente no mesmo nível do olhar, ao contrário de fotos que retratam poderosos de baixo, posicionando-os acima do público.
“A virada de Trump em direção à câmera tem um tom conspiratório. Ele parece oferecer ao leitor uma piscadela conivente, como se dissesse ‘veja como enganamos aqueles otários’”. Romm considera que a sombra na parede pode apontar para o espectro de Trump presidente pronto para tomar forma.
A CADEIRA
Trump está sentado no que parece ser uma cadeira do estilo Luís XV, um monarca conhecido por ser mulherengo e cujo reino foi marcado por estagnação, guerras recorrentes e uma crise financeira contínua. Apesar de ser um símbolo de status e riqueza, a cadeira tem um rasgo no estofado, apontando para a imagem rachada do magnata.
“Quando percebemos o rasgo, as manchas na madeira entram em foco, as rachaduras na maquiagem de Trump, seus cabelos finos, a mancha no canto inferior esquerdo do assento –a ilusão de grandeza começa a desmoronar. A capa é menos uma imagem de um homem no poder do que o retrato do congelamento de um líder e seu país em um estado de decadência”, diz o texto.
Todos esses elementos unidos apontariam para um quadro de profunda ansiedade para os próximos anos. “Como fotografia, é uma realização rara. Como capa, funciona como uma declaração”, conclui Romm.