Projeto ‘ACAPA’ atrai leitores nas redes sociais apenas com primeira página
Na edição do dia 29 de agosto de “ACAPA”, o ator Gene Wilder, morto recentemente, aparece com a cabeça apoiada sobre a mão, debaixo do título “Fale-me mais sobre democracia”. “Nem Willy Wonka entenderia a nossa fantástica fábrica de disparates: em 90 anos, apenas cinco presidentes eleitos pelo voto concluíram o mandato”, diz a linha-fina.
Quem tiver interesse em ler a notícia sobre o tema, no entanto, não conseguirá encontrá-la. Definida como “jornal sem jornal” por seu criador, o sócio da Vigia Editora e ex-editor-chefe do “Diário Catarinense”, Edgar Gonçalves, a publicação consiste, como já diz o nome, apenas da capa.
A união entre o meme imortalizado pelo ator de “A Fantástica Fábrica de Chocolate” e o momento político brasileiro dá a tônica do projeto, que, segundo Gonçalves, busca conciliar humor com assuntos sérios. Ele descreve a iniciativa, em funcionamento nas redes sociais desde março deste ano, como “uma síntese visual” dos acontecimentos cotidianos, com um toque de publicidade.
Entre as capas que mais fizeram sucesso com os leitores, está a edição de 10 de maio, que compara a realidade política brasileira atual com o livro de Laurentino Gomes “1889”, sobre a Proclamação da República no país. Outra bem aceita foi a de 24 de junho, que usa o meme da “diferentona” para noticiar a saída do Reino Unido da União Europeia.
Em junho, após o anúncio de que Messi deixaria a seleção argentina, o site aproveitou o espaço para pedir ao jogador que voltasse atrás, já que teria conseguido transformar a Argentina no “maior vice do mundo”, superando “até o Vasco”.
Em seu perfil no Facebook, a publicação se define como “a primeira página que você não vê no jornal que você lê”. “Queríamos fazer algo diferente da grande imprensa”, afirma Gonçalves. “Apesar de o slogan ser uma provocação aos jornais tradicionais, é óbvio que todo mundo bebe da influência deles.”
Os sete jornalistas do “ACAPA” trabalham em diferentes regiões do país e precisam organizar sua disponibilidade diária por meio de grupos de Whatsapp e Facebook, onde a publicação tem 11 mil seguidores.
Para o jornalista, outro aspecto importante do projeto é o senso de humor. “Na nossa formação como jornalistas, a gente se esquece de tentar ser engraçado. O riso não só é bom como ajuda a acompanhar a realidade de maneira mais leve.”